Tentação ( parte LII )
                         
 ( continuação do capítulo anterior )

Marcos entra de folga e resolveu procurar Maria Rosa, mas encontrou Moacir e Ubiratan que estavam na firma juntamente com Jerônimo. Deu notícias de Mário que ainda continuava num posto avançado como telegrafista e que mandava diariamente notícias terríveis da frente de batalha, citando as perdas brasileiras que já passavam de trinta mil soldados, sendo a maioria escravos. Marcos agora estava com uma visão de vida completamente diferente daquele menino que saíra da fazenda, convocado para a guerra. Pregava ser melhor morrer na frente de batalha do que voltar mutilado, com a falta de uma perna ou braço, sendo obrigado a viver da caridade pública, tornando-se mais um mendigo a esmolar na esquina. Dizia que a guerra estava criando uma população de mutilados, um peso morto para a sociedade. A guerra não o estava transformando num agente da paz, mas num inconformado social.
Seu tio Ubiratan quis argumentar de que a guerra é uma última solução, como se fosse um mal necessário, mas ele contra argumentava:
- Quem provoca a guerra, meu tio, não vai para a frente de batalha, os outros é que morrem defendendo causas alheias, direitos que nunca irão usufruir...
Na semana passada o Conde D'Eu foi mandar um telegrama para o Duque de Caxias, e ficou pessoalmente lá postado, esperando a resposta do Duque... Ele é um grande homem, quer ir pessoalmente ao Paraguai para ver como está a situação...
Ubiratan acenou para ele a possibilidade de seu aproveitamento e do Mário, em trabalhos na firma, tão logo a guerra findasse, e Marcos ficou entusiasmado com a ideia.

Silveira chegou acompanhado pelas crianças e por Maria Rosa na Fazenda das Pedras. Ana Luiza estava na sala juntamente com a mãe , ambas tricotando, enquanto o senhor Adalberto estava vistoriando a propriedade e provavelmente ainda demoraria.
- Vem cá, meus queridinhos, como vocês estão bonitos, queimadinhos de sol...
- Eles só querem brincar na frente da casa, dona Ana, não adianta colocar as blusas que eles tiram, disse Maria Rosa.
- Você agora também está mais moreninha, os ares da fazenda estão fazendo bem para você, Maria Rosa... Quando veio do Rio de Janeiro, chegou tão pálida, parecia até que o sol não chegava lá...
Silveira abraçou ternamente Ana Luiza e perguntou se o doutor estava vindo sempre para medir sua pressão.
- Ele vem sempre, mas nunca diz nada sobre a minha pressão, só me aconselha a não fazer esforço e diminuir o sal. Ele é um bom homem...
As crianças nem bem chegaram e foram para o pomar. O pomar da fazenda dos avós era muito bem formado, com muitas fruteiras carregadas, as crianças faziam a festa...

Jerônimo estava no balcão da importadora, quando chegou uma pessoa, não parecia tratar-se de um freguês.
- O que deseja, senhor?
- O senhor é o responsável?
- No momento sim.
- Sou o detetive Cabral, da delegacia de polícia e estou procurando uma jovem que trabalha aqui.
- Senhor, eu trabalho aqui há três meses e não conheci nenhuma jovem que tenha trabalhado no estabelecimento nesse período. O senhor pelo menos tem o nome dela?
- Não, só tenho a descrição dela, diz ser jovem, mais de vinte anos e menos de trinta, de boa aparência, morena de cabelos lisos e que era proprietária de um cão negro da raça fila, que mais parece uma fera.
- Infelizmente é uma descrição muito vaga, senhor Cabral, e como sou novato aqui não posso informá-lo, mas posso saber de que essa jovem é acusada para me informar junto ao meu gerente e saber que jovem é essa?
- Há uma queixa na delegacia de que uma jovem desse estabelecimento açulou o animal contra o queixoso, que foi parar no hospital...
- Como já disse, senhor, não conheci nenhuma pessoa que tenha trabalhado aqui antes de mim, mas me prontifico a falar com o meu gerente sobre o caso. Por favor, deixe o seu nome e o endereço da delegacia, que ele o procurará.
E o detetive saiu, olhando para o interior da casa e a lateral do prédio e quando tocou no portão lateral, Furacão latiu.

                                                    (continua no próximo capítulo)
elzio
Enviado por elzio em 15/04/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4241582
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