Tentação ( parte XXVII )
                                 ( continuação do capítulo anterior )


Silveira queria sair de madrugada, ele sempre afirmava que a marcha ao raiar do dia era sempre mais proveitosa, conseguiriam percorrer uma distância muito maior, nem o cavaleiro nem o animal se desgastavam tanto. Mas não foi assim, ele próprio acordou tarde, e saíram com o dia encalorado e com muito sol, com duas horas de cavalgada, os animais, já suados, demonstravam cansaço.
Pararam numa guarida arborizada, perto da encosta de um morro, junto da curva onde havia um lago. Era lugar onde o gado se refrescava quando o sol estava a pino e tiveram que escolher o local onde havia menos bosta de boi.


Silveira aproveitou, e apontando, mostrava para o grupo:
- Daquele morro para lá, está a fazenda do Godofredo, homem bom e que não nega pousada para ninguém... É uma grande propriedade, com muito gado de leite, e uma boa plantação de café. Você, Moacir, vai decorando os lugares e os nomes dos proprietários, porque ainda vamos vender material para eles...
Mais além, vem a divisa com a fazenda dos Guimarães, já na beira de Volta Grande. Também é uma bela propriedade, ele tem muitos escravos e fama de sovina, eu não os conheço pessoalmente.
Quando beirarmos o Paraíba, aí sim, vocês verão a diferença, o capim é alto, o gado é gordo, e a estrada é larga. Mas nesse ponto nós vamos ter que atravessar o rio, e todo cuidado é pouco, temos que escolher a parte mais rasa e onde tem ilhas, para facilitar...

Depois que Maria Rosa esquentou o arroz e o feijão que sua mãe acondicionou em panelas, repassou os bifes na frigideira, todos já estavam refeitos, os animais já haviam pastado e bebido a água do lago, e o grupo seguiu em frente.
Silveira não perdia a oportunidade para ir ensinando as malícias da viagem. Só pararam quando já escurecia, num trecho em que não havia albergue ou hospedaria. Desarrearam os animais mas os mantiveram todos presos nos cabrestos e amarrados, porque senão eles se embrenhariam naqueles morros e daria muito trabalho para buscá-los.
Dormiram sobre as mantas e cobertos com um pano fino para se resguardarem das picadas dos insetos. A fogueira não foi suficiente para espantá-los, Maria Rosa queimou estrume, e o cheiro forte se espalhou e passaram não mais a ouvir os zumbidos dos pernilongos.
Ela percebeu que os tios tinham dormido e roncavam, então deitou-se provocativa ao lado de Silveira. Ele acariciou seus seios, beijou seus lábios, mas sussurrou:
- Vamos ter muito tempo no Rio de Janeiro, não vamos cometer loucuras...
Enquanto ele sussurrava, ela se agarrava à ele, em ímpeto fogoso que o impedia de raciocinar, Quando Silveira percebeu já estava dentro dela fazendo amor e aquelas ancas dançantes não pararam até o gozo final...

Enquanto subiam a serra, Silveira se dirigiu para uma porteira, abriu-a e se encaminharam para a Casa Grande. Foram anunciados pelos latidos dos cães.
Ele cumprimentou o pessoal que veio recebê-los e perguntou:
- Posso apear?
- É sempre bom receber um viajante.
- E é muito bom também ser bem recebido...
Eles se acomodaram e Silveira se apresentou como vendedor de equipamentos importados e disse que também era fazendeiro, e retirou o caderno de pedidos e contou para o fazendeiro sobre a maravilha da engenharia mecânica do carneiro hidráulico.
Mostrou a relação dos pedidos e o fazendeiro olhou para um dos nomes e perguntou :
- O senhor Breves que fez o pedido não é um fazendeiro lá das bandas do Pessegueiro?

- Ele mesmo, um português bem falante, inteligente e dono de uma fazenda de dar inveja, respondeu Silveira.
- Se o Breves encomendou eu também vou encomendar esse tal de carneiro... Carneiro mesmo de quê ?
- Carneiro hidráulico, porque ele é movimentado somente pela diferença de pressão da coluna de água.. E o senhor não precisa se preocupar, o nosso técnico aqui, e olhou para o Moacir, acabou de instalar um desses na minha fazenda em Pirapetinga...
- Pode tirar o meu pedido, senhor Silveira...
Mesmo sem ter a peça para mostrar ele recebeu o pedido de compra e ainda vendeu um arado para o dono da Fazenda São Fernando.
Depois, já na estrada, Silveira disse:
- Viu como foi fácil, Moacir ?
Basta você ter bons produtos, nossas lâminas são belgas, já são famosas por terem o melhor corte e são afiadas com facilidade...
No dia seguinte chegaram ao Rio de Janeiro, mas era noite e estavam longe do Centro, tiveram que se hospedar na entrada da cidade.
                   
                            ( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 21/03/2013
Reeditado em 03/06/2013
Código do texto: T4199984
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