Tentação ( parte XLIV )
( continuação do capítulo anterior )
Doutor Raimundo chegou cedo na importadora perguntando por Silveira, mas Maurice lhe informou que ele tinha retornado para a fazenda porque teve que resolver problemas familiares.
- Não é nada de grave, pois não ?
- Não, doutor, pelo que sabemos é a família que vai crescer...
- É... Então ele vai ter que dar assistência à mulher...
Mas sabe, Maurice, teremos uma reunião sobre a abolição na próxima terça feira, que eu esperava levar o Silveira e você, mas como o Silveira viajou, espero que você possa comparecer e participar dela. No nosso último encontro, Silveira me falou das dificuldades por que passava, contou-me a estória do sócio que quase deixou a empresa falir, da sua preocupação em levantar a firma para evitar que o patrimônio da fazenda não ficasse comprometido e finalmente me contou que estava usando para isso, o que tinha de melhor, o conhecimento que seus escravos tinham.
Queremos que você e possivelmente também o Moacir façam um depoimento espontâneo, franco e sincero dessa participação de vocês nesse processo de resgate da firma, do que vocês fazem, do projeto que têm, do que almejam.
Vamos mostrar com esse exemplo de como poderemos transformar o Brasil, se qualificarmos a nossa mão de obra, oferecendo ensino universalizado para todos e sem discriminação, em que todos possam, pelo menos, saber ler e escrever.
- Eu irei com o maior prazer, doutor Raimundo.
- Então, na terça feira, lá pelas dezenove horas passarei por aqui para irmos juntos.
- Está combinado.
Silveira ficou a admirar Ana Luiza, que parecia estar se preparando para a maternidade, seu rosto já estava mais gordinho, mas sem o viço que antes apresentava, com palidez na face e seu busto já ficara mais desenvolvido.
- Meu bem, conte-me como foi o seu desmaio.
- Estava a preparar os pratos para as crianças, ali bem junto da mesa, e apontou para o lugar.
Quando acordei, ainda zonza, com a cabeça a girar, estava deitada na cama. De noite meu pai chegou com o doutor Darci, ele me auscultou e mediu minha pressão, perguntou sobre a minha menstruação e me disse que eu estava grávida, foi assim..
- Eu fiquei assustado quando soube, seria bom nós voltarmos a procurar o doutor Darci.
Se não fosse tão longe, e uma viagem desgastante, eu a levaria a um especialista no Rio de Janeiro. Mas é muito risco, você pode passar mal na viagem e acabar perdendo o bebê...
Nós vamos procurar o doutor Darci. Vamos devagar, na charrete, evitando os buracos, e ele há de lhe dar os remédios certos e nosso bebê vai nascer forte e saudável. Quem sabe não será uma menina?
Agora, com a Maria Rosa aqui, você vai ficar mais quietinha, não vai se assanhar em querer fazer tudo, temos que evitar os riscos, dona Ana Luiza...
Jurandir se encontrou outras vezes com a Sinhá Moça, os dois ficavam a conversar, sentados em pedras distantes um metro uma da outra, na mesma ilha. Ele percebia brilho em seus olhos quando falavam do que ela gostaria de fazer. Ela queria ser mãe de um casal de filhos, o menino se chamaria Rui, que era nome de um homem muito importante e inteligente, e a menininha seria Izabel, teria nome de princesa.
Jurandir, na sua modéstia, não falava em planos miraculosos, só queria ter condições de manter uma família onde nada faltasse.
- Não pensa em ser liberto?
- Eu não me sinto como um prisioneiro, Sinhá Moça, nada me falta e faço o que gosto. Quando estou no jardim, entre as flores, penso que estou no Paraíso, quer coisa melhor?
Meus irmãos foram para o Rio de Janeiro trabalhar no negócio do patrão, com a promessa de serem alforriados.
Para eles foi muito bom, porque nunca estiveram satisfeitos com a vida, para mim, me satisfaço em ter uma mulher bonita, olhou nos olhos dela e sorriu, e ter um casal de filhos, Rui e Izabel...
- Sinhá Moça riu também e lhe disse:
- Vá tirando o seu cavalinho da chuva, quem disse que eu vou querer me casar com o senhor ?
- Pois pode dizer para o senhor Eugênio, que se assim não for, a senhora vai perder um grande partido...
Foi o dia em que sorrindo, Jurandir segurou a mão de Sinhá Moça...
- Pode chegar para lá, seu negrinho abusado, vá sentar na sua pedra!
