VIDA VIVIDA

Cleide acordou cedo. Foi até o jardim, molhou as plantas e conversou com os passarinhos. Depois, passeou pelo quintal, sorriu para as arvores e cantou para o sol. Em seguida, tomou banho, vestiu uma roupa especial e esperou.

Uma hora depois, viu quando o carro de Augusto, o filho mais velho, parou no seu portão. Lentamente, levantou, pegou a pequena mala e foi ao encontro dele. Ao chegar ao portão, não resistiu e voltou seu olhar para a casa em que viveu nos últimos sessenta e três anos. Sentiu como se os pássaros, os insetos e as plantas, retribuíssem o adeus. Sorriu entre lágrimas.

Quando olhou de volta, o filho a esperava com a porta do carro aberta:

- Mãe, ainda há tempo...

- Vamos meu filho... Pelo menos estou tentando viver. – Respondeu com a consciência que dificilmente voltaria do procedimento cirúrgico para retirada de um tumor.

- Mãe, por favor...

- Vamos filho. Fique calmo e respeite a minha vontade. Olhe pra mim, só tenho a agradecer. Deus me deu seu pai, vocês, meus netos. Vivi. Sonhei. Amei. Sofri e aqui estou. Tentando mais alguns anos, mas se não for assim, vou partir feliz – Retrucou, passando as mãos no rosto molhado de Augusto, que finalmente concordou com a decisão da mãe, que ainda sorria para vida.