Tentação ( parte LXIV )
 
                                     continuação do capítulo anterior )
 
Jurandir chamou Ubirajara, Pulcena e Maria Rosa e lhes comunicou que no dia seguinte iria buscar a sua namorada Sinhá Moça para lhes apresentar. Diferentemente do que ele imaginara ninguém debochou dele ou o menosprezou, todos queriam conhecer detalhes, como se conheceram, o que ele tinha achado da família, como ela era...
Perguntaram-lhe sobre a fazenda vizinha, sobre a fama de durão do fazendeiro, se as estórias que corriam sobre o feitor eram reais ou exageradas.
Pulcena perguntou de qual comida ela gostava, se ela comia doces ou se era daquelas moças que faziam beicinhos quando lhe ofereciam coisas de que não gostava.
Jurandir contentou a todos com respostas elogiosas sobre  Sinhá Moça e avisou à Maria Rosa que iria levá-la para a Fazenda das Pedras, sob recomendação do senhor  Silveira  para que ficasse  lá com as crianças por uma semana. Que ele cuidaria de levá-la e buscá-la.
 
Quando Silveira chegou na Fazenda São Fernando, procurou pelo proprietário mas soube que ele tinha falecido e que seu sobrinho era quem estava cuidando de tudo, mas havia viajado para o Rio de Janeiro.
Silveira externou seus sentimentos de pesar e seguiu viagem, lembrando-se  com Moacir detalhes da noite anterior, e o quanto estava cansado por não terem dormido quase nada.
Esperavam chegar ao primeiro arraial que existia mais adiante para encontrar um pouso em que lhes fornecessem também banhos. Não demoraram muito a chegar na Curva da Ferradura e encontraram uns italianos que plantavam hortaliças que lhes ofereceram pousada por preço módico. Eles ficaram em quartos separados e quando a filha do italiano chegou com a tina ainda vazia, dizendo que logo que a água estivesse aquecida ela retornaria, ele notou que a moça encarou de modo especial com ele.
Quando ela retornou com a primeira panela de água fervente e novamente encarou-o, Silveira lhe disse:
- Gostaria que alguém me desse uma massagem nas costas... 
Ela sorriu novamente e respondeu, apontando para a aliança dele:
- Sua mulher não vai gostar se lhe der a massagem...
- Ela precisa saber?
Ela novamente sorriu enigmaticamente e não lhe disse mais nada.
Quando ela trouxe a última jarra de água, ela mostrou a aliança dela e lhe disse:
- Mas meu marido não vai gostar...
- Então tudo bem, fica o dito pelo não dito, lhe respondeu Silveira.
Silveira ficou intrigado porque ele não tinha visto  aliança no dedo da moça na primeira vez em que ela entrou no quarto... E imaginou, ela blefou comigo, só deve querer fazer esses jogos de amor...
Quando já tinha acabado de se lavar, ela voltou e disse que iria lhe fazer a massagem.
- Mas e seu marido?
- Ele não vai saber...
- Eu não gosto de trair ninguém.
- Mas está traindo a sua mulher...Continuou a tagarelar e lhe disse:
- Não importa, isso fica como segredo nosso, ninguém precisa saber...
E começou a massageá-lo.
- Menina, qual é o seu nome?
- Gioconda, e o seu?
- Silveira.
- Senhor, me leve contigo... Eu não aguento mais esta vida, sou explorada por minha família, tenho que lavar penicos todos dias, encher as tinas dos clientes... Leve-me com o senhor para o Rio de Janeiro...
- Você sabe ler e escrever, Gioconda?
- Não senhor...
- Se você for para o Rio de Janeiro, você vai ter de ficar lavando penicos lá... É isso que você quer, menina?
- Lá talvez eu encontre alguém que me sustente...
- É uma opção sua, mas eu não vou levá-la comigo, por favor, não precisa mais me dar massagens, vou pagá-la pelo que já fez... O emprego está muito difícil no Rio de Janeiro, tem muita gente desempregada... Porque você não arranja alguém daqui, se casa e tem filhos?  No Rio de Janeiro tem muitos exploradores...
Ela não respondeu, bateu a porta e saiu, Silveira estava cansado e foi dormir.
 
Jurandir foi de charrete buscar Sinhá Moça conhecer sua família e ir junto com ele à Fazenda das Pedras para levar as crianças e Maria Rosa.
Pulcena tinha preparado bolinhos de chuva e café com leite para o lanche, e um pudim de queijo como sobremesa. 
As duas conversaram animadamente e descobriram que a mãe da Sinhá Moça era angolana da mesma vila de Pulcena, que não se lembrou do seu nome mas se a visse com certeza a reconheceria...
Sinhá Moça encantou a todos e foi na viagem conversando com  Maria Rosa como se já fossem íntimas, contando estórias e dando gargalhadas. Lá pelas tantas, Manoel perguntou:
- Jurandir, a Sinhá Moça é sua mulher?
- É quase Manoel, quase... Ela é minha noiva.
- E o que é noiva?
- É a moça que se comprometeu a casar... 
Ele olhou para Sinhá Moça e perguntou:
- Você se comprometeu?
- Eu me comprometi, Manoel.
Eles não ficaram muito tempo na Fazenda  das Pedras porque senão chegariam muito tarde em casa.
Maria Luiza conversou muito com Sinhá e deu os parabéns a ambos pelas escolhas.
Na volta Jurandir parou a charrete debaixo daquele flamboyant florido, desceram, trocaram beijos, abraços e finalmente Jurandir conseguiu segurar os peitinhos da Sinhá, mas quando ela sentiu que as coisas começaram a esquentar, levantou, ajeitou-se, e chamou Jurandir para voltar para a charrete.
 
Silveira e Moacir fizeram um lanche reforçado pela manhã e puseram seus cavalos na estrada. Começaram a conversar e lá pelas tantas, Moacir lhe disse:
- Patrão, sabe a moça que encheu nossas tinas?
- Sei, o que tem?
- Seu nome é Gioconda, ela passou a noite comigo e semana que vem venho buscá-la para levá-la comigo para o Rio de Janeiro...
Silveira atônito não soube o que responder...
                                                     ( continua no próximo capítulo )
 
 
elzio
Enviado por elzio em 27/04/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4261842
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