Tentação ( parte XVII )    ( continuação do capítulo anterior )
 

 
Quando Silveira entrou em casa, Ana Luiza estava acordada, não tinha conseguido dormir, assustada e ilhada na Casa Grande com seus filhos, sem saber como estava Silveira.
Ele estava todo molhado, somente vestido com a ceroula, as roupas e botas nas mãos e sujo de lama. Não era aquele o Silveira que Ana Luiza conhecia, sempre elegante, bem vestido, limpo e perfumado.
- O que aconteceu, senhor meu marido ?
- Fomos separar as porcas e suas crias, retirá-las da seva e colocá-las no curral que é parte mais alta, deu um trabalho enorme para deslocar os animais, gastamos muito tempo para isso e quando quis voltar a água me impediu... Fui parar no quartinho dos arreios, coloquei uma manta no chão e tentei dormir, mas não consegui, quando a água começou a baixar, nadei até quase a porta da cozinha, mas ela estava trancada, então tive que contornar a casa dentro da água e da lama para chegar ao alpendre... E as crianças?
- Elas estão bem, ainda dormem...
- O senhor está machucado, senhor meu marido ?
- Devo ter recebido uma pancada na perna, mas não é nada grave...
- Ah! Mas temos de cuidar disso...
- Nós vamos ter de fazer um levantamento das perdas, quando passei pela escada do alpendre, vi que o perdigueiro Curió estava morto...  Quando o pessoal levantar e as águas baixarem, teremos que sair em campo para levantar os estragos.
Mas, senhora dona Ana Luiza, temos alguma coisa para comer nessa casa ?
- O que o senhor quer comer?
- Gostaria de fazer um lanche, talvez um café com leite e o pão de ló que a Pulcena fez. será que ainda tem dele?
- Vamos ver lá na cozinha, mas primeiro vá para o banheiro para se lavar, vou por a água para aquecer e levar a toalha e outras roupas para o senhor....
 
Assim que o dia clareou, o sol brilhou e ficou disputando espaço com as nuvens que ainda existiam e durante a manhã, chovia ao mesmo tempo em que o sol brilhava. Maria Rosa cantou para as crianças:
- Sol e chuva, casamento de viúva, chuva e sol, casamento de espanhol...
Sem saber o que diziam, as duas crianças repetiam:
- Sol e chuva, casamento de viúva, chuva e sol, casamento de espanhol...
Quando Machadão voltou com os escravos, deu a notícia:
- A única perda que tivemos foi o Curió... Agora vamos ter que trabalhar muito para colocar as coisas nos lugares. As perdas na lavoura só vamos poder avaliar quando toda a água abaixar.O que nós tivemos, senhor Silveira foi uma tromba d'água lá nas cabeceiras do rio... Desde que chegamos aqui nunca choveu tanto como agora, tivemos sorte de ninguém ter morrido...
 
Depois do lanche da tarde, as crianças foram dormir e Ana Luiza aproveitou para descansar com eles. Maria Rosa pediu para arrumar o seu quarto que estava cheio de barro no chão e Ana Luiza a dispensou, afinal, todos estavam cansados naquele dia, não tinham dormido direito.
              
(continua no próximo capítulo)
elzio
Enviado por elzio em 11/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4182453
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.