Tentação ( parte LX )
 
                                      ( continuação do capítulo anterior)
 
A tropa e as carroças retornaram ao Rio de Janeiro e Moacir que tinha de fazer algumas visitas ainda, resolveu fazer uma esticada até a Fazenda da Solidão. Chegou exatamente na hora em que a charrete com Silveira, as crianças e Maria Rosa estavam apontando na porteira. A cachorrada veio dar as boas vindas e anunciar para o pessoal da casa que tinham visitantes. Logo em seguida chegaram Pulcena e Machadão que estavam em casa. Jurandir e Ubirajara estavam na lavoura.
Silveira saudou Moacir:
- Que bom que você veio, estou ansioso por saber das novidades...
- E tenho muitas !
Maria Rosa abraçou-se ao tio, desde pequena que era aquele o tio preferido, ele sempre lhe dera muita atenção, queria sempre saber como ela estava, elogiava suas roupas, prestava apoio nas horas de dificuldades.
E foi abraçado à ela que ele disse:
- Não precisa se preocupar com aquele incidente do fazendeiro abusado, Maria Rosa, apareceu por lá um detetive da polícia, procurando por uma mulher morena, entre vinte e trinta anos de idade, mas não sabia o seu nome, pedimos para o doutor Raimundo verificar na delegacia o que havia de fato contra você. Ele voltou dizendo que não havia nada que a incriminasse, o autor não sabia o seu nome e até o endereço da firma estava errado... Você não precisa se preocupar, quem tem que se preocupar é ele, por ter invadido uma empresa de madrugada. Ele ficou como suspeito de querer roubar o estabelecimento. Nada como um bom advogado!
- E as vendas, Moacir?
- Estão de vento em popa... Agora acrescentamos mais um item nas nossas vendas, arame farpado...
- E o que é isso?
 A última invenção dos americanos, um fio metálico trançado, muito resistente que tem uns grampos intercalados que arranham os animais que tentam ultrapassá-lo e que serve para cercar e demarcar as propriedades.
- E os animais ficam isolados, não conseguem sair?
- Isso mesmo...
- Esse produto é maravilhoso... E é muito caro?
Rindo, Moacir lhe respondeu:
- Para o senhor faço um precinho especial... Fizemos a primeira entrega ontem, mas a outra novidade é que Ubiratan fez seu depoimento na Câmara.
- Isso nós sabíamos pelo jornal.
- E tem mais, ele agora frequenta um grupo de poesias, já está falando até em frequentar uma academia de letras...
- Que chique!
 
Jurandir foi para a ilha procurar Sinhá Moça, esperou por mais de uma hora e quando já estava para desistir, ouviu a sua voz:
- Espere, Jurandir!
- Sinhá... Pensei que não viesse... Aquilo que aconteceu foi muito desagradável, eu fiquei muito chateado, quase nem dormi de tanta preocupação. Imagino que o senhor Eugênio vai proibir a minha ida até lá... 
- Não se preocupe, Jurandir, ele não vai saber porque nem o capataz nem o capitão do mato gostam daquele rapaz... Ele é uma fonte de problemas, bebe e faz arruaças, todo mundo gostou do que você fez, era o que qualquer um queria fazer mas tinha medo das consequências... Muita gente veio me dar os parabéns, me disseram que encontrei um homem corajoso que vai saber me proteger...
- Mas fico imaginando, essa gente é covarde, é capaz dele querer armar alguma emboscada para mim, normalmente essa gente anda em grupos, em corriolas... 
- Depois que você deu aquele rabo de arraia nele, ninguém mais vai querer se meter com você...
- Não Sinhá, o golpe que apliquei foi o da bênção, ele ficou abençoado! No rabo de arraia ginga-se colocando a mão no chão, ora a esquerda, ora a direita, e atinge-se o oponente, mas com o corpo abaixado.Quer dizer que você acha que não tem problemas em voltar?
- Não tem problema algum, só as crianças é que vão lhe assediar para que você ensine capoeira para eles.
- Então você pode coordenar isso que vou começar a dar aulas, é uma coisa que gosto de fazer...
 
Naquela noite, já tarde, Silveira recebeu uma visita em seu quarto, mas ele se recusou a receber a visita ali, foi para o quarto de hóspedes, levou-a de mãos dadas.
Foi uma noite especial, ele estava feliz consigo mesmo por ter tomado uma decisão sábia e ela contente por querer fazê-lo ainda mais feliz. 
Nessa noite Silveira teve a certeza de que os encontros com Maria Rosa não lhe perturbavam a consciência, porque era um ato desejado pelos dois, não havia submissão nem domínio... Enquanto estava com ela, ele não pensava em mais nada e em ninguém, nem mesmo em Ana Luiza. Estava sob o domínio do desejo, seria isso o amor?
                                                                        ( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 23/04/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4254889
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