Tentação  ( parte XVIII )   ( continuação do capítulo anterior)
 
 
- Porque vosmicê fica assim tão pensativo depois que a gente faz amor?
- Porque não acho certo o que fazemos, afinal eu sou casado, gosto da minha mulher, que me trata com carinho,  e isso que estou fazendo é uma traição... Não é certo, coloque-se no lugar dela, você iria gostar de ser traída?
- O patrãozinho está levando as coisas muito a sério... Pensa diferente, porque na Arábia um sultão pode ter dez mulheres e o senhorzinho não pode ter duas? Vosmicê não pode ficar cismado com coisas, que não nos faz bem...
Esse conceito de casamento religioso, restringe a felicidade das pessoas... Eu não estou lhe fazendo feliz, patrãozinho? Gostou do amor que lhe dei? Então sorria...
Silveira esboçou um sorriso e ela continuou:
- O povo segue o que o padre diz, mas mesmo ele não faz o que não prega... Sabe porque? Ele procura a sua felicidade...
O que quero, patrãozinho, é vê-lo feliz, e estar feliz junto do patrãozinho, então pare de ficar cismado, olhe para mim e sorria... Vamos lá, sorria!
Silveira deu um sorriso meio amarelado  e ela sorriu também e começou a fazer cócegas para que ele sorrisse...
 
Antes de Silveira assumir a sesmaria da Fazenda da Solidão, ele era um próspero comerciante do ramo de importação e mantinha uma grande loja comercial no Rio de Janeiro. Para viabilizar a fazenda,teve que fazer um acordo com o seu sócio para que este assumisse a frente dos negócios, remetendo trinta por cento dos lucros para ele. Nos dois primeiros anos o sócio cumpriu a palavra, mas no terceiro, alegando os danos causados pela peste amarela que matou muita gente, ele não mais remeteu os lucros, e daí para a frente, Silveira teve que se contentar com os mirrados trocados que recebia da venda da produção agrícola e do leite da fazenda, que também não davam resultados satisfatórios.
Para resolver essa questão ele queria ir à capital, para,  com um rábula seu amigo, pedir os balanços da firma e propor que o sócio comprasse a sua parte. Era essa a sua intenção, mas queria levar junto com ele, o Machadão, porque ele também trabalhara na firma e alguma coisa lhe dizia que Machadão lhe poderia ser útil. Foi assim que marcaram a viagem.
 
Viajar para o Rio de Janeiro era uma empreitada que exigia muito planejamento, teriam que levar além dos animais que os transportariam, mais uma besta que carregasse os embornais e picuás de mantimentos e remédios para caso de necessidade. Teriam que levar também os agasalhos de proteção contra o frio da serra da Serra do Mar, as mantas para os protegerem do frio e da chuva, que ocupavam muito espaço na carga. Muitas vezes teriam  que dormir ao relento e se proteger dos ataques dos insetos, teriam que passar junto aos pântanos insalubres da baixada fluminense, e estarem armados e prevenidos para se defenderem dos ladrões das estradas. 
Então, a viagem em dupla, além de não deixar que a monotonia dos grandes percursos lhes afetassem o humor, também era um fator de segurança.
 

Ana Luiza que conhecia muitas estórias de viajantes, ficou mais tranquila quando soube que Silveira tinha decidido levar Machadão em sua companhia. Ficaria saudosa mas menos preocupada.   
                                                                 (continua no próximo capítulo)


elzio
Enviado por elzio em 12/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4184089
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