Tentação ( parte XXXI )
( continuação do capítulo anterior)
Ana Luiza estava encantada com a água canalizada na fazenda, iria falar com seu pai para também fazer a instalação do carneiro hidráulico na Fazenda das Pedras. Sabia que ele era teimoso, não era afeito a inovações, mas com seu aval e com os resultados que iria lhe mostrar, com certeza o renitente senhor Adalberto se curvaria às evidências.
Agora ela comandava a limpeza da cozinha, lavavam o chão com sabão e água corrente, já não havia aquele cheiro característico das cozinhas de então.
Ubirajara propôs à ela fazerem um forno no lado de fora da cozinha para que fossem preparados os assados sem enfumaçar o interior da casa. Ela no princípio estava meio cética, mas depois que o forno ficou pronto, elogiou a obra, realmente passaram a respirar muito melhor no interior da casa.
Ana Luiza passou a levar diariamente as crianças para brincar no remanso do rio, onde ela poderia ensinar-lhes a nadar. Passavam horas à beira do rio, andavam na sua margem, viam as famílias de capivaras pastando ou nadando, sempre em grupo, sem se abalarem com suas presenças.
Quando iam de manhã, ficavam observando os bandos de maritacas fazendo um alarido enorme enquanto voavam entre as árvores.
Num desses dias, apareceu um papagaio que pousou num galho de árvore bem próximo de onde estavam, mas as crianças gritaram e foram em sua direção e ele voou. Ficava com pena de Silveira por não estar participando desses momentos tão agradáveis, a saudade chegava forte, mas ela compreendia de que tinha de ser feito o que estava fazendo.
Moacir estava conseguindo vender o carneiro hidráulico, já tinha feito algumas instalações e saía com a carroça cheia de equipamentos, e implementos para vender e entregar aos clientes.
Estava agora se programando para fazer as entregas e instalações nas fazendas em que Silveira tinha vendido os equipamentos.
Devido ao calor, ele ficava sempre somente com a calça do terno e uma camiseta, enquanto dirigia a carroça, e quando chegava na entrada da fazenda onde ia fazer a apresentação dos produtos, ele colocava a camisa, a gravata borboleta e o paletó, então entrava em cena o senhor Marcel Segall. Como dizia o senhor Silveira, eles viviam num mundo de aparências e ele tinha de participar desse jogo.
Maria Rosa ficava no balcão durante todo o expediente, nunca fechava a porta do estabelecimento, quando tinha de ir à cozinha ou banheiro, deixava uma placa ao lado de uma campainha, com os dizeres:
ANUNCIE-SE E ESPERE, POR FAVOR.
Sabia que muita gente que chegava ali para comprar uma enxada, por exemplo, não sabia ler, mas percebia por intuição que deveria tocar a campainha. E assim ia funcionando bem.
Um dia chegou, um fazendeiro ainda jovem que queria comprar um arado, não se preocupou com o modelo do arado ou sua origem, mas com a vendedora de arados.
Elogiou a loja, agora limpa e bem conservada, com cheiro de eucalipto aromatizando até o lado de fora, e perguntou:
- Você é tão cheirosa como a loja ?
- O meu cheiro não é para o senhor, lhe garanto. Esse meu cheiro tem dono. Procure alguma menina cheirosa que não tenha dono, moço, tem tantas por aí esperando por alguém que lhes dê uma cheiradinha...
- Mas você é especial...
- Moço, se quiser o arado, por favor compre, mas me deixe em paz, já lhe disse que tenho dono...
- O seu dono é o moço alto e de bigodes?
- Não lhe interessa, compre o seu arado e vá em paz...
O rapaz insistiu e ela levantou uma trava de madeira que servia para fechar a porta, e ele recuou:
- Bem, não precisa disto, menina, já me vou e saiu sem comprar o arado.
À noite , ela comentou com Moacir, que ficou preocupado, porque ele estava fazendo pequenas viagens para instalar água nas fazendas e ela ficava sozinha e muito exposta. Por causa disso, Moacir resolveu trazer para casa um filhote de cão Fila, que lhe deram numa fazenda em que instalara um carneiro hidráulico.
( continua no próximo capítulo )
( continua no próximo capítulo )