A MENINA DO FIM DA RUA

CURTA ESSE CONTO INFANTO JUVENIL DOCE E SINGELO.

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Ela passou de novo pela rua, eu ali do alto da janela do meu quarto, e ela ali na rua, linda, meiga, com olhar tímido, cabisbaixo.

Todas as tardes via a mesma cena: a menina do fim da rua passava debaixo da minha janela rumo a avenida principal . Ela sempre vestia saia rodada longa, e uma camisa branca. Às vezes a saia era branca e por cima ela usava uma espécie de avental vermelho, as vezes ela usava saia verde,mas seja qual cor da roupa ela ficava muito bonita. Sempre trazia uma flor nos cabelos, ora branca, ora amarela,ora vermelha;nas costas sempre uma pequena mochila preta.

Ela deveria ter a mesma idade que eu, por volta de quinze anos. Seus cabelos eram compridos, lisos e claros.

Tentava adivinhar o nome dela: Giovanna,Vitória, Eduarda, Ludmila,Camila... será que teria um desses nomes modernos? Ou será que seu nome era daqueles antigos que os pais dão em homenagem à alguma tia ou avó? Talvez: Dinorá, Silvia, Bernadete, Ivone, Zilma... Não,ela não tinha cara de Zilma.Talvez tivesse um nome estrangeiro: Kathy,Sharon,Grace,Stefany...

Um dia perguntei sobre ela aos meus amigos da rua, mas nem as garotas sabiam o nome dela.Ela era discreta,só saía de casa a tarde e sempre sozinha.

Numa tarde de quinta – feira meu primo Vinicius veio em casa, e às três da tarde já fiquei plantado na janela do meu quarto para vê-la passar. Ela passou, vestindo uma saia rodada vermelha, uma blusa branca e uma flor branca nos cabelos, tentei chamar sua atenção, tossi, fingi um espirro, e ela olhou para cima, me viu, e sorriu discretamente com os olhos baixos.

Meu primo a viu de costas e presenciou minha alegria por ter ganho aquela migalha de atenção,mas que para mim era muito.

___ Onde será que ela vai todas as tardes Vinícius?___ perguntei a ele que ria da minha cara:

___ Sei lá Carlos! Porque você não segue a menina? Se você quiser amanhã te empresto minha bicicleta.

___ Jura? Eu quero sim.

E no dia seguinte pela manhã fui até a casa do meu primo e peguei a bicicleta.

As três da tarde fui para minha janela e quando ela apontou na rua; eu a segui com os olhos,mas me escondi atrás da cortina para que ela não me visse,nem fiz nenhum barulho,pois,não queria chamar sua atenção.

Desci e peguei a bicicleta, andei devagar para que ela não me visse e percebesse que eu estava a seguindo.

Logo vi que ela entrou num galpão branco, que eu as vezes passava na porta, pois era na rua atrás da minha escola,mas nunca tive a curiosidade de saber o que tinha ali. Ela entrou e eu fiquei parado na porta onde se lia na placa: C T P, Centro de Tradições Portuguesas. Deixei a bicicleta presa numa barra de ferro onde tinham outras e entrei curioso.

Logo na entrada já tinha muitas pessoas em pé numa roda. Eu me enfiei no meio deles até chegar na frente e vi um grupo dançando com roupas coloridas. As moças usavam saias rodadas bem coloridas e camisa branca e os rapazes também usavam camisa branca ,colete vermelho e calças pretas com um cinto de tecido vermelho.

Quando acabou o número de dança o povo aplaudiu e eu também é claro, eles se foram por um corredor. Uma mulher bonita de vestido todo verde falou no microfone:

___ Atenção! Nossa próxima atração é a grande dançarina Maria Amália, ela vem no seu grupo “vozes da aldeia”___ quando ela disse o nome da tal dançarina as pessoas aplaudiram bastante.

Fiquei olhando para o corredor de onde entravam e saíam as atrações e para minha surpresa, na frente do tal grupo lá entrou ela: minha musa, a menina mais bonita do meu bairro, a menina do fim da rua, todos gritavam seu nome: Maria Amália! Maria Amália!

Eu fiquei pasmo, com cara de besta ,de boca aberta. Ela estava com uma saia rodada branca, um avental todo colorido com desenhos em verde, amarelo e vermelho por cima da saia e uma camisa branca com colete vermelho.

Ao som de uma música portuguesa o grupo começou a se apresentar e ela dançava, rodava a saia pra lá e pra cá, meus olhos a seguiam e pareciam ignorar todos ali, só via a menina do fim da rua. Agora já sabia seu lindo nome: Maria Amália! Num certo momento da dança ela me viu e sorriu pra mim, eu acho que sorri também, porque era tanta felicidade que que fiquei anestesiado. Ela rodopiava , saltitava, sorria muito feliz com aquela dança que eu nunca tinha visto, a não ser pela televisão, mas para falar a verdade,nunca havia prestado atenção.

A apresentação acabou e o povo aplaudiu muito, inclusive eu,mas não tive coragem de gritar seu nome como os outros, aliás me deu até um certo ciúme de ver alguns meninos da platéia gritando: Maria Amália ,linda!

O número acabou e todos foram saindo do local e eu peguei a bicicleta e fui para minha casa.

No dia seguinte, às três da tarde fui para minha janela sozinho sem meu primo porque não queria ver o Vinicius zoando com a minha cara.

E às três horas e dois minutos ela passou. Tossi de leve e ela olhou pra mim, sorriu e acenou. Nem sei se acenei porque eu parecia congelado, meu coração batia tanto que quase furou a minha melhor camiseta.

E a menina do fim da rua passou rumo à avenida principal, usando sua camisa branca como sempre, sua saia rodada branca, e um colete verde. Vi quando ela jogou por querer no chão a flor vermelha que usava nos cabelos, e seguiu sem olhar para trás.

Desci correndo , peguei a flor a guardei numa caixa com cadeado onde eu colocava apenas coisas secretas e especiais.

Poderia ter me declarado,mas a timidez não me deixou,no fundo queria que ela fosse sempre minha musa ,idolatrada, intocável, distante povoando meus sonhos.E todas as tardes de segunda a sábado corro para a janela e nem preciso mais tossir,pois, ela já sabe que eu estou ali para admira-la e amá-la em silêncio.

Maria Amália! A menina do fim da rua que eu amarei até o fim dos meus dias.

Cléo Santhyago
Enviado por Cléo Santhyago em 13/03/2013
Reeditado em 02/07/2013
Código do texto: T4186153
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