Tentação ( parte XXI   ( continuação do capítulo anterior )
 
 
Silveira não estava conseguindo conciliar o sono. As ideias se precipitavam desordenadas, ora pensava na fazenda, na construção do canal, na chuva com enxurrada, que demonstrou que o canal estava com boa estrutura, logo em seguida, vinha a imagem de Ana Luiza e com ela, a incerteza de como receberia a notícia  de que teria de ficar uma temporada no Rio de Janeiro, e em seguida a imagem da Maria Rosa aparecendo tentadora. ..
Ele se levantou e pensou: tenho de ordenar os meus pensamentos, de nada vai me valer ficar dentro dessa voluta, que me arrasta, me engole e me deixa desorientado.
 
Eu sei qual é o problema, tenho que saber agora qual será a solução...
Nessa situação vai adiantar eu manter o Machadão aqui? Acredito que ele será mais útil lá na fazenda...
 Ele é muito despachado mas tem baixíssima escolaridade,  certamente terá dificuldades em lidar com certas tomadas de decisões... Se fosse somente para operacionalizar uma rotina, ele teria condições. 
Já está resolvido, o Machadão vai voltar comigo, trarei o Ubiratan, que sabe ler e escrever, tem boa desenvoltura e é um desperdício utilizá-lo na lavoura. Ele precisará de umas aulas , mas nada que não possa superar com facilidade. 
Talvez também seria bom trazer o Moacir, depois de terminar a obra do canal... Assim, eu teria que voltar ao esquema antigo de permitir que alguém plante e receba um percentual do arrecadado das vendas...
Quando Silveira conseguiu equacionar o problema e encontrar a solução, sentiu um enorme alívio e dormiu.
 
A firma de Silveira se localizava numa rua em ladeira no bairro da Lapa, no centro do Rio de Janeiro, essa rua era uma das subidas para o bairro de Santa Tereza que fica na parte alta da cidade. 
Ele construiu um galpão e importava arados e implementos agrícolas, tais como enxadas, pás, cavadoras e muitas outras ferramentas. No fundo do galpão, havia um enorme terreno, fronteiriço ao bosque que cobria a maior parte do morro que já pertencia ao bairro de Santa Tereza. 
Da parte alta do terreno, podia-se ver os imponentes Arcos da Lapa, com o aqueduto que abastecia a cidade com água potável. 
Silveira, olhando a paisagem, lembrou-se do abastecimento de água da fazenda, do carneiro hidráulico e pensou: vou vender esse material, isso é uma novidade na praça, ele vai revolucionar nossas fazendas...
 
Na parte da tarde, ele chamou Marcondes e Machadão, para uma reunião.
- Sr. Marcondes, amanhã vou sair cedo, junto com o Machado, vou fazer umas compras e vou voltar para a fazenda. Preciso tomar umas decisões lá na fazenda para que fique livre e possa retornar para a capital e assumir as minhas funções , sem deixar pendências por lá, por isso pensei muito e Machadão voltará comigo. Achou melhor não falar sobre o restante que havia decidido.
Enquanto isso, Sr. Marcondes, vamos fazendo os levantamentos que eu lhe pedi para que eu possa levar,  começar a analisar e tomar as providências devidas. Os senhor continuará a fazer os atendimentos que sempre fez e vou lhe informar, durante o expediente, se eu tiver alguma reclamação de que o senhor se embriagou, vou despedi-lo,  sem nenhuma indenização, o senhor entendeu, Sr. Marcondes?
Ele olhou espantado para Silveira, respirou fundo e respondeu:
- Não, senhor Silveira, não fique preocupado, isso não vai acontecer...
De manhã, com os animais arreados, Silveira e Machadão saíram para as compras.
Silveira se dirigiu diretamente para a loja de um dos seus concorrentes  e comprou um carneiro hidráulico. Colocou-o no picuá da besta juntamente  com pás, enxadas e outros implementos agrícolas e seguiram em direção à Fazenda da Solidão.
No caminho, Machadão perguntou:
- Senhor Silveira, para que esse material?
- Você verá, Machadão... 
                                    ( continua no próximo capítulo )
 
elzio
Enviado por elzio em 15/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4189551
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