Ecologia: O Sonho do menino Maurício
Ecologia: O sonho do menino Maurício
Maurício caminha, passos cansados; uma fumaça bate em seu rosto, o barulho é ensurdecedor, sua respiração está difícil, continua a caminhar, a observar, e quer ver sentir e ouvir que mundo é esse onde está vivendo, precisa conversar com os animaizinhos, com os homens e com a natureza e o que vê: pessoas que não sorriem olhares parados, cada um pensando na luta desesperada para sobreviver, outros querendo destruir. Maurício ouve:- “Vou pisar naquele cara para ganhar mais dinheiro... Vou aceitar aquele projeto, derrubar aquelas árvores, acabar com aquele parque horrível e construir uma fábrica no lugar”.
Ouviu uma árvore chorar e dizer:- “Por que vão cortar-me, se até hoje eu só fiz o bem e não perturbei a ninguém?” Ouviu dois passarinhos:- “Por que querem nos matar!... Eles preferem o barulho das máquinas ao nosso cantar”.
Continuou sua caminhada e com muita tristeza resolveu sair daquela selva de pedra e ir para o mar, pensando encontrar algo de bom... Quanta tristeza encontrou: poluição, os peixes todos mortos, as árvores amareladas pela fumaça dos carros. Viu peixinhos na luta desesperada pela sobreviverem, entre as espumas brancas dos rios.
Encontrou dois homens na fúria cega para conquistarem um jacaré ou uma baleia, para mais uma medalha na sua coleção.
Foi para o campo, matas e viu animais fugirem desesperados com o medo do fogo, da morte.
Presenciou a derrubada de uma floresta, para a construção de uma indústria, consolou uma menininha que chorava, pois mataram seu cachorrinho de estimação.
Visitou hospitais, creches e viu crianças, que ficaram deformadas por causa da bomba atômica.
Voltou para o seu canto, sua cidade e ficou a pensar nas coisas tristes que viu e ouviu, pensou num passado tão lindo e distante que ouviu tantas vezes seus pais contarem, onde o homem tinha poesia, achava linda a natureza, fazia trovas para ela, os animais corriam livremente sem medo e as crianças não eram doentes. E agora assustado ele viu o homem se rastejando para subir num pedestal imaginário, onde para ele a ecologia não tem mais valor.
Pensou:- “O mundo lindo tem que voltar: o homem tem que acordar a tempo, ele não pode continuar assim se ele encontrasse amor na natureza, se ele aprendesse a olhar as aves do céu, pois a coisa mais linda que Deus criou, foi à mãe natureza: as árvores, os animais, as águas, os rios, os mares... enfim tudo que nos rodeia”.
E desesperado optou para o sonho: “eu preciso fugir dessa realidade e ir para o meu mundo de sonho, onde ninguém e nada consegue entrar, o meu mundo irreal, inexistente, ou quem sabe real...” E Maurício sonhou como toda criança, e o seu sonho foi este:
- “Andou, passos calmos, uma brisa leve bate em seu rosto... está descalço, sente a relva molhada e macia acariciando seus pés, os primeiros raios de sol batem no gramado fazendo o orvalho saltitar; pára, olha ao redor e vê árvores cheias de flores coloridas, só pode estar na primavera, o seu colorido fazendo contraste com o azul do céu, os animais correm felizes pelos campos e os passarinhos cantam um hino de louvor a sua chegada... Jamais viu natureza tão maravilhosa... Continuou a caminhar, avistou muito longe um mar, à sua volta pequenos rochedos e, por trás dele, uma enorme colina verdejante e um reino muito lindo, com uma enorme escadaria... O silêncio, a paz é contagiante, uma alegria apodera-se dele e começa a correr, correr... Agora são areias brancas que acariciam os seus pés... Olha para o mar, onde pequenas ondas batem suavemente nos rochedos, fazendo saltitar alguns peixinhos, suas águas tornam-se brilhantes devido ao azul do céu... Continua a caminhar, caminhar; a colina ainda está longe e ele já está cansado: senta na areia e fica a olhar as árvores, o céu, o mar, abaixa a cabeça e começa a chorar baixinho e meditar:”.
- “Jesus, que lugar lindo, obrigado por eu estar vivo ter inteligência, pela minha família e poder sonhar”. Perdoe Senhor Àqueles que por causa da ganância de riquezas, esquecem de olhar as aves do céu,
o inocente olhar de uma criança, o desabrochar de um botão de rosa; perdoe Aqueles que destroem a natureza para colocarem em seu lugar máquinas, em vez de alimentarem os pobres, constroem bombas para acabar com a humanidade... Se todos soubessem quanta paz eles podem encontrar correndo pelos campos, sentindo a relva macia e a carícia das ondas, o cantar dos pássaros, se percebessem a importância de uma gaivota riscando o céu azul... Certamente “Senhor, eles não iriam acabar com suas vidas”.
Ouve passos aproximando, chegando até ele, uma mão cai sobre sua cabeça e uma voz maravilhosa chega aos seus ouvidos.
_ Olá Maurício, como vai?... –levanta-se e vê o ser mais lindo que já conhecera.
_ Vou bem, quem é o Senhor?... O que faz no meu sonho?
_ Escute, eu sou Jesus, tanta e tanta vez pediu para conhecer-me e aqui estou, estava meditando e ouvi sua prece e quero falar-lhe algo para que possa sentir mais esperança.
Sabe, o homem vai se destruir caso não se conscientize a tempo de que a natureza é muito importante, e sem ela não sobreviverá.
Ficaram sentados durante algum tempo a observar a beleza ao redor. Então Jesus fitou Maurício com seu meigo olhar e disse:
_ Mas quanta tristeza! Tenha fé, você vai ajudar-me na construção de um mundo novo, sem guerras, sem destruição: lute, estude, aprenda, mostre a verdade, não deixe que destruam esse mundo maravilhoso que meu Pai criou, nunca mais sinta tristeza e não duvide se tiver amor no coração estarei com você e tenha certeza que o seu sonho irá se realizar.
E despedindo-se dele, dirigiu-se para a colina;... Maurício chamou-o desesperado... Jesus! Jesus! Mas ele não voltou e pensando em suas palavras voltou à realidade.
Entre lágrimas e sorrisos, entre vitórias e fracassos, Maurício gritou ao mundo, que não destruíssem a Natureza, que não poluíssem o ar, os mares e os rios, que não matassem mais os animais e que todos se amassem.
Pessoas passam por ele, algumas têm sorrisos nos lábios, outras não; olhares que se encontram,... Sim, muitos são de desespero, mas outros são de felicidade... Todos estão lutando, todos querendo um lugar ao sol, não tendo tempo nem mesmo para sonhar, para observar.
O menino Maurício lutou e sonhou, deixando a todos a sua mensagem de amor e paz.
E num entardecer maravilhoso, onde os últimos raios de sol começavam a se esconder para dar espaço ao crepúsculo, os homens entenderam o sonho de Maurício; que na Natureza existe vida e somente nela está à presença de Deus.
Publicado no Jornal O Diário em 22/09/85
Publicado no Jornal O Imparcial em 10/06/99
Do meu livro: O Milagre da Vida