Flores na Janela
Flores na janela
A bonita e graciosa chácara estava em festa, nascia o filho do Sr. Joaquim e da Dona Helena o pequenino Nicolas, cabelos pretos e tez morena como a mãe e os olhos azuis do seu pai. Seu avô paterno o Sr. Jeremias estava radiante por causa do varão.
A chácara ficava numa localização muito boa em Joinville no norte de Santa Catarina, lugar de clima ameno, só o inverno que era rigoroso, onde tudo que se plantava dava com terra boa e fértil. A casa do Sr. Joaquim era pintada de amarelo com desenhos coloniais azuis em volta das janelas e em baixo de todas as janelas havia jardineiras lotadas de flores que dava o ano todo e de todas as cores, dando um ar de romantismo e a outra casa onde moravam os seus empregados era bonita, mas não como a casa grande. Havia uma área enorme em volta da casa toda com pilares e em baixo da janela da sala uma bonita e antiga cadeira de balanço que era o lugar favorito do vovô Jeremias.
Vida simples do campo, mas com fartura, plantavam para a sua sobrevivência, tinha horta, galinheiro, pasto onde tinha cavalos e duas vacas leiteiras, cachorro para ajudar na proteção da chácara, bastantes árvores frutíferas, todas as espécies de passarinhos e soltos... Enfim trabalhavam muito de dia até a noite e eram bem felizes.
Nicolas foi crescendo forte e bonito e tinha muita aptidão para o desenho, música. Nasceu artista, teve a pincelada de Deus. Com sete anos já tocava muito bem o seu violãozinho com músicas sertanejas que o avô e o pai pediam. Era o xodó da família, estudava em uma vila perto da fazenda e com a ajuda dos professores foi desenvolvendo cada vez mais as suas aptidões. Nasceu à pequenina Ludmila que era filha do caseiro, loirinha, linda parecia uma bonequinha. E Nicolas pegou muito amor pela pequenina como se fosse sua irmãzinha.
Tudo o que ele via, desenhava no papel, tinha um monte de desenhos, era artista nato, já veio pronto. E Ludmila estava com um aninho e Nicolas ficou olhando para aquele rostinho tão lindo perfeito e retratou-a direitinho, idêntica, ficando perfeita, ele também era retratista.
Passou-se um tempo de paz na graciosa chácara, com lutas, trabalhos e realizações. Vovô Jeremias estava sentado na sua cadeira de balanço conversando com linda Ludmila que estava com doze anos e que ele a considerava como neta. Chega Nicolas da Faculdade de arquitetura, agora com vinte anos e bem lindo: corpo atlético, tez morena com aqueles olhos azuis tão expressivos e fala: Vovô o que está conversando com a minha princesa?!... Vou ficar com ciúmes... Deu um beijo nos dois e foi no seu ateliê pintar e toda vez que terminava uma tela, parecia que lhe faltava alguma coisa.
Passado uns dias se inscreveu num intercâmbio cultural para estudar pintura em outro país e optou por dois: França e Itália. Gostava da Arquitetura, mas queria pintar algo diferente que você a realização dos seus sonhos. Era artista e todo artista é diferente, tem alma livre, não consegue se prender a nada. Foi chamado para ir para a Itália e sentado na varanda com toda a sua família, contou a eles que iria trancar a matrícula e ir embora. Sr. Jeremias, Sr. Joaquim, Dona Helena e a jovem Ludmila ficaram desoladas, então o velho Jeremias falou: Nicolas meu neto querido pra que você vai embora, procurar numa terra tão distante o que já nasceu sabendo, és autodidata, não tem necessidade disso... Faculdade de Belas Artes e ainda fora do nosso país, isso é pra quem não sabe desenhar, e não é o seu caso. Você nasceu artista!!!... Fica com a sua família, termina a sua faculdade, continua pintando, vendendo suas telas, participando de concursos que até hoje lhe rendeu boas recordações e medalhas e um dia quando estiver mais velho, mais maduro aí você faz essa experiência... Não nos deixe e duas lágrimas desceram pela bela face do Vovô Jeremias e Nicolas o abraçou, beijou tanto aquele rosto amado e disse: Vovô eu prometo pensar em tudo o que falou...
