Pequerrucho a mais bela de todas as amizades
(...) Vou contar uma história que marcou a minha vida, chamo-me Marcos, tenho agora 65 anos de idade, a história que vou relatar acorreu-se no ano de 1966, quando eu tinha então 18 anos de idade, ia eu andando pelas ruas do Rio de Janeiro contemplando suas nuances, estava deveras enleado por tamanha graciosidade, estava no centro da cidade, mas o clima político não estava muito bom naquele tempo e agravou-se mais com o atentado contra o marechal Costa e Silva que concorria à presidência do Brasil, o clima político nesta época era muito tenso e denso por causa da ditadura militar que dominava aqueles dias o presidente era então o Humberto de Alencar Castelo Branco (Castelo Branco), mas deixarei os fatos históricos para os historiadores e vou atentar para o que é importante neste ínfimo relato, irei contar o que realmente marcou minha vida naquele ano.
Como havia dito anteriormente, estava eu a andar e contemplar a bela paisagem quando de longe avistei um pequeno ser, era um ínfimo cachorrinho, estava ele em um beco protegendo-se da chuva que acabara de desabar, havia naquele beco uma pequena marquise, eu que estava sem um guarda-chuva pus-me a esperar de baixo da mesma marquise, quando lá cheguei o pobre do animalzinho ficou um tanto acuado, ficou com medo de mim, pois, ele tivera algumas experiências não muito agradáveis com alguns seres humanos, então eu o chamei... e ele veio meio desconfiado, mas de certa forma ele confiava em mim e eu também confiava nele, então ele chegou perto, eu fiz então um afago em sua pequena cabecinha, seus pelos estavam deveras muito sujos, mas não atentei a esse detalhe, o pobre animalzinho ficou muito feliz até pareceu que nunca ninguém havia feito tamanha mesura a ele, talvez fosse verdade, era um pobre ser desvalido de carinho e amor... Ficamos ali cerca de uns quinze minutos até que a chuva parou, foram os melhores quinze minutos da minha vida e creio que também o foram da vida do pobre animalzinho, pena que chegou a hora de eu partir, disse eu ao pandego cãozinho, parece que ele entendeu, pois logo ficou cabisbaixo e desventuroso, quando eu vi aquela cena eu também me entristeci ficamos ambos sorumbáticos frente a frente, ou melhor, lado a lado, já éramosgrandes amigos quando ameacei sair ele fez que iria seguir-me eu falei para ele ficar e o pobre ficou ali parado a me olhar com os olhos tão tenros, eu parei um pouco e fiquei olhando para aquele ser, ele em seu cantinho todo sujo, então não me contive fui em direção a ele e ele veio em direção a mim, foi uma cena muito linda, lembro-me como se fosse hoje... Peguei-o e fomos para minha residência, minha mãe não gostou muito da ideia, mas viu ela que a amizade e a cumplicidade eram em nós muito acentuada e exacerbadamente grandes, e permitiu-me ficar com o pobre animalzinho, logo o banhei, ele, no principio não se agradou da nova experiência que estava vivendo, mas depois se acostumou e até mesmo regozijou... Pus então nele o nome de Pequerrucho, pois, era ele muito pequeno... A cada dia tornávamos mais e mais amigos e o apego entre nós aumentava em proporções muito acentuadas, era ele decerto o meu melhor amigo e com ele vivi inúmeras quimeras e peripécias que jamais poderei eu esquecer em toda a minha vida. Existem pessoas que não acreditam que uma pessoa possa amar a um animal como quem ama a outro ser humano, que o homem não pode ser amigo de um animal pelas diferenças que eles têm entre si, eu posso afirmar que eu amei o meu pequeno pequerrucho como quem ama a um irmão querido, ele nunca me traiu e muito menosme abandonou durante toda a sua efêmera vida, ao contrário de alguns seres “civilizados” que me traíram e abandonaram-me durante a minha vida... Não quero dizer que os animais são superiores aos homens, mas também não digo que são inferiores a eles, são somente diferentes e temos que respeitar essas diferenças. O tempo foi passando e o pequerrucho foi envelhecendo ele participou dos melhores momentos da minha vida, estava em minha formatura, no meu casamento, quando nasceu meu primogênito lá estava ele também, e entre tantos outrosmomentos marcantes em minha vida ele estava comigo... Até que um dia ele se foi... Após ter ficado muito doente o pobrezinho não aguentou talvez aquele dia tenha sido o pior dia da minha vida, aquele dia sem sol, sem brilho, sem luar, sem estrelas, sem encanto e desventurado, estava eu no meu trabalho quando meu coração começou a doer, foi uma sensação horripilante, com o tempo ela extenuou-se até que então minha esposa ligou-me e disse o ocorrido, ela até tentara o salvar levando ao veterinário, mas, já era muito tarde sua hora havia chegado, eu logo que soube fui correndo para casa, chorava muito deveras, na minha mente às lembranças e as reminiscências saltavam, lembrava-me de tempos tão felizes que vivemos, ao chegar e vê-lo ali inerte sem vida chorei mais e mais, que tristeza meu grande amigo meu companