Tentação ( parte XX )        ( continuação do capítulo anterior )
 
 
Silveira e Machado estavam na sala de espera do escritório do Doutor Marques, o advogado que prestou assistência durante muitos anos para a sua firma de importação.
- Dr,  Marques! Como vai, o tempo passou e o senhor continua o mesmo...
- Que bom que continuo o mesmo, mas o senhor, meu amigo Silveira, remoçou, os ares da fazenda estão lhe fazendo bem.
- E não é por falta de trabalho, doutor Marques, na fazenda sempre existe alguma coisa para se fazer... O senhor conhece o meu colaborador, o Machado?
-  De vista, mas nunca tive o prazer de conversar com ele...
- Pois é, como lhe expliquei na carta, está existindo algo estranho na nossa firma, o meu sócio, Marcondes, há quatro anos não me remete a participação nos lucros...
Depois do surto da febre amarela, ele se baseou nisso e não me remeteu nem mais um tostão. Quero ir lá fazer umas verificações nas contas, mas acredito que ele deve ter preparado um livro caixa para tê-lo para essa hipótese de ser questionado por mim.
- Podemos requerer, se for o caso, uma perícia judicial... O juiz pode nomear um contador para fazer a verificação.
- Prefiro, doutor Marques, encaminhar o caso extrajudicialmente para evitar que os clientes se debandem, isso nem sempre é bem visto pelos compradores, mas  penso, na hipótese do Marcondes não querer comprar a minha parte, em deixar o Machado, que trabalhou comigo na firma, e conhece do negócio, como meu preposto, por ser de minha inteira confiança.
- Também é uma ótima iniciativa, mas o Marcondes,com certeza, pode escamotear os dados para enganar o Sr. Machado. ..
- A minha estratégia é a seguinte, vou me propor comprar a parte dele, se ele superfaturar o valor, então eu lhe direi que, por aquela quantia, não comprarei a parte dele,  mas venderei a minha cota de participação para ele pelo mesmo preço.
- É uma boa estratégia, mas há que se considerar que você vai lidar com um homem esperto, muito ladino...
 
Foram procurar Marcondes. Quando chegaram na porta do galpão, Silveira se assustou, aquela firma pujante  que ele deixou quando se afastara, estava quase sem máquinas e equipamentos importados, havia sujeira e lixo por todo o lado. Realmente parecia estar com o aspecto de uma firma falida, e o seu nome e o seu patrimônio estavam em jogo, se não tomasse providências urgentes, em breve teria que vender a fazenda para pagar os prejuízos ...
Marcondes chegou abatido, não parecia o homem dinâmico a quem Silveira confiara seu negócio.
- O que houve, senhor Marcondes?
- O senhor está vendo com seus próprios olhos, estou quase falido, os clientes se afastaram, não consigo vender mais nada, meus fornecedores estão me cobrando...
Silveira percebeu logo que Marcondes estava alcoolizado, repetindo por diversas vezes o que já havia lhe dito.
Os clientes haviam se afastado por falta de credibilidade, certamente, não poderiam confiar em um homem  que dirigia um negócio se apresentando naquele estado...  Era um doente que contaminou a todo o negócio com a sua doença, agora a firma não tinha mais credibilidade, porque o gestor também não a tinha.
 
Silveira acertou com Marcondes que iria procurar uma solução, mas que teria de receber todas as informações necessárias. Os cadastros de clientes e dos fornecedores, o levantamento das dívidas e dos credores, o livro caixa e tudo mais que se fizesse imprescindível para coletar dados.
Silveira sabia que teria de resolver o problema, mas como? Não poderia descapitalizar a fazenda para injetar dinheiro em um negócio que estava duvidoso, porém teria que se dedicar a esse negócio duvidoso para evitar que um eventual prejuízo viesse a causar uma penhora da fazenda... Era um dilema difícil de resolver, uma verdadeira escolha de Sofia em suas mãos.
Tomou a decisão de que acamparia lá dentro, comprou duas camas com colchões e roupas de cama e fez dois quartos , um para ele e outro para Machadão, e daquele momento em diante, ali seria sua casa. Fez uma intervenção total na firma, afastou Marcondes, acordando para ele um rendimento mínimo e cassando suas cotas de participações, e fazendo dele, dali para frente,  um mero empregado.
 Marcondes não tinha saída e aceitou, até com bom grado. Tudo foi formalizado, tendo à frente o doutor Marques para evitar qualquer problema futuro. Agora ele era o responsável total sobre o negócio.
Assim como construiu o negócio, estava com a missão de reconstruí-lo.  

                                                                   ( continua no próximo capítulo )  
elzio
Enviado por elzio em 14/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4187580
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