Nasce o amor.
Ela havia chorado bastante naquela manhã. Se branquinha fosse teria virado um pimentãozinho. Mas devido à cor morena ficou apenas com uma cara leve de sono. Bateram à porta. Ela sabia quem era. Usava seu vestido branco que ele dizia gostar. Enxugou o rosto, deu uma olhada rápida no espelho e ensaiou um sorriso muxoxo. Correu pelo apartamento que não era lá tão grande e abriu o porta para ele. Abraçaram-se forte e ela concentrou para não voltar a chorar novamente. Eles iriam se separar por um maior período de tempo pela primeira vez. Ela não queria ir e ele não queria que ela fosse, só que isso não mudava o fato de que sim, ela iria. Ao notar seu rostinho inchado perguntou se estava com sono, ela declarou que havia chorado e ele foi fofo. Ela precisava pagar uma conta no banco e não queria ir só. E como poderia pensar em ir só se poderia ter a sua doce e amável companhia? O banco era perto de sua casa, foram caminhando lentamente, aproveitando as últimas horas que tinham um com o outro. Adentraram no banco. coletaram uma senha e se sentaram em cadeiras azuis não muito confortáveis. Ele encontrou uma amiga lá. Amiga, não. Amiga era ela. Ele encontrou uma menina lá. Pronto, melhor assim. Se falaram rapidamente e a guria se afastou. Logo depois algo engraçado aconteceu. Por um motivo desconhecido uma moça entregou a eles sua senha com a justificativa que a dela chegaria mais rápido. Eles não entenderam, mas a aceitaram de muito bom grado. E depois veio outra e mais outra moça oferecendo uma nova e cada vez mais próxima senha. Foram atendidos rapidamente e ficaram sem compreender o motivo de tanta gentileza. Sentaram-se nos bancos verdes de uma pracinha que ficava ao lado do banco. Tentavam pensar em formas desesperadas para impedir que o destino os separasse e não tendo encontrado nenhuma solução válida deixaram a tristeza se instalar por alguns minutos. Ele olhou o relógio e constatando como o tempo havia passado rápido avisou a ela que estava na hora. Voltaram para a casa dela. Ele se deitou no sofá enquanto ela fora tomar banho. Ao sair do banheiro, enquanto fechava a primeira gaveta do armário de cozinha, ela notou que ele dormia e achou graça. Não perdeu a chance de tirar uma foto. A foto que ela olharia logo após a decolagem do avião. Depois de pronta, acordo-o. Depois fez o que já havia planejado há dias. Entregou a ele seu travesseiro, para que ele se lembrasse dela e disse que o queria quando retornasse, é claro. Ele pareceu ter gostado. E gostou, de fato. O interfone tocou avisando que o táxi já a esperava lá embaixo. Eles desceram as malas e ficaram de frente a frente um para o outro, ao lado do táxi. Abraçaram-se e deram um até logo. Ela entrou no carro e gritou para ele um "juízooo" enquanto ele se afastava de seus olhos segurando o travesseiro branco a baixo do braço. E aí nasceu o amor. Ou talvez, ele já estivesse nascido há muito muito tempo.