O Presente Que Não Dei
Teve uma quarta-feira que eu resolvi acordar cedo. Eu acordei cedo pra te procurar e pedir desculpas. Talvez até conseguir uns sorrisos, abraços, beijos. Acordei cedo quarta-feira, peguei meus óculos na cabeceira da cama e fui andando pra cozinha pegar meu café frio. Era cedo demais pra fazer um café novo e eu, estranhamente, gosto de café frio. Não era uma quarta-feira fria, então o café podia ser frio. Logo em seguida banhei-me para tirar a cara de sono que me acompanhava. Após o banho me vesti e fui ao seu encontro sem ter certeza se você queria me ver ou não. Quarta-feira de Sol, tudo brilhando, tudo com mais cor. Meus cabelos, ruivos de natureza, brilhavam em um cobre alaranjado como de costume. Logo quando cheguei perto da sua rua me apareceu o sintoma que já demorava a dar sinal. Minhas pernas tremeram, meu estomago virou e apareceram o que as pessoas chamam de ‘borboletas’. Eu estava suando igual a um porco, nervoso, parado. Parado no meio da rua sem saber se dava mais um passo ou não em direção a sua casa.
Me decidi, sabia que não ia conseguir falar uma palavra com você. Sabia que não ia conseguir pedir desculpas e nem conseguir um abraço, sequer um sorriso, quem dirá um beijo! Virei-me e comecei a fazer o percurso contrário, deparei-me com algo que havia passado despercebido: Uma rosa – Que era vermelha, mas não pensei muito sobre isso. Não conseguia pensar em nada, só no deslumbre que a rosa proporcionou-me. Fazendo o caminho da vergonha, de volta a minha solidão, eu me deparo com uma coisa dessas. A rosa se destacava das outras de mais, brilhava com mais força e havia gotas de orvalho em meio as suas pétalas. Cheguei perto, senti seu cheiro e não pensei para arranca-la. Sempre fui egoísta, não queria dividir tamanha beleza com ninguém. Ou até poderia dividir, mas só com você… Eureca! Esse seria o intermédio, seria o agente pacificador, a minha motivação. A rosa ia servir pra soltar minha língua, fazer minhas pernas pararem de tremer e eu parar de suar. Entretanto, no mesmo instante em que me passou essa ideia, me veio também a sua cara de desaprovação – aquela cara que só você conseguia fazer. Romantismo nunca foi de sua admiração, ainda mais na situação em que nós estávamos. Provavelmente você iria despedaçar a rosa na minha frente e depois usar seus espinhos para tentar me ferir juntamente com suas palavras. Eu te conheço, sei que não iria gostar de uma coisa como essa. Resolvi levar a rosa pra casa como forma de lembrança. Lembrança da minha covardia e insegurança. Assim, toda vez que eu visse a rosa ficando mais e mais desbotada e sem cheiro, ia lembrar que nessa quarta-feira de Sol, eu falhei comigo, com você e principalmente, com Nós.