Tentação ( parte XXXV )
( continuação do capítulo anterior )
Moacir, aliás Marcel Segall, seguia guiando sua carroça cheia de equipamentos para serem entregues e outros ainda adicionais para serem vendidos. Quase sempre quando fazia uma instalação, ele conseguia vender mais um artigo, nem que fosse um par de esporas.
Ele se incorporou como um homem de vendas e afirmava com confiança as qualidades do produtos, como faz um bom vendedor e se sentia feliz quando completava um pedido, era como se fosse um vitorioso. E de vitória em vitória, se engrandecia pela sua capacidade de se adaptar à nova profissão, que lhe trazia tanto sucesso. Quando ele voltava a alguma fazenda para entregar um pedido, sentia que era tratado com consideração e respeito e isso lhe fazia muito bem.
Controlando a carroça com as rédeas do animal na mão, ele pensava:
- ( Como a nossa vida muda rápido... Em pouco tempo roçava os matos no cafezal, colhia o café e ficava a consertar as coisas na fazenda. Veio a morte do conde, a venda da fazenda, a nossa ida para a Fazenda da Solidão, e agora estou aqui como vendedor e instalador de carneiros hidráulicos, cheio de responsabilidades... Só espero que o senhor Silveira cumpra sua palavra e nos dê a alforria... E mesmo se for alforriado não deixarei de fazer isso que estou fazendo que me dá tanto prazer...)
Apalpou o bolso do paletó onde guardava o dinheiro arrecadado para a firma e para a qual deveria prestar contas e sentiu o peso da responsabilidade. Estava com três mil e oitocentas coroas no bolso, num lugar no meio do nada... E se fosse assaltado, como poderia se explicar ?
Parou a carroça, abriu uma caixa de ferramentas e escondeu o dinheiro. Agora só faltavam duas instalações e poderia com um pouco de sorte, ainda chegar com dia claro na Fazenda da Solidão.
Estava ansioso para contar ao Bira sobre suas novas funções e saber notícias do pessoal.
- Será que o carneiro hidráulico ainda está funcionando direitinho ?
Rindo, ele pensou no trabalho que teve para fazer a sua instalação. Hoje já tinha prática, fazia aquilo com a maior facilidade e rapidez...
Ana Luiza estava preocupada com a ideia de ser mãe novamente, recomeçar com a trabalheira das fraldas que tivera com os dois meninos, mamadeiras e noites sem dormir...
Deve ter sido por um descuido, na volta de Silveira da sua viagem que fez ao Rio de Janeiro. O doutor Darcy já lhe havia explicado sobre essa nova teoria dos períodos férteis da mulher, ela não lhe dera muito crédito mas mesmo assim cumpriu com retidão a tabela que ele lhe ensinou e até aquela época, tinha dado certo, mas quando Silveira voltou, os dois naquela ânsia e empolgação, por não fazer sexo há tanto tempo, assim pensava, ela não quis saber se o dia era propício ou não, e ali estava o resultado ... E incontinenti passou a mão sobre o ventre.
Quando Silveira chegasse, pediria que ele contratasse uma cozinheira no Rio de Janeiro e lhe devolvesse a Maria Rosa, porque de fato ela tinha assumido as crianças, como se fosse uma boa mãe, e ainda teve a capacidade de começar a alfabetização deles... E o que era melhor de tudo, as crianças tinham adoração por ela, sentiram muito a sua falta.
Maria Rosa estava se realizando à frente do negócio, sabia vender com facilidade todos os itens. Havia uma procura tão grande, que ela fez uma modificação na tabela de preços e alterou todos os itens com uma alta de dez por cento. Mesmo assim não houve quem reclamasse, a caixa estava recheada de dinheiro e ela esperava Silveira para lhe dar a notícia. Se ele fosse bem receptivo, quem sabe, ela lhe falaria sobre a sua frustração por também não ter sido agraciada com a possibilidade de se alforriar.
O único problema é que o estoque estava muito baixo e alguns produtos de maior procura já não existiam na prateleira. Ela esperava que Silveira e Ubiratan voltassem logo para resolver essa questão.
Agora ela se sentia mais segura, porque Furacão havia crescido, e embora jovem e brincalhão, impunha respeito. Ele tinha adoração por ela e só a ela obedecia.
Numa noite ela ouviu muito barulho na frente da casa e foi verificar o que estava acontecendo.
Acendeu o lampião, e quando chegou junto da porta, pelo lado de fora, havia um homem ensanguentado e desmaiado, e Furacão, ao lado dele, com o focinho cheio de sangue. Ela afastou o cão e arrastou o homem para dentro de casa.
Quando iluminou melhor é que ela percebeu ser o comprador que elogiara o seu perfume.
Sua perna sangrava bastante. Maria Rosa fez um garrote para sustar a sangria e quando sentiu que o sangue parou, ela pensou:
- ( o que eu vou fazer com esse homem? Se deixar ele aqui, vai acabar morrendo...
( continua no próximo capítulo )
( continua no próximo capítulo )