CAPRICHOS DA VIDA

Ele trouxe-lhe um copo com sumo de laranja e sentou-se ao seu lado.
- Lembras-te desta música?
- Sim. - Sorriu timidamente, olhando distraída para a orla do vestido, que tocava ao de leve.
- Dancei contigo uma vez, já lá vão muitos anos... Depois dessa noite, deixei de te aparecer, um capricho estúpido de jovem, perdemo-nos de vista. Casei, tu foste mãe solteira, não tiveste sorte com os homens. Mas tens uma filha adorável, vives com ela e tua mãe. A tua família é muito unida, a maioria mora perto.
- Como é que sabes tudo isso?
- Francamente, eu nunca te perdi de vista. - Pegou-lhe no queixo com as pontas dos dedos e olhou-a, ternurento, fixando a boca de lábios cheios e tentadores, o rosto angelical e aqueles olhos castanhos que sempre o tinham apaixonado. Depois aproximou-se mais e sussurrou-lhe:
- Eu sempre te amei e sempre te amarei. Estive muito tempo afastado de ti mas o meu pensamento esteve sempre contigo, meu amor. Lembras que naquela noite jurámos amor eterno, selando-o com um doce beijo? Escreveste uma frase num pequeno papel, onde depois escrevemos os nossos nomes. Lembras-te da frase?
- Lembro, sim... Guardei-o religiosamente, numa caixa de madre-pérola...
- "Seremos sempre um só coração..."
Ela virou o rosto e não conseguiu esconder uma lágrima de saudade que rebelde lhe escorreu na face, ardendo...
- Porque nos separámos? - Perguntou-lhe, depois ajoelhou-se junto dela e encostou o rosto nos seus joelhos. Sentiu as suas mãos acariciando-lhe a face. E ficaram assim, esquecidos do tempo, enquanto mais afastados, alguns pares rodopiavam suavemente ao som de uma balada...


FERREIRA ESTÊVÃO - 1/04/2013