Tentação ( parte XXVI)
                      
( continuação do capítulo anterior )  


Silveira saiu cedo para inspecionar a obra de captação de água. Chamou Moacir e começaram a verificação, havia um trecho significativo já pronto, faltava ainda interligar a lateral do canal, que afunilando, seria a fonte geradora da energia hidráulica que movimentaria a roda do moinho. Como nem a roda do moinho, nem o próprio moinho não estavam instalados, Silveira deu preferência para que Moacir já preparasse a canaleta que levaria a água para a Casa Grande, que tinha uma dimensão muito menor, e por isso mesmo de construção muito mais rápida, para acionar o carneiro hidráulico.
Moacir acreditava, que se fizessem um mutirão, poderiam em mais três ou quatro dias, colocar as caixas d'águas da Casa Grande em operação.
- Ótimo, se assim for, esperaremos o término dessa fase da obra, adiaremos a instalação do moinho, e até o final da semana iremos para a capital. Seria bom que tanto você quanto Ubiratan preparassem as mudanças, aliás, dona Ana Luiza quer que Maria Rosa também vá para ser a nossa cozinheira, porque assim ficaremos totalmente voltados para as nossas atividades.Por favor, Moacir, avise à ela.

Os dias que se seguiram foram todos voltados para a construção da canaleta. Quando Ubirajara terminava a sua tarefa de tirar o leite das vacas, incorporava-se ao mutirão, sob o comando de Moacir.
Enquanto uns cavavam a valeta, outros cortavam as ripas na medida padrão, separavam a brita e areia e as acamavam nas laterais, prendendo-as com o alcatrão fumegante.
Lá na outra ponta, no final, onde a canaleta iria se encontrar com o carneiro hidráulico, Moacir já tinha deixado preparado o equipamento, interligando-o com as tubulações que levariam a água para as caixas d'águas da cozinha e do banheiro da Casa Grande. Na saída do banheiro, Moacir deixou uma tubulação tipo "ladrão" que esgotava permanentemente a água que sobrava e que era direcionada para a seva dos porcos.
Todos estavam ansiosos para completar a obra, Pulcena toda hora abria a torneira da pia, na esperança da água estar chegando na cozinha.
Enfim, chegou o grande momento, o fluxo de água do rio, que era desviado pelo tubulão, até o canal que margeava o bosque, era interrompido por uma válvula de lâmina, que não permitia a sua passagem. Quando o canal e a canaleta ficaram prontos, Silveira suspendeu a lâmina e a água correu ligeira, enchendo o canal, mas quando chegou no carneiro, ele não funcionou..
. - Como funciona essa geringonça, patrão?
- Você tem de retirar o ar da linha... Toda a tubulação tem que ficar cheia de água. Experimenta abrir aquela válvula na saída...
De repente ouviu-se um barulho que se repetia: toque, toque, toque...
- Agora espera, que já vai chegar água na caixa. Observe aí...
- Chegou, chegou, chegou!
Todos bateram palmas pelo feito...

Depois, numa segunda fase, seria colocada uma derivação para as casas dos escravos. Silveira não permitia que se usassem o termo senzala, ele o achava pejorativo e discriminatório e admoestava aqueles que chamassem as casas de senzala. Afinal, não se tratava de moradia coletiva, cada grupo tinha a sua privacidade...
Naquela noite comemoraram a chegada da água com uma festa, os escravos fizeram uma fogueira, assaram milho e batata doce, batucaram até tarde da noite.
Silveira avisou que quem fosse viajar, não se excedesse, porque a viagem seria cansativa, mas todos estavam excitados, tanto pela chegada da água quanto pela viagem.
O assunto entre os escravos era a possibilidade de Ubiratan e Moacir serem alforriados...
Quem observasse melhor sentiria nos olhos de Maria Rosa um brilho diferente. Seria mágoa por um tratamento diferenciado ?
Mas a sua bagagem já estava pronta para a viagem, sob esse aspecto ela estava radiante, Silveira seria somente seu...
                                       
( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 20/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4198165
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.