João que amava Maria e que amava José.
Por Carlos Sena


 
João era noivo de Maria que tempos depois fora abandonada por João. João, agora sem compromisso, conhece José e por ele se apaixona. Sentindo necessidade de apresentar José a sua família, João arruma um motivo plausível: arrumar um namoro de José com Mariana sua irmã preferida. Assim, José transitaria em sua casa sem maiores problemas. Tudo certo e combinado, menos com Mariana que entrou nessa história como Pilatos entrou no credo. Deste modo, José começa a frequentar a família de João com toda pompa, pois, afinal, era o namorado de Mariana – moça bonita, recatada e que até então nunca tinha arrumado um namorado sério. Paralelo a isso, a vida de João com José cada vez mais ficava quente e apaixonada. Quando José saia da casa da “namorada” geralmente aproveitava uma “carona” que João lhe oferecia. Saiam juntos e ia direto para um motel da cidade ou mesmo apartamento de amigos no centro do Recife. Mariana, sacrossanta menina, pega por sua ingenuidade, ia dormir sonhando com José – moço moreno, bonito, barbudo e bem empregado – tudo como a jovem sonhara um dia encontrar. A relação entre os dois, Mariana e José, seguia seu ritmo normal. Contudo, Mariana, embora meio ingênua ficava sem entender o porquê de tanto respeito do namorado para com ela. Mas, preferia entender que ele a respeitava tanto por conta de gostar mesmo dele e ter intenção de com ela se casar.
Com o passar do tempo a relação entre os três ficou mais forte, ou seja, João e José se curtindo no “paralelo” e José no oficial com Mariana. De repente, uma ideia: João ateve a “feliz” ideia de renovar seu noivado com Maria, posto que houvesse terminado para ficar com José. Maria, moça pobre de um subúrbio do Recife, apaixonada por João, não hesitou. Aceitou na hora. É como se fosse a “sopa no mel”, pensaram eles (João e José), pois agora poderiam sair para as noitadas juntos e no mesmo automóvel que João dispunha. Final de semana era um verdadeiro compartilhar afetivo entre as famílias, pois a família de José também já circulava aos domingos nos almoços de família na casa de João ou mesmo na casa de José.
Após um ano de relacionamento, Mariana começou a “exigir” de José um pouco mais de intimidade. Ela ficava, coitada, cheia te tesão e o namoro não passava de frios beijinhos e alguns amassos superficiais. Concomitante, Maria também exigiu de João que o casamento fosse marcado, pois entre namoro e noivado, “já passava um três anos de enrolação”, disse ela ao noivo. Diante desse aperto, João e José foram ter uma “DR” – discutir a relação. Isso porque Mariana também  cobrara de José uma aliança de noivado, certamente influenciada por Maria que de boba não tinha nada, exceto não perceber que seu noivo tivesse um caso com o namorado de sua cunhada, a Mariana. Dessa “DR” surgiu outro plano dos dois namoridos: José noivava com Mariana e depois de dois meses marcavam o casamento dos dois casais no mesmo dia, na mesma hora e na mesma igreja. Foi o que aconteceu. Dois meses depois de José noivar com Mariana, foi marcado o casamento dos dois casais para o mês de maio daquele ano lá mesmo, numa igreja do bairro de Casa Amarela na capital pernambucana. Casamento marcado e tudo que as noivas tinham por direito lhes foi dado pelos noivos no quesito de pompa e glamour. A decoração da igreja foi um primor, bem como a entrada dos nubentes regada a músicas com orquestra e tudo. A recepção foi um luxo. Ninguém ousava reclamar de nada. Verdadeiro conto de fadas ou de fodas?
As núpcias?  - Os casais foram para uma instância de frio em Pernambuco, mais precisamente na cidade de Triunfo. Ao retornarem foram residir num casarão antigo que eles alugaram lá mesmo, perto dos familiares. A convivência transcorreu dentro da normalidade até o terceiro mês de casados. Certa noite, Mariana sentiu falta do marido ao seu lado e saiu procurando seu marido pela sala, na varanda, e nada. Bateu no quarto de Maria e ela, acordando-se assustada deu conta de que seu marido também não estava com ela na cama. Saíram as duas a procurar seus maridos. Embora a casa sendo grande, eles não eram “alfinetes” pra sumirem assim, pensou Mariana consigo mesma. De mãos dadas, (talvez por medo do escuro do quintal) foram até um quartinho que existia no fundo do quintal e se prestava de apoio quando havia churrasco nos finais de semana. Chegando lá, o que encontram as esposas? João e José no maior “love” do mundo – naquelas posições que até a mais ingênua das criaturas não tem duvidas do que vê.  Se as duas tivessem que escolher um fundo musical dessa “novela da vida real” seria “Meu mundo caiu, e me fez ficar assim, você me iludiu e agora diz que tem pena de mim (...)”. Pois foi assim mesmo. O desespero tomou conta da “família”, pois que a farsa teria sido desmascarada. Nem tanto, pois para Maria, foi apenas uma confirmação do que ela, em tese já sabia. Ela já sabia de alguns casos de seu marido com homens, mas preferiu agir como o avestruz: “o que os olhos não veem o coração não sente”. O mundo que verdadeiramente caiu foi o de Mariana. Ela coitada, continuava virgem. Não falou pra ninguém por vergonha de que alguém a chamasse de frígida ou incompetente na cama. Fato é que continuava “virgem da Silva”...
Depois dessa “bomba” houve uma verdadeira implosão no seio daquelas “famílias”, inclusive porque Mariana abriu a boca, enquanto Maria continuava com a sua bem fechadinha, pois, amava João; dependia dele e preferia entender que tudo isso fosse uma “fase”, como algumas mulheres nessas situações preferem imaginar. Graças a Mariana que retornou pra casa dos seus pais, finalmente houve o rompimento entre João e José. Isto porque João também amava Maria e não quis mais abrir mão dela pra ficar com José, principalmente depois desse “auê” todo, desse “barraco todo”, desse... Dessa cena urbana tão frequente, mas pouco divulgada pela mídia nas grandes cidades. No desentendimento entre os dois rapazes, o “the end” deles foi na delegacia do bairro. Tiveram um briga que até sangue um tirou do outro. Não deu cadeia, mas deu a separação entre os dois amantes e entre José e sua esposa Mariana. Esta, apesar da dolorosa decepção, conseguiu, judicialmente, anular o casamento que nunca foi consumado. João e Maria continuaram casados. Tiveram filhos e até onde se sabe são felizes até hoje na capital pernambucana... (*)
 
(*) Este conto foi composto com personagens da vida real.