Tentação ( parte XXIX )
(continuação do capítulo anterior )
Os olhos de Maria Rosa brilharam, quando perceberam que o quarto ficara somente para ela e Silveira.
Silveira não imaginara que tanto Moacir e Ubiratan fossem migrar para o outro compartimento, e no mesmo instante ele imaginou que os dois tivessem percebido os movimentos da Maria Rosa a procurá-lo na noite escura da viagem. Ele não queria se expor, a sua imagem de senhor tinha que ser preservada, e logo que eles saíram, ele fechou a porta e disse para Maria Rosa:
- Isso não é certo, a sua imagem não pode ser exposta desse jeito, não podemos nos encontrar aos olhos dos seus tios...
Vamos continuar nos encontrando, mas com todo o cuidado, sem nos expor, precisamos preservar nossa imagem...
- Por mim não tem o menor problema, patrãozinho, eles sabem que não sou nenhuma santa mesmo...
- Mas por mim, tem, vamos continuar a nos encontrar às escondidas.
- Tudo bem, patrãozinho, o senhor é quem manda, respondeu meio desapontada.
Silveira abriu a porta e chamou Moacir.
- Vamos deslocar a minha cama aqui para fora.
Assim foi feito, Maria Rosa dormiu sozinha no quarto...
No dia seguinte fizeram um mutirão de limpeza na frente do prédio, usaram foices, enxadas e vassouras, a limpeza trouxe uma nova aparência na entrada do estabelecimento.
Silveira chamou Moacir, mandou arrear os dois cavalos e uma besta, e saíram para fazer compras.
Foram ao estabelecimento do concorrente, onde Silveira havia comprado o carneiro hidráulico que servira de demonstração e perguntou ao balconista quantas peças ainda havia no estoque.
- Temos vinte peças, senhor.
- Eu estive aqui e comprei um carneiro hidráulico por duzentos e vinte coroas, eu lhe proponho comprar as vinte unidades que lhe restam, por cento e oitenta coroas cada uma. Sou representante de uma firma de obras e preciso de todos esses equipamentos agora. É pegar ou largar.
- Fechado, senhor, como o senhor vai levá-los?
- Viremos buscá-los amanhã, vou pagá-lo adiantado, estão aqui as três mil e seiscentas coroas, faça o favor de conferir. Esse senhor virá amanhã com uma carroça para apanhá-las, apontou para o Moacir.
Quando saíram dali, Silveira disse ao Moacir que tinha vendido as doze peças, cada uma por quatrocentas coroas, quando fez a viagem de ida para a Fazenda da Solidão, e ainda havia uma décima terceira peça que ele vendeu na volta para o proprietário da Fazenda São Fernando.
Agora, Moacir, temos que fazer o levantamento do material necessário para as instalações, caixas d'águas, tubulações e o valor da mão de obra de colocação, porque está na hora de se ganhar dinheiro. Vamos vender os materiais restantes e as instalações.
- Sabe quem vai fazer as instalações ? Você.
Agora precisamos saber onde eles compram os carneiros hidráulicos para conseguirmos a representação deles.
Amanhã, quando você vier buscar as peças, pergunte a eles: se der defeito, a quem devo reclamar ?
Saíram da casa do concorrente e foram procurar um alfaiate. Descobriram um português chamado Sr. Albano, que era um bom profissional, e que tinha um estoque de tecidos ingleses de fazer inveja. Sua mulher, a dona Isaura, era quem fazia as camisas.
- Este corte vai ficar impecável no senhor, dirigiu-se para Silveira.
- Realmente é muito bonito, vou querer dois ternos completos com jaqueta, mas para o senhor Moacir que está ao meu lado, e mais dois para o irmão dele.
- Mas senhor, esta roupa não é própria para escravos...
- Ele é um homem de sorte, senhor Albano, ele será alforriado, não será mais escravo, faça os quatro ternos, eu vou lhe pagar.
- Mas senhor...
- Estou lhe pagando os seus serviços, senhor Albano, e quero os quatro ternos, não vamos discutir.
Quando saíram ele perguntou para Moacir.
- Você sabe voltar aqui?
- Sei, sim senhor.
- Então, amanhã pela tarde, traga o Ubiratan até aqui para que o alfaiate tire as medidas de vocês e na volta pegue os carneiros hidráulicos. Um vendedor tem que se vestir impecavelmente e um administrador do meu negócio também.
Amanhã sairei com Maria Rosa para comprar roupas para ela, ela também tem que se apresentar bem.
(continua no próximo capítulo )
(continua no próximo capítulo )