O cinema, o filme, você
Eu já havia assistido aquele filme.
Muito mais de cinco vezes, mas ainda assim quis assisti-lo novamente.
Eu já havia enjoado do sabor daquela pipoca de cinema, já estava entojada com toda aquela cerimônia alimentícia que antecede a um bom filme.
E mais uma vez, estava eu, naquela mesma sala, esperando o mesmo filme se repetir.
Lá estava eu, consciente do arrependimento com o final inexplicável e cinzento.
Estava eu lá, sentada, esperando aquela mesma história se repetir; Esperando os mesmos sorrisos que eu já sabia como terminariam em lágrimas e murmúrios.
Lá estava eu, mais uma vez, olhando atentamente para o mocinho do filme, mesmo sabendo que ele se tornaria um calhorda pouquíssimo tempo depois da cena do primeiro beijo.
Talvez eu estivesse ali ludibriada pela beleza e romantismo do começo do filme, ou quem sabe, pelos desafios que cada vez instigavam mais e mais a mocinha a se aprofundar nos olhos e nas palavras daquele rapaz.
Talvez eu estivesse ali na eterna esperança de que tivessem mudado o final da história, mas não, eu conhecia bem o final e ainda assim não desviava minha atenção nem por um segundo.
Eu sabia como era aquele começo doce, aquele meio duvidoso e o final amargo.
Já havia decorado.
Mas nada me tirava daquele cinema. Nada tornava o filme ruim de assistir.
Eu enfrentaria mais uma vez à dor e a decepção do final só pra poder reviver mais um começo doce daquele filme.
Desde o começo eu sabia que sua saída seria pela porta da frente, com a mala na mão e nenhuma lágrima no rosto. Eu sabia que tempos depois um outro alguém seria esse personagem, alguém ocuparia o seu lugar para estrear o mesmo filme, e sairia pela porta do meu apartamento, mais uma vez, com a mala na mão e nenhuma lágrima no rosto.
Se fue.