Através do Tempo
Quando menino, pensar em somente dez dias, para ele era o mesmo que pensar em uma eternidade. Aguardar tanto – em sua cabeça – era inimaginável; inalcançável, como se nunca fosse chegar. Quando queria algo, tinha que ser de imediato. Esperar era uma palavra que não existia em seu ainda pequeno dicionário; e a paciência, então? Talvez ele não soubesse, ou não imaginasse, o quanto tê-la é importante; o quanto a vida exige que a tenhamos.
Mas tudo bem, falo de uma criança que conhecia muito pouco da vida, embora possuísse uma inteligência maior se comparada às crianças de sua idade, à época citada. Mesmo com uma já significativa impaciência e, uma nítida aversão à espera, apesar de sua dificuldade em se socializar tão rapidamente, ele sempre fora uma criança admirada por seus professores e amigos mais próximos. Além de impaciente, esse era um menino um tanto quanto tímido e retraído; alguém de quem, conseguir uma abertura que fosse, era algo que exigia certo tempo.
O tempo passou, o menino cresceu. De forma para ele assustadoramente rápida demais, mais de cinco mil dias já haviam sido deixados para trás; além de amigos, lugares e momentos para ele especiais.
Hoje, no auge de sua juventude, certo número chama muito sua atenção (ele sempre gostara dos números, sendo a Matemática sua disciplina favorita quando ainda guri): 1095. Muitos, ao lerem, podem se perguntar o porquê desse número. Para ele é muito simples de responder. Tratava-se do numeral equivalente aos dias dos últimos três anos; aqueles que sucederam o dia mais feliz de sua vida. O dia em que ele conhecera o amor. Mas não qualquer amor! Era um amor gratuito, incondicional; que nada exigia ou pedia em troca. Nem mesmo a retribuição, uma vez que ele já não mais dividia esse sentimento com aquele ser responsável pelo despertar do sentimento mais nobre que ele já conhecera. Aquele que contribuiu para que ele se tornasse alguém paranoico, ainda mais depressivo do que quando era somente aquele menino que, com certo brilho no olhar, pouco conhecia da malícia das pessoas que nos rondam, nos cercam e, de alguma maneira, nos devoram e devoram-se entre si. Aquele que contribuíra para que esse "menino" se transformasse em alguém mais medroso, desconfiado e – para ser bem sincero – covarde também; algo que ele não gostaria que acontecesse, mas que já era mais forte. Tão forte quanto o sentimento que ele já sabia, sem ser preciso seus amigos mais próximos dizerem, deveria morrer. Ele detinha a mais absoluta ciência do destino que deveria dar àquele amor. Apenas não sabia como. Como matar o sentimento que fizera dele alguém mais vivo. Como destruir aquilo que, com muita dificuldade, apesar de todos os pesares, ele conseguira construir.
Mesmo sabendo de suas limitações e restrições, o que o cansava a todo instante eram todos os julgamentos que, tal qual um tiroteio, chegavam por todos os lados, oriundos de todas as direções; principalmente de pessoas que acreditavam conhecê-lo, sem saber de 1% de sua vida. O que o esgotava ainda mais era ter que tentar, toda vez que se propunha a falar de tal história, justificar os seus motivos; o porquê disso, o porquê daquilo. Por vezes, ele mesmo se sentia constrangido por não conseguir evitar falar a respeito. Quando obtinha êxito (em esconder) mergulhava numa profunda tristeza, na qual tentava – sem sucesso, claro – voltar no tempo e encontrar a raiz daquele sentimento. Já fazia tanto tempo! Não poderia ser mais possível alguém se culpar tanto, se autodestruir como há tempos ele vinha fazendo; amando daquela maneira destrutiva. Ainda assim ele sabia; bastava encontrar a raiz daquele imenso "problema", cortá-la definitivamente e, talvez, ele voltasse a ser – não mais aquele menino inocente com todo aquele brilho no olhar – o homem feliz que ele acreditava ter sido enquanto tinha ao seu lado, mesmo que de um jeito torto, quem proporcionou tais momentos, mesmo sem obter sucesso absoluto. Felicidade, ao seu ver, era feita de momentos. E naquele ponto de sua vida, o que ele mais queria, era encontrar quem fosse capaz de multiplicar esses momentos, ajudando a tirar de sua mente o que insistia em se manter em seu coração.