Tentação  ( parte XXIV )    
                        
 ( continuação do capítulo anterior )
 
 
Maria Rosa dormiu ao lado de Silveira no quarto de hóspedes com a cabeça encostada ao peito dele, como se estivessem em lua de mel.
 Quando Silveira acordou ela já havia acordado há muito tempo. Ele fez sua higiene matinal e foi fazer seu lanche, depois voltou para o escritório, fechou a porta e começou a analisar a situação. 
A importadora em situação precária, econômica e financeiramente fragilizada, com um gestor alcoólatra, que permitira deixá-lo vulnerável também em relação à fazenda, que poderia ser penhorada para pagar dívidas em aberto...
Chega em casa e sua mulher está na casa da mãe, em vez de tomar conta de seus negócios.
A escrava dá muito mais atenção à ele do que sua própria mulher, mãe dos seus filhos... 
As coisas não estavam indo bem, precisavam ser corrigidas, seria necessário que ele  modificasse o foco das ações, sua mulher precisava estar mais presente  e a escrava ser tratada como tal. 
Aprontou-se, mandou selar seu melhor cavalo e foi para a Fazenda das Pedras.
 
Enquanto cavalgava, repassava e punha em ordens os seus pensamentos,  admitira como sócio o seu melhor vendedor, no pressuposto de que ele daria continuidade nas vendas e nos lucros da firma, e só quando estava com enorme prejuízo é que veio descobrir que ele era um alcoólatra, ele não se desculpava pelo seu erro, pela sua ingenuidade em tratar as coisas de um modo tão simplista ...
Casara-se com uma mulher prendada mas que não usava suas prendas para engrandecer a família que estava construindo, deixando a fazenda, na sua ausência,  ser dirigida pelos escravos,  e sair para prestar favores para sua família original...
A escrava se passando por sua mulher e fazendo o que ela deveria fazer e ele aceitando todos esses erros e se sentindo impotente para saná-los...
Realmente estava tudo errado, assim pensando, foi  que chegou na casa do sogro.
 
- Ora, senhor Silveira, chegou muito antes do que esperávamos, correu tudo bem?
- Não, senhor Adalberto, não está tudo bem. Têm muitas coisas fora dos seus lugares...
- Como assim?
- A minha firma sendo gerida por um alcoólatra, quase falida e pondo em risco o patrimônio da fazenda... 
- Onde está Ana Luiza?
- No quarto da avó.
- Ela piorou, seu estado se agravou?
- Coisas de velhos, está cada vez mais ranzinza e exigente. Só Ana Luiza é que consegue controlá-la.
- Veja só, senhor Adalberto, quando viajo e mais preciso de alguém com bom senso para tomar conta da fazenda, Ana Luiza deixa tudo à revelia, a fazenda nas mãos de escravos e vem para cá satisfazer os caprichos de uma velha ranzinza, como o senhor mesmo falou... Isso é certo?
- Sabe como é, senhor Silveira, não estávamos mais controlando os humores da velha... Só Ana Luiza é capaz de dar conta dela...
 
Silveira sentiu que não deveria se desgastar com o senhor Adalberto e foi brincar com as crianças, mostrar-lhes o trenzinho de madeira que lhes trouxera.
Agachou-se, abriu o grande pacote, deixou à mostra o brinquedo, e ficou apreciando as peraltices dos dois.
- Pii ... Uiii... Piiii ... Uiiii... Piiii ... Uuuuiiii....!
 
Ana Luiza chegou e começaram a conversar, estrategicamente senhor Adalberto saiu e deixou os dois a sós. 
Silveira lhe contou como encontrou a firma, as dificuldades por que passaram  e o que pretendia fazer.
Disse-lhe da necessidade de levar Ubiratan, que era letrado e capaz de aprender a gerir os negócios, de levar  Moacir para sair em campo e vender os implementos agrícolas e finalmente da sua experiência vendendo o carneiro hidráulico.
- Mas meu marido, o senhor está muito magro.... não se alimentou bem?
- Não temos restaurantes na região e a comida que o Machadão preparava  era intragável...
Silveira lhe contou do risco  que corriam em perder a fazenda e da necessidade dele voltar para o Rio de Janeiro. Disse-lhe ainda que pretendia retornar ao sistema antigo, mantendo os trabalhadores em regime de produção terceirizada, mas enfatizando que, enquanto ele se mantivesse fora , ela teria que ficar à frente da fazenda, não poderia se afastar...
Ela aceitou o que lhe foi proposto, acertou que voltaria com ele para a fazenda junto com as crianças, mas impôs uma condição:
- O senhor não pode voltar para o Rio de Janeiro e ficar sem comer direito, terá que levar Ana Rosa para cozinhar para o senhor...
                                                                          ( continua no próximo capítulo)
elzio
Enviado por elzio em 18/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4194747
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