Tentação ( parte XIX)    ( continuação do capítulo anterior )
 
 
Silveira não sabia de quanto tempo seria a viagem. Poderia ser breve mas também poderia ser demorada, ele conhecia muito bem as manobras que o sócio poderia fazer para que a negociação lhe fosse vantajosa, e um dos fatores que ele poderia explorar, seria o tempo.  Numa negociação longa, ele poderia obter a ansiedade de Silveira em retornar para casa, a saudade dos familiares, os outros negócios que estavam seguindo à sua revelia, e tudo isso era material a ser explorado na  negociação, e o  que estava em jogo era bastante dinheiro e provavelmente, com esse desgaste, Silveira cederia e abaixaria os valores da sociedade.
Por isso Silveira se preparava para uma negociação longa, mas previamente planejada.

 
Silveira resolveu ter um encontro com Maria Rosa no canavial, antes de viajar, ia lhe falar sobre essas questões em que estava envolvido e saber dela algumas informações sobre os escravos.
Marcaram para se encontrarem num barracão de apoio onde os escravos guardavam as  foices, enxadas e facões  e além das ferramentas, as proteções de brim para evitar se arranharem com as folhas das canas. Quando ele chegou, ela já estava lá, sentada em um banquinho, a saia suspensa, deixando suas coxas à mostra.
- Maria Rosa, vim para te ver, porque não sei quanto tempo nós vamos demorar no Rio de Janeiro...
- Tomara que volte logo, senhorzinho, vou sentir muito sua falta...
- Também vou sentir a sua...
Tenho pensado muito sobre nós, eu me sinto como se estivesse abusando do meu poder de senhor, isso me machuca, dói minha consciência...

- Não fique assim ,patrãozinho, se o senhor gosta, eu também gosto...
É o momento em que me sinto livre, é a hora em que faço o que gosto de fazer e ninguém me obriga... Nessa hora, eu não sou escrava, eu também sou senhora... 
No momento em que o senhorzinho me procura, eu passo a ser a senhora, é o senhorzinho que está fazendo a minha vontade, o senhorzinho, em parte, é meu escravo, escravo dos meus desejos...

Por isso, senhorzinho, não sinta culpa, fazemos o que gostamos de fazer, o que nos dá prazer... Deixe, senhorzinho, que eu tenha esse gostinho da liberdade, porque nesse momento nós dois teremos a mesma liberdade, o senhorzinho se liberta dessas convenções da sociedade e eu deixo de ser escrava, somos somente homem e mulher, dois amantes...
- Maria Rosa, tenho pensado muito em você, que foi abusada quando criança e continua agora... Ela não permitiu que ele continuasse :
- Senhorzinho, o senhor não entendeu nada... Eu nunca fui abusada, se o Padre Maurício gostava de me bolinar, eu também gostava do que ele fazia e de fazer carícias nele . Eu fiz com ele  o que nenhuma mulher teria feito, se com ele eu fiz pela primeira vez, comigo, ele também fez pela primeira vez...
Foi naquele momento que eu me libertei, que eu não me senti escrava...
Naquela hora, quem era meu escravo, era ele, ... Foi aí que entendi, que tanto ele como eu, nos libertamos pelo amor...

Assim também é conosco, na hora H acabam-se as convenções, não existe nem senhor, nem escrava, porque somos amantes e no amor não existe domínio, existe somente entrega.
 
Silveira ficou pensativo, cofiou seu bigode louro, olhou com seus olhos azuis para Maria Rosa, sorriu e lhe disse:
- Vamos nos libertar!
Abraçou-a, beijou seus lábios com ardor, beijou seus peitos enrijecidos e se libertaram...
                           
( continua no próximo capítulo )

elzio
Enviado por elzio em 13/03/2013
Reeditado em 03/06/2013
Código do texto: T4185777
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.