Tentação ( parte LIX )
( Continuação do capítulo anterior )
Naquela noite Jurandir custou muito a dormir, ficou virando na cama, a cena da agressão não saia da sua cabeça, por mais que quisesse vinha outra vez em sua mente o rapaz com voz embriagada ofendendo-o.
Será que ele tinha sido algum namorado de Sinhá Moça que tinha sido preterido por ela? Ou teria sido simplesmente o efeito do álcool? De um modo ou de outro aquilo mexeu muito com ele.
Ficou questionando o que Sinhá Moça pensava daquela situação, será que ela poderia imaginar que ele fosse um homem agressivo, que não conseguia dominar seus ímpetos?
Paralelamente o fato deveria ter ido ao conhecimento do senhor Eugênio, como ele iria se posicionar diante da situação?
Será que Sinhá Moça ainda iria querer se encontrar com ele?
Todos esses questionamentos passaram pela sua cabeça, e agora, mesmo que tudo tivesse resolvido ele não se sentiria em segurança, tendo que morar lá na casa de Sinhá Moça...
Esse pessoal, ele sabia, se reunia em grupinhos, eram covardes, quando ele menos esperasse podiam armar uma emboscada... Será que valia continuar namorando a Sinhá Moça depois desse incidente? Ou será que ela desistiria do namoro, afinal ela devia sofrer pressões dos conhecidos...
Mergulhado em dúvidas Jurandir dormiu, na esperança de tudo se apaziguar no dia seguinte.
Silveira voltava para casa trazendo as crianças e Maria Rosa. Ele também fora questionado por Ana Luiza sobre a sua posição pró abolicionista.
- Veja, minha esposa, tenho pensado muito sobre o tema e tenho a absoluta certeza da grande dificuldade que teria para recuperar a minha empresa, se não tivesse o apoio dos escravos. Se não fossem eles, provavelmente estaria falido, nem a fazenda nós teríamos.
Por outro lado, acredito que a índole do brasileiro, se houver a abolição, os escravos poderão ser integrados à sociedade com muito boa aceitação, será diferente da situação americana, lá eles fizeram uma guerra, houve radicalização, contra os negros, criaram a Ku Klux Klan que é uma organização extremamente violenta, incendeiam os negros, são por demais radicais... Se continuarmos a fazer essas leis que não são cumpridas pelos senhores, como a do Ventre Livre, dentro de algum tempo teremos também a radicalização, só que ao contrário, os negros incendiando os senhores...
É por isso, minha esposa que resolvi tomar posição, realmente me conscientizei que o melhor é a abolição da escravatura, escravatura que nunca deveria ter existido.
Silveira estava se lembrando dessa conversa que tinha tido na noite anterior, quando passaram numa depressão da estrada, a charrete deu um solavanco, Maria Rosa segurou Manoel que estava na lateral do assento e debruçou-se sobre Silveira...
- Cuidado, patrão, vamos mais devagar porque as crianças estão soltas!
- Você tem razão Maria Rosa.
Mas a aproximação do corpo de Maria Rosa, seu ombro caindo sobre o colo de Silveira, despertou nele seu desejo de juntar sua coxa na dela. Antonio João dormira no piso da charrete e Manoel também começava a cochilar. Silveira parou a charrete debaixo de uma árvore, ajeitou um colchonete no chão da charrete e as duas crianças ficaram dormindo.
Aproveitando a parada para um descanso, Maria Rosa perguntou:
- Patrãozinho, o senhor é mesmo abolicionista ou estava blefando, só para contrariar o senhor Adalberto?
- Eu me conscientizei que a abolição é o melhor para todos. O progresso da nação deve muito à vinda do negro para o Brasil, o mais justo é integrá-lo como cidadão, na sua plenitude.
- Cada vez mais admiro o senhor, patrãozinho... E aninhou-se no colo de Silveira que retribuiu com carinhos, até a hora de partirem novamente.
( continua no próximo capítulo )