Quase Romeo.
Como ousam profetas e loucos julgarem profano o mais belo sentimento que a alma de um homem pode ter?
Disse ela ser veneno e não existira cura ou antídoto para o encanto de sereia que puxava o homem apaixonado ao fundo do mar.
Sem temer a morte ou a dor, escolhera ele se afogar, se o destino o permitisse se afogar ao lado dela.
E o homem simples, que enxergava o mundo como um poeta, se via realizado.
Estava ali diante da sua alma a mulher por quem guardara seu amor por todos os segundos da sua vida até então.
E se entregou.
Não temia a dor, o que também não o impediria de senti-la se não se concretizasse na vida o que já era concreto em sua alma.
A amada tinha cicatrizes e lembrava vividamente a dor que cada uma causara.
Abalada pelo passado temeu pelo futuro ao lado do simples poeta que lhe jurara entrega-la sua alma.
Uma profecia dizia que os caminhos que desejavam trilhar juntos, um dia haveriam de se separar.
Tomada pela dor das cicatrizes antigas que voltaram a latejar como feridas vivas, ela então resolvera que não poderia se arriscar a machucar-se mais uma vez, talvez não tivesse forças para que essa provável nova ferida se cicatrizasse.
E o poeta se viu mais só do que nunca, no paradoxo irônico que foi ter encontrado aquela que merecera sua alma, mas erros que ainda não cometeu e sabe-se lá se iria cometer, já que era incapaz de viver um dia sem tentar arrancar um sorriso da amada, o impediam de a ter em seus braços.
E toda essa história que aqui vos conto, talvez tenha impedido um amor daqueles dignos de histórias mais belas que tocariam corações de quem viesse a ler, mas não impediu que a amada permanecesse presente no coração daquele poeta, que hoje implora aos céus que o destino mostre a amada que as canetas do divino com um sentimento tão belo seriam capazes de escrever um futuro diferente daquele que ela temia.