E o avião chegou a Florença e Nicolas foi para a Academia de Belas Artes e ficou maravilhado com tudo aquilo, existiam também aulas de arquitetura e música e ele havia ganhado uma bolsa e a casa que iria morar era bem perto da Academia.
Passaram-se seis longos anos de curso, estudo, aprendizado, fez exposições com a Academia em vários países: França, Portugal, Espanha, Inglaterra... Conseguiu se formar em Arquitetura, violão clássico e mais Belas Artes. Durante esses seis anos visitou sua família três vezes, não deu mais, pois ficava muito caro.
O avião desceu em Santa Catarina e ele foi para a sua Chácara e lá chegando foi uma festa só. Que saudade!... Ficaram conversando até altas horas, contou tudo, mostrou foto, mostrou diplomas, estava feliz, radiante com seus vinte e seis anos, conhecia muitos lugares... Ludmila com seus 18 anos no primeiro ano do magistério lhe disse: Nicolas agora Você vai ficar com a gente!... Ele olhou para ela: loira, olhos cor de mel, corpo escultural, tão inocente e linda, respondeu num fio de voz... Vou!...
O coração inquieto, alma dilacerada, não conseguia se encontrar, tinha que pintar algo que lhe desse paz. Ficou tanto tempo fora, viajou por tantos lugares, largou sua amada família, não viu a Ludmila crescer, não viu o Avô e os Pais envelhecerem, os amigos se afastaram, amigos que se foram e ainda não tinha se encontrado. O que era aquela busca desesperada!...
O Vovô Jeremias passou muito mal, sendo levado as pressas para o hospital e não resistindo morreu... Foi muito triste... Nicolas chegou do enterro e sentou na velha cadeira de balanço em baixo da janela com jardineira toda florida, com flores de todas as cores, estavam na primavera e chorou muito, abraçado com Ludmila.
E o tempo passou e Nicolas trabalhava como Arquiteto na cidade de Joinville, Ludmila tinha se formado para Professora e dava aula e no final da tarde voltavam juntos para casa. Estacionou o seu carro perto da Escola e passado uns minutinhos ela entra e diz: Nicolas eu preciso falar com você!... E ele... Fala minha linda, o que é?... Coisa séria e sorriu... E ela com toda a coragem do mundo... Nicolas eu te amo, sempre te amei desde os meus doze anos, já sofri bastante com a sua ausência e indiferença em me tratar como irmã, como amiga... Eu não quero ser isso de Você, eu quero muito mais, eu quero ser amada como mulher... Silêncio!... Chegaram à chácara e ele não abriu a boca.
Estava no seu ateliê pintando e Dona Helena chega com um lanche e um copo de leite e fala: Nicolas filho querido, eu faria muito gosto se você namorasse a Ludmila, ela é uma boa moça e muito prendada!... Mãe eu a admiro muito, mas o meu gostar por ela vai ser sempre de irmão!... Dona Helena deu um beijo no filho e chegando à sala contou tudo para Ludmila e pediu que ela a partir daquele dia o tratasse como irmão e que arrumasse um novo amor... Ela chorando foi embora muito triste!...
Nicolas chegou a casa depois de um dia exaustivo de trabalho e foi dar um beijo no seu pai que estava na cadeira de balanço em baixo da janela com a jardineira repleta de flores, depois beijou sua mãe e disse: Mãe, Pai eu preciso viajar para a França para participar de um seminário de Arquitetura e vai ser muito bom para minha carreira e também quero fazer um curso de pintura em Paris... Pretendo ficar uns seis meses.
Despediu-se de todos lá foi ele a procura do seu verdadeiro eu, da sua identidade, precisava de todo o jeito se encontrar, ter uma definição de vida.
Depois de três meses que estava em Paris, conheceu Júlia uma portuguesinha, que fazia o mesmo curso que ele. Depois de alguns meses se apaixonaram perdidamente, estavam muito felizes e resolveram dividir um apartamento e lá ficou um ano. Sua mãe lhe telefonou avisando que Ludmila ia se casar e que queria ele como padrinho. E assim foi e Júlia se deu muito bem com a família, todos estavam felizes, o casamento foi lindo e emocionante como todos os casamentos.