( continua no próximo capítulo)
( continuação do capítulo anterior )
Doutor Raimundo chegou cedo na importadora perguntando por Silveira, mas Maurice lhe informou que ele tinha retornado para a fazenda porque teve que resolver problemas familiares.
- Não é nada de grave, pois não ?
- Não, doutor, pelo que sabemos é a família que vai crescer...
- É... Então ele vai ter que dar assistência à mulher...
Mas sabe, Maurice, teremos uma reunião sobre a abolição na próxima terça feira, que eu esperava levar o Silveira e você, mas como o Silveira viajou, espero que você possa comparecer e participar dela. No nosso último encontro, Silveira me falou das dificuldades por que passava, contou-me a estória do sócio que quase deixou a empresa falir, da sua preocupação em levantar a firma para evitar que o patrimônio da fazenda não ficasse comprometido e finalmente me contou que estava usando para isso, o que tinha de melhor, o conhecimento que seus escravos tinham.
Queremos que você e possivelmente também o Moacir façam um depoimento espontâneo, franco e sincero dessa participação de vocês nesse processo de resgate da firma, do que vocês fazem, do projeto que têm, do que almejam.
Vamos mostrar com esse exemplo de como poderemos transformar o Brasil, se qualificarmos a nossa mão de obra, oferecendo ensino universalizado para todos e sem discriminação, em que todos possam, pelo menos, saber ler e escrever.
- Eu irei com o maior prazer, doutor Raimundo.
- Então, na terça feira, lá pelas dezenove horas passarei por aqui para irmos juntos.
- Está combinado.
Silveira ficou a admirar Ana Luiza, que parecia estar se preparando para a maternidade, seu rosto já estava mais gordinho, mas sem o viço que antes apresentava, com palidez na face e seu busto já ficara mais desenvolvido.
- Meu bem, conte-me como foi o seu desmaio.
- Estava a preparar os pratos para as crianças, ali bem junto da mesa, e apontou para o lugar.
Quando acordei, ainda zonza, com a cabeça a girar, estava deitada na cama. De noite meu pai chegou com o doutor Darci, ele me auscultou e mediu minha pressão, perguntou sobre a minha menstruação e me disse que eu estava grávida, foi assim..
- Eu fiquei assustado quando soube, seria bom nós voltarmos a procurar o doutor Darci.
Se não fosse tão longe, e uma viagem desgastante, eu a levaria a um especialista no Rio de Janeiro. Mas é muito risco, você pode passar mal na viagem e acabar perdendo o bebê...
Nós vamos procurar o doutor Darci. Vamos devagar, na charrete, evitando os buracos, e ele há de lhe dar os remédios certos e nosso bebê vai nascer forte e saudável. Quem sabe não será uma menina?
Agora, com a Maria Rosa aqui, você vai ficar mais quietinha, não vai se assanhar em querer fazer tudo, temos que evitar os riscos, dona Ana Luiza...
Jurandir se encontrou outras vezes com a Sinhá Moça, os dois ficavam a conversar, sentados em pedras distantes um metro uma da outra, na mesma ilha. Ele percebia brilho em seus olhos quando falavam do que ela gostaria de fazer. Ela queria ser mãe de um casal de filhos, o menino se chamaria Rui, que era nome de um homem muito importante e inteligente, e a menininha seria Izabel, teria nome de princesa.
Jurandir, na sua modéstia, não falava em planos miraculosos, só queria ter condições de manter uma família onde nada faltasse.
- Não pensa em ser liberto?
- Eu não me sinto como um prisioneiro, Sinhá Moça, nada me falta e faço o que gosto. Quando estou no jardim, entre as flores, penso que estou no Paraíso, quer coisa melhor?
Meus irmãos foram para o Rio de Janeiro trabalhar no negócio do patrão, com a promessa de serem alforriados.
Para eles foi muito bom, porque nunca estiveram satisfeitos com a vida, para mim, me satisfaço em ter uma mulher bonita, olhou nos olhos dela e sorriu, e ter um casal de filhos, Rui e Izabel...
- Sinhá Moça riu também e lhe disse:
- Vá tirando o seu cavalinho da chuva, quem disse que eu vou querer me casar com o senhor ?
- Pois pode dizer para o senhor Eugênio, que se assim não for, a senhora vai perder um grande partido...
Foi o dia em que sorrindo, Jurandir segurou a mão de Sinhá Moça...
- Pode chegar para lá, seu negrinho abusado, vá sentar na sua pedra!
( continua no próximo capítulo)