Tentação  ( parte XXXII ) 
( continuação do capítulo anterior )
 
 
- Senhor Capitão, é um prazer viajar no seu navio. Eu me chamo Silveira e este é o senhor Maurice Segall, representante no Brasil de uma empresa belga, da qual eu sou um correspondente. O senhor pode falar em português com o senhor Maurice, porque além do francês e do inglês, ela fala o português com perfeição. 
- É um prazer muito grande tê-los à bordo, senhores, o que mesmo a firma dos senhores vendem no Brasil?
- Implementos agrícolas, arados, foices, enxadas, enxadões, esporas e muitos outros itens. 
- Interessante... Material de corte,  é uma especialidade dos belgas, hoje  eles são os maiores exportadores de navalhas, e as navalhas Sollingen são famosas, fazem também espadas e floretes.Vocês não vendem espadas para o exército brasileiro ?
- Não, não vendemos, mas com essa guerra no Paraguai, talvez seja um mercado promissor... Espadas, baionetas caladas e talvez até mosquetões e fuzis, porque não? Este, senhor capitão, é um navio misto, de passageiros e cargas, pois não? 
- Exatamente, além dos passageiros também levamos carga, aliás, levamos e trazemos.
- E qual o tipo de carga que estamos levando?
- Madeira e café, principalmente. 
- E o que o senhor mais trás?
- Manufaturados, principalmente tecidos, máquinas e esses materiais que os senhores vendem.
 
Conversaram sobre generalidades, o capitão convidou a ambos para conhecer a cabine de  comando, lhes mostrou o sextante, instrumento em que os navegadores se guiavam pela direção das estrelas e lhes mostrou a nova revolução tecnológica da época, a bússola. O nosso navio, senhor Silveira, embora seja um veleiro antigo , ele é capaz de atravessar os sete mares, é muito robusto e tem inovações, os marinheiros não precisam mais ter aquele trabalho de içar velas e abaixar velas com antigamente, elas são recolhidas e hasteadas por um sistema semelhante ao de hastear uma bandeira, em caso de temporais isso é muito importante e seguro pela rapidez do recolhimento, o navio não sofre tanto os rigores das velas infladas e dos ventos fortes... 
Comentaram sobre os inventos significativos da época, a máquina a vapor em que Robert Fullton fez movimentar um barco e que em pouco tempo ele acreditava que  se incorporaria aos grandes navios, a caldeira, o telégrafo já em pleno uso, e a invenção mais inovadora, o telefone, uma obra de um gênio, que está sendo atribuída a   Grahan Bell mas que dizem ter sido descoberta por um italiano, o senhor Antonio Neuci em que permite com que as  pessoas possam  se comunicar a grandes distâncias. Tudo isso em pouco tempo, poderia revolucionar o mundo.
- Como o senhor sabe de todas essas informações, senhor capitão ?
-  Tudo isso está à mostra numa Grande Feira Internacional de Nova Iorque ...
- E é para lá que nós vamos conhecer todas essas inovações... respondeu-lhe Silveira.
Na oportunidade Silveira ainda relatou ao capitão a sua experiência na venda do carneiro hidráulico e do que ele representava na modernidade e higiene para a população.
 
Moacir trouxe o cão Fila, chamado Furacão, devido ao seu ímpeto e latido, que mais parecia a uma trovoada e Maria Rosa começou a tratá-lo com todo o carinho possível.
O cão, com pouco mais de três meses parecia ter o tamanho de um bezerro. Era por demais estouvado  e em suas carreiras, derrubava o que estivesse pela frente, cadeiras, escadas e o que mais fosse. 
Ela acostumou-o a ficar na varanda na parte dos fundos  do estabelecimento, numa área cercada por telas, onde os animais ficavam, na chácara. Durante as noites ela abria as portas laterais do prédio e o cão tinha acesso tanto na parte da frente como na parte de trás da casa, era a hora em que tanto as portas quanto as janelas eram fechadas e trancadas com as tramelas e ferrolhos  para evitar as entradas de insetos e de intrusos.
 
Moacir foi fazer a instalação de um carneiro hidráulico na casa de um sargento do exército no bairro da Penha.
O militar elogiou a competência de Moacir, perguntou-lhe onde ele tinha feito o curso de mecânica,  e Moacir, que se apresentava conforme instrução de Silveira, como Marcel Segall, contou-lhe que lera os manuais em francês, e ele admirado, quis conhecer mais sobre a vida dele.
Foi quando Moacir, aliás Marcel, lhe falou sobre os dois sobrinhos, Mário e Marcos, irmãos gêmeos que foram convocados para a guerra, e sobre as preocupações da família pela falta de informações sobre os dois, que eles não sabiam se estariam vivos ou mortos. 
O sargento anotou os nomes de ambos, o endereço da loja de Moacir e ficou de se informar, e o que ele descobrisse  repassaria a informação,  para tranquilizar a família.
Nessa mesma semana Moacir empreendeu a viagem até o interior de Minas Gerais para instalar os carneiros hidráulicos que Silveira havia vendido e assim que tivesse terminado, estenderia sua ida até a Fazenda da Solidão para dar as  notícias a todos.
(continua no próximo capítulo)
 
elzio
Enviado por elzio em 26/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4208100
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