Tentação ( parte LV )
( continuação do capítulo anterior )
Maria Rosa esperava voltar com as crianças e Silveira, e ficou surpresa com a notícia de que teria de ficar. As crianças estavam sempre procurando nova forma de brincar e passaram a procurar ninhos de galinhas. Encontraram algumas galinhas que estavam chocando,mas com alguns pintinhos já nascidos à sua volta, e Maria Rosa mostrou para eles que as galinhas defendem as suas crias com bicadas e que poderiam feri-los.
Ela se dedicava integralmente às crianças, quando não estava participando das suas brincadeiras, preparava as suas comidas e roupas. Sob esse aspecto Ana Luiza ficava descansada, sabia que ela cuidava com zelo e carinho dos garotos.
Às vezes Ana Luiza se senti enciumada, os garotos ficavam mais tempo com Maria Rosa do que com ela, mas ela bem sabia que não podia dar mais atenção para eles, não podia ficar descendo ou subindo escadas, fazendo esforços para acompanhar as suas brincadeiras. Essa fora uma recomendação que lhe fizera o médico, não podia fazer esforços para evitar que o problema se desencadeasse.
Na hora certa Maria Rosa levava os meninos para dar os remédios para a mamãe, era quando eles ficavam brincando à sua volta.
Numa dessas vezes Maria Rosa ouviu o senhor Adalberto resmungar dizendo não saber porque seu genro não tinha levado essa negra de volta...
Ana Luiza também ouviu e tomou as dores de Maria Rosa, chamou sua mãe e informou-lhe de que não tinha gostado do que ouvira e de que sua vontade era voltar para sua casa. Dona Augusta contemporizou a situação, pediu que ela ficasse, não tomasse medidas extremadas, mesmo porque era a sua vida que estava em risco, e que ela falaria com o marido para que esse fato não mais se repetisse.
Daquele momento em diante Ana Luiza passou a dedicar muito mais tempo às crianças e a Maria Rosa. Conversava com Maria Rosa sobre tudo o que poderia afetar às crianças, e não ficava mais horas seguidas tricotando junto com sua mãe , dando atenção à avó ou conversando com o pai.
Aquela aproximação foi boa para ambas que viviam momentos de solidão e uma passou a admirar mais à outra,sempre em função da dedicação que ambas tinham pelas crianças e aos cuidados que Maria Rosa mantinha em relação aos horários pontuais dos medicamentos de Ana Luiza.
O senhor Adalberto também não voltou mais a ofender Maria Rosa e ela, prudentemente evitava a passar perto dele, a impressão que se tinha é que havia uma divisão territorial em que um não entrava na área do outro.
Silveira, desde quando da abertura do canal. havia mandado fazer uma enorme roda hidráulica, uma engenhosidade de carpintaria e mecânica, e que não fora instalada na época porque ele havia dado preferência à instalação do carneiro hidráulico para fornecimento de água para a Casa Grande. Como o canal de abastecimento de água já estava feito, ele planejou aproveitar uma depressão no terreno para instalar a roda, aproveitando aquele desnível natural.
Chamou os dois especialistas que tinham feito a roda para que eles a instalassem, eles prepararam uma base feita com lajotas de pedras, , uma colocada sobre a outra e ligadas por argamassa.
Assim feito, os técnicos instalaram perfeitamente niveladas, de forma paralelas, os dois mancais onde seria assentado o eixo da roda.
Com o auxílio de uma junta de bois, deslizaram a enorme peça de madeira até o local onde tinham preparado a base e com o auxílio de cordas, os técnicos colocaram e encaixaram o eixo sobre os mancais. Depois de muitos ajustes para que ela ficasse em perfeito equilíbrio, a roda girou livremente.
No eixo, uma engrenagem mecânica transmitia os movimentos de rotação da roda para uma enorme roda de pedra que girava sobre uma mesa fixa, também de pedra e que ficavam a uma distância mínima e regulável, uma da outra. O produto a ser moído era direcionado para cair entre essa duas pedras, uma fixa e outra móvel, que atritado entre as pedras se tornava um fino pó.
Depois dessa fase, só faltava mesmo era direcionar o fluxo de água do canal para movimentar a grande roda de madeira. Os técnicos regularam o fluxo de água para que a roda girasse na velocidade certa, fazendo várias correções até que o moinho finalmente ficasse pronto. Foram quatro dias de trabalhos intensos, mas conseguiram, e então Silveira mandou buscar um saco de milho que foi colocado aos poucos na boca da moenda e lá no outro lado começou a se acumular o fubá...
A partir daquele dia a Fazenda da Solidão não vendia mais o milho, só vendia o fubá, cujo preço era muito mais valorizado.
Naquela noite, cansado, tomou um banho e foi dormir, mas estava ainda excitado pelo resultado do trabalho que tinha realizado e pela sua ida no dia seguinte à Fazenda das Pedras onde visitaria Ana Luiza e buscaria as crianças e Maria Rosa.
Dormiu preocupado, porque antes de sair, teria que providenciar a separação de uma leitoa e um garrote que seriam doados para a quermesse da paróquia e a necessidade de comprar mais milho para fabricação de fubá para que fosse calculado o rendimento do moinho, cuidando para que fossem pesados antes, o milho e depois o fubá.
Finalmente dormiu e teve pesadelos com Ana Luiza e Maria Rosa. Acordou muito preocupado, seria algum aviso?
( continua no próximo capítulo )