E Júlia e Nicolas embarcaram outra vez para Portugal e depois para Paris e passaram-se dez anos com vindas e idas. E acabou não deu certo o relacionamento.
Voltou a trabalhar no escritório, com muito sucesso, mas ainda não havia se encontrado, pintou muitos quadros, participou de várias exposições, ganhou prêmios, trabalhou muito na busca do seu eu, mas faltava alguma coisa, ele tinha que pintar algo diferente. Namorou outras moças, mas não deu certo, mas continuou a namorar não gostava de ficar sozinho.
Estava agora com cinqüenta anos, cabelo grisalho, chegou a casa numa tarde fria, depois de um dia exaustivo de trabalho e lá estava seu Pai dormindo na cadeira de balanço em baixo da janela com a jardineira com flores, apesar do frio... Papai, Papai!... E o Sr. Joaquim tinha cumprido a sua missão na terra... Nicolas chegou do enterro, sentou na velha cadeira de balanço abraçado com Ludmila e suas duas filhas e chorou muito... Lembrou do avô Jeremias, do Pai... Dos seus ensinamentos, da ternura, dos abraços, da sua ausência...
Passou-se o tempo, se aposentou agora estava com sessenta anos e cuidando da Dona Helena que estava muito doente, mas apesar da doença ela ainda tinha forças para ensiná-lo, pois sabia que um homem sozinho e ainda com toda aquela chácara para administrar não iria conseguir. Ela sempre sábia e sabia que estava chegando há sua hora, chamou todos os empregados e deu toda as coordenadas e pediu para os Pais de Ludmila que quando ela partisse que eles viessem morar na casa grande para tomar conta dele.
Dona Helena chamou Nicolas e pediu para que ele a levasse na varanda na velha cadeira de balanço debaixo da janela coma jardineira toda florida, pois estavam entrando na primavera. Estavam todos em volta daquela Senhora que tinha sido o pilar de toda aquela família, sorriu para todos, olhou sua bonita e graciosa chácara, beijou o rosto do amado filho e foi embora... Tristeza!... Todos choraram e sentiram muito.
Passaram-se mais sete primaveras depois do acontecido, Nicolas estava andando pela chácara, admirando a beleza dela tudo tão arrumado e voltou para um passado tão distante, quando tinha sete anos e ficou relembrando do Avô Jeremias, do seu Pai, da sua mãe... E nisso ouviu um barulho e quando olhou para a varanda, a velha cadeira de balanço estava balançando. E dali onde ele estava ficou olhando aquela pintura: A velha cadeira de balanço em baixo da janela com a jardineira lotada de flores de todas as cores e aí ele chorou... Procurou tanto o seu eu, viajou para tão longe, renunciou a dois amores por não se encontrar: Ludmila e Júlia e metade da sua vida passou longe daquele lugar mágico... A felicidade estava ao seu lado e ele na sua estupidez, não percebeu... Lembrou das palavras do avô Jeremias dizendo que ele era artista nato e chorando entrou correndo na casa, pegou o seu cavalete, sua tela e pintou... A velha cadeira de balanço, em baixo da janela e a jardineira lotada de flores coloridas de todas as cores... Ficou belíssima sua Obra, levou-a para várias exposições e ganhou muitas medalhas.
Passou-se o tempo, um belo dia sentado na sua cadeira de balanço leu uma notícia que ficou consternado lembrando das palavras do Avô de que ele não fosse viajar e um dia mais tarde ele faria o curso de Belas Artes... E a notícia era: A Academia de Florença onde ele estudou, iria abrir uma no Brasil em Santa Catarina... Ele emocionado chorando, cerrou os olhos e adormeceu e o seu avô veio todo sorridente e lhe disse: Vamos Nicolas, seus pais estão lhe esperando e ele saiu abraçado com o Avô...
E a sua Obra “Flores na Janela” ganhou muitos prêmios e está se encontra em Paris.
Do meu livro: O Milagre da Vida