Tentação ( parte XLVII )
( continuação do capítulo anterior )
Ubiratan estava assoberbado de trabalho, era um só para tantas coisas a fazer, haviam chegado as mercadorias, todas elas tinham que ser lançadas no livro apropriado, conforme o número da nota fiscal, era uma exigência contábil. Também tinham que ser colocadas as peças nos seus devidos lugares.
As notas de vendas estavam se acumulando sem o correspondente lançamento no livro caixa, se aparecesse o fiscal isso seria motivo para uma multa, pois ele poderia imaginar que a firma sonegava as vendas, fazendo uso de caixa dois.
Havia trabalhado até altas horas e não tinha conseguido por tudo em ordem, era coisa que ele tinha de fazer, não podia delegar para o Jerônimo porque por maior boa vontade que tivesse, ele não conseguiria, porque mal sabia ler.
Moacir e os outros vendedores também estavam com seus tempos tomados ...
Isso era ótimo, pensou, estamos com muito trabalho, mas no caminho certo. No momento em que estava pensando nisso, chegou o doutor Raimundo pedindo que ele se preparasse para fazer seu depoimento na Câmara, prevenindo-o no entanto, que lá na Comissão de Estudos para a Abolição, os abolicionistas não tinham maioria, os fazendeiros partidários da escravatura, eram muito atuantes, ricos e poderosos e não mediam dinheiro para que os deputados apoiassem a causa. Eles teriam que ter uma boa estratégia porque senão seriam massacrados pelo radicalismo do grupo.
Conversaram durante muitos minutos analisando a forma pela qual poderiam impactar o trabalho da comissão, sem sofrer as pressões que doutor Raimundo previa.
Silveira estava triste por ter que deixar Ana Luiza na casa do seu sogro, mas não via outra solução, porque não podia se afastar por muito tempo e também deixar as crianças sem pai nem mãe presentes.
Ficou de voltar e trazer as crianças no final de semana para que ela não ficasse tão saudosa.
Explicou para o senhor Adalberto que não poderia ficar direto lá com as crianças porque ele tinha muitas coisas a fazer na fazenda, não podia deixar tudo na mão de Machadão e dos escravos... E contou-lhe, que quando voltou de viagem, uns dias antes tinha acontecido um fato em que ele acreditava se estivesse presente teria evitado. Uma vaca tinha morrido de parto por falta de iniciativa e providências imediatas, e ele não poderia reclamar nem de Machadão nem de Ubirajara, porque nenhum deles era bem qualificado para lidar com aquela situação.
Ele por gostar de criação, lia muitos livros sobre o assunto e se sentia melhores condições para tomar uma decisão certa, na hora que fosse necessária. Disse ainda ter comprado muitas mudas de bananeiras que precisavam ser plantadas e tinha que aproveitar o Jurandir que estava numa fase em que não tinha muito o que fazer.
Silveira despediu-se de Ana Luiza, do senhor Adalberto, da dona Augusta e partiu.
Jurandir já começava a se sentir angustiado, porque ao mesmo tempo em que vinha aquela atração enorme que o levava à Sinhá Moça, por outro, a rejeição dela que o impedia a uma aproximação maior, criava nele uma impressão de que era repelido.
Mas isso ele queria saber dela, porque ela não o aceitava plenamente?
Mas isso ele queria saber dela, porque ela não o aceitava plenamente?
Talvez a diferença de idade entre eles fosse o motivo, ou seria outra, a causa?
Ele não era uma pessoa experiente nesses jogos do amor, nunca tivera antes uma namorada, só vivera antes um amor platônico com uma amiga de Maria Rosa, mas não se declarara a ela, e quando os familiares perceberam o seu interesse pela jovem, começaram a jogar piadinhas, ele não se sentiu confortável com a situação e resolveu se afastar.
Para evitar sofrer nova desilusão, ele tinha tomado a decisão de falar seriamente com Sinhá Moça, mas ainda não sabia como.
Já estava chegando a hora de se encontrar com ela e Jurandir estava ficando tenso e lá estava ela, sorridente esperando por ele.
- Já estou aqui esperando uma eternidade, quase fui embora, porque você se atrasou?
Ele que queria uma explicação dela, agora é que teria que se explicar...
- Você é quem se adiantou... Sinhá Moça, tenho que lhe dizer algo e gostaria que fosse sincera...
- Então diz, não fica só olhando para mim, pode dizer...
- Estou gostando de você, só penso em você e quero saber se sou correspondido...
- Isso é uma declaração de amor?
- É, sim senhora, e quero uma resposta logo...
- Quando o vejo, sinto uma pontadinha bem aqui... E apontou o coração com o dedo. Será que isso é amor?
Ele segurou a mão de Sinhá Moça e de repente, como se passasse uma eletricidade em ambos, eles se abraçaram...
Mas o clima se desvaneceu porque ela não conseguiu segurar uma crise de risos e disse:
- Quem diria, esse negrinho me fez uma declaração de amor...
- Vá para sua pedra, seu atrevido!
(continua no próximo capítulo)
(continua no próximo capítulo)