Tentação    ( parte XLIII )
                                   (continuação do capítulo anterior )

Jurandir era muito diferente dos seus irmão Moacir e Ubiratan. Embora também tivesse aprendido a ler e a escrever nas aulas da condessa, ele gostava mesmo do que fazia, que era plantar, colher, capinar, cuidar das plantas e dos jardins e ver o resultado, as plantas vicejarem depois de uma chuva e o cheiro que emana da terra quando chove.
Não fazia grandes planos e aceitava o que lhe estava reservado com satisfação. Por ser muito reservado, seus irmãos diziam que ele era virgem, porque nunca tinham ouvido dele alguma estória sobre namoro ou encontros amorosos.

Um dia ele viu uma negrinha no outro lado do rio, em terras da fazenda vizinha, ele olhou e ela sorriu, e depois desse dia Jurandir passou a voltar sempre no mesmo horário para ver se a encontrava. Isso virou uma rotina durante uma semana, até que ela apareceu, entrou no rio, deu algumas braçadas e ficou sentada em uma pedra na ilhota , olhando provocativa para Jurandir.
Ele tirou a camisa, entrou na água e foi se encontrar com ela na ilha. Ela não deixava que ele a tocasse, isso o intrigava, mas parecia um jogo de provocação, para que ele ficasse tentado. Quando ele se aproximava, ela dizia:
- Fique ali, e mostrava o espaço entre eles.
- Você é casada?  Ela riu e não respondeu.
- Porque você não deixa eu chegar perto de você?
- Porque não quero, gosto de conversar de longe, sem que me toquem.
- Mas o bom é quando a gente se toca, pelo menos me dê a sua mão.
- Não, não quero. Você não sabe falar daí? Eu ouço daqui... Mas nada de me tocar.
- Tudo bem, essa é a sua condição, estou contrariado mas aceito, mas com uma condição:
- Qual é ?
- Que não me toque também... Ela sorriu, mostrando lindos e alvos dentes.
- Eu não tenho lepra, menina, e mostrou sua pele limpa e brilhosa.
- Não lhe chamei de leproso, eu também não tenho lepra... E mostrou o seu braço.
- Mas não quero que me toque, é pedir muito ?
- Você nasceu nessa fazenda?
- Sim, meus pais já estão aqui há longos anos.
- Quem é o proprietário dessas terras ?
- É o senhor Eugênio, é um homem difícil, se ele souber que eu me encontro com você ele me bate...
- Ele abusa de você ?
- Não, nas é rigoroso, muito bravo...
- Quer dizer que se eu quiser namorar com você tenho que pedir permissão a ele ?
- É isso mesmo...
- Ele para mim é como se fosse um pai, mas é muito autoritário, é o jeito dele.
- Então vamos nos encontrar sempre aqui, até que eu tenha coragem de falar com a fera...
- Tudo bem, sempre nessa hora,
- O meu nome é Jurandir e qual é o seu ?
- Eu não gosto do meu nome, é Pergentina, mas todos me chamam de Sinhá Moça.
- Então estamos combinados, Sinhá Moça, amanhã aqui na mesma hora.
- Está certo, Jurandir, na mesma hora.

Quando Silveira e Maria Rosa chegaram à Fazenda da Solidão, foram direto para o curral, mas a cachorrada deu o sinal e as crianças logo apareceram atrás.
- Manoel, você já está um rapazinho, querido, falou Maria Rosa.
- Você voltou, Maria Rosa! Gritou Manoel, fazendo um gesto com os dois braços para o alto.
- E você Antonio João, não vem falar comigo, se esqueceu da Maria Rosa ?
- Ei, garotada, o papai também chegou, não vão falar comigo? Estou enciumado, vocês só dão atenção para Maria Rosa...
Logo em seguida todos os outros foram  chegando, Ana Luiza, Pulcena e Ubirajara. Cercaram os dois com perguntas e mais perguntas.
- Como é Nova Iorque, senhor Silveira ? Perguntou Ana Luiza. É bonita como dizem ser ?
- É uma cidade grande e bonita, mas nós ficamos o tempo todo na Feira... Não deu para passear muito por lá, mas o que vimos me impressionou. Demos uma volta de carruagem pela cidade, tem uma praça lindíssima, chamada Central Park.
- Mas quer dizer que teremos gente nova chegando ?
- É... mas a barriga ainda não cresceu...
Maria Rosa contou do encontro que teve com Marcos, e Pulcena começou a chorar.
- Ele está bem, mamãe, Mário também está bem, os dois são cabos telegrafistas...
                         
 ( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 06/04/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4226287
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.