Tentação  ( parte XXII )  
                  
( continuação do capítulo anterior )
 
 
Os dois cavalos marchavam lado a lado, com a besta amarrada ao cavalo de Machadão, pelo cabresto.
Já haviam transposto a Baixada Fluminense e encontravam-se em Xerém, no Pé da Serra. Silveira avistou a porteira de uma fazenda onde criavam gado nelore.
- Belos animais, vamos entrar, Machadão, quero ter uma pitada de prosa com esse pessoal...
- Isso vai nos atrasar, senhor Silveira, logo desce a noite e vai ser difícil a gente chegar na pousada...
- Não, é só uma pitada de prosa, você vai ver.
- Ô de casa, queremos falar com o responsável!
- Se estão vindo em paz que Deus os traga, respondeu um vozeirão lá de dentro, mas se assim não for, pode zarpar, porque estão na minha mira.
- Viemos em paz, queremos mostrar uma novidade para o patrão...
 
Logo apareceram duas pessoas, um homem baixinho e atarracado, que tinha uma voz de trovoada, e um outro, louro e alto, ainda jovem com uma espingarda na mão. 
- Desçam, descansem os animais e venham para a varanda, eu me chamo Bandeira, o meu amigo é o Fred, fiquem à vontade e podem dizer o que desejam.
- Eu sou Silveira, e o meu acompanhante é o senhor Machado, viemos lhes mostrar uma novidade que vai revolucionar a vida dos senhores. Machadão, por favor, vá na besta e traga o camelo hidráulico.
Machadão teve dificuldades para retirar a peça que havia se encaixado no fundo do picuá, mas quando conseguiu, veio colocá-la no chão, junto aos três homens.  
- O que é isso, senhor, perguntou Bandeira, intrigado.
- Essa magnífica peça mecânica, enfatizou Silveira apontando para o conjunto metálico, é a mais extraordinária invenção americana, que consegue transportar a água do rio para uma caixa no teto da cozinha e dos banheiros, que pode também elevar a água para as lavouras, irrigando as plantações.Chama-se carneiro hidráulico.
O rapaz alto, olhou meio cético e perguntou com ares de deboche:
- Porque carneiro, ele berra?
Bandeira olhou para ele como se o reprovasse e o rapaz calou-se. E disse para Silveira. Desculpe-me, mas continue,  por favor.
- Imagine ter água na cozinha sem fazer um mínimo esforço, o sistema mecânico elevatório funciona por diferenças de pressões.
- Isso faz uma baita economia, não há de se buscar água na beira do rio em lombo de burros... Mas isso funciona mesmo?
- Eu lhe garanto, tenho duas na minha fazenda. Temos água à vontade lá em casa. Captamos a água do Rio Pirapetinga com um desnível de mais de quatro metros e a água jorra de dia e de noite. Pode se tomar banhos de chuveiros, esgotar o material das privadas... E a minha firma tem uma representação exclusiva desse material.  E ainda mando alguém aqui para esclarecer sobre a instalação e damos toda garantia. Abriu o alforje e mostrou os impressos sobre o carneiro hidráulico, as referências e credenciais da sua firma.
Bandeira, entusiasmado, perguntou o preço e encomendou duas peças. Silveira aproveitou e lhe vendeu também um arado, dois machados e quatro enxadas.
- Senhor Bandeira, o senhor pode confiar que o material será todo entregue aqui. 
Silveira fez as anotações no seu caderno de pedidos e despedindo-se dos dois, montaram nos seus animais e saíram.
Essa cena se repetiu em mais oito fazendas, onde foram vendidos doze carneiros hidráulicos, cinco arados e muitas enxadas, machados, pás e até esporas.
- É assim que temos de levantar aquela firma, Machadão, com trabalho honesto e bons produtos...  
                                               ( continua no próximo capítulo )
 
elzio
Enviado por elzio em 16/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4191429
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