Tentação ( parte XLIX )
 
                                         ( continuação do capítulo anterior )
 
Silveira chamou Jurandir, mandou que ele selasse seus dois melhores cavalos e que se aprontasse com a roupa da missa, porque os dois iriam à fazenda vizinha, do senhor Eugênio.
Assim foi feito e quando lá chegaram foram anunciados pela cachorrada e em pouco tempo muita gente já observava os forasteiros. Entre eles a menina Sinhá Moça.
- O que esse maluco desse negrinho terá vindo fazer aqui, junto com o seu senhor?
Foi recebido por dona Hortência que fez questão que entrassem e esperassem na sala principal para esperar seu marido senhor Eugênio que ainda não tinha retornado da eira onde fora inspecionar a secagem do café. Eles esperavam no dia seguinte poder começar a ensacar o café já seco, apreensivos por uma possível chuva que poderia ocorrer ainda naquela semana. 
Enquanto  esperavam, uma menina lhes serviu copos de limonada, pela incrível semelhança, Jurandir supôs ser irmã de Sinhá Moça. 
Não demorou muito e o fazendeiro, homem alto, forte e pisar duro, que ressoava na madeira do assoalho, entrou na sala cumprimentando com gestos largos a Silveira.
- Quanto prazer, meu vizinho Silveira, que ares o trazem para aqui, que nos fazem tão felizes? Como está Don'Ana?
- Don'Ana está grávida e como teve de ir ao médico e se submeter a um controle periódico de pressão, teve de ficar na fazenda do pai, por ser mais perto do doutor Darci.
- É o terceiro filho, pois não, senhor Silveira?
- Sim, é o terceiro... Eu estive meio afastado, no Rio de Janeiro, para cuidar dos meus negócios e voltei com uma novidade... O meu escravo, Jurandir, e fez um gesto apontando para o lado, que é uma ótima pessoa, que sabe ler e escrever, o que é raro, não é senhor Eugênio, gostou muito da sua negrinha Sinhá Moça... E eu estou, em nome dele, pedindo a sua permissão para que ele possa namorar a menina...
- Hortênsia! Chamou Eugênio com a sua voz de tenor. chame a Sinhá Moça aqui, quero a senhora também presente.
Em poucos minutos apareceu Sinhá Moça, metida num vestido beje e blusa branca, com tamancos também brancos, como se estivesse vestida para uma festa. 
O senhor Eugênio olhou para ela de alto a baixo e perguntou-lhe:
- Como vocês se conheceram, Sinhá?
- Ele estava capinando lá perto do rio, eu tinha ido lavar roupa, ele me viu, perguntou meu nome e quis saber se poderia me conhecer melhor, eu lhe disse que só se fosse com a permissão do senhor.
- Fez muito bem, gostei do seu comportamento, menina, você sabe que não permito encontros escondidos...  Você já falou com seus pais?
- Ainda não...
- Então vá lá e chame  os dois.
Junto com os pais chegaram também os irmãos de Sinhá Moça, eram cinco, duas meninas e três rapazes. 
- Convoquei vocês aqui, porque estou permitindo que o rapaz... qual é mesmo o nome dele, Silveira?
- Jurandir...
- ... Jurandir, frequente a nossa fazenda para namorar a Sinhá Moça. Aproveito para avisar aos dois que aqui é uma casa de respeito e quero que se respeitem até o casamento, estamos entendidos?
- Jurandir e Sinhá Moça, muito sem graças, responderam em uníssono:
- Sim senhor!
 
 Os escravagistas, deputados defensores da permanência da escravidão, financiados pelos ricos fazendeiros, donos dos cafezais e canaviais, que usavam a mão de obra escrava em abundância  que compareceram ao depoimento de  escravo Ubiratan e estavam prontos para refutar toda e qualquer argumentação que não fosse a favor da escravidão, foram apanhados de surpresa, nunca esperavam uma manifestação daquele teor e no final, também aplaudiram a condessa, e por extensão também ao escravo Ubiratan...
No dia seguinte, na Folha da Tarde, José do Patrocínio estampou:
ESCRAVO POLIGLOTA RECEBE APLAUSOS NA CÂMARA.
E dentro do artigo, dizia:
Escravo poliglota, aluno da Condessa da Piedade é aplaudido, juntamente com ela, depois de discursar na Câmara. Os escravagistas, rendendo-se às evidências, aplaudiram de pé ao escravo Ubiratan, depois de seu eloquente discurso.
Em poucos dias Ubiratan e a própria condessa passaram a frequentar o reduto dos artistas e poetas favoráveis à causa abolicionista.
 
Jurandir foi para a varanda e despediu-se de Sinhá Moça marcando novo encontro para o dia seguinte, e ele lhe disse:
- Agora acabou-se a estória da senhora me mandar ficar na minha pedra, temos que encontrar uma pedra maior para nós dois. Despediram-se com um expressivo aperto de mãos.
Na volta, Jurandir mais falante, agradeceu a Silveira a sua intervenção e Silveira, rindo, lhe propôs:
- Quando tiver que pedir a mão de Sinhá Moça em casamento, eu vou lá outra vez lhe dar uma mãozinha... Aliás, Jurandir, você teve muito bom gosto, a moça é bonita e simpática...
Jurandir agradeceu e aceitou a ajuda de bom grado.
À noite Maria Rosa foi ao quarto de Silveira cheia de curiosidade para saber porque Jurandir tinha saído todo bem arrumadinho com ele, mas Silveira cumpriu a promessa, disse que tinham ido à fazenda do vizinho saber detalhes do plantio de bananeiras, ela riu e fez que acreditou...
Foram para o quarto de hóspedes, Maria Rosa toda provocante com uma camisola branca, transparente sobre o corpo nu, abraçou-se a Silveira cobrindo-o de beijos de cima a baixo. Novamente ele rendeu-se à tentação.
                                                       (continua no próximo capítulo)  
 
elzio
Enviado por elzio em 12/04/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4236473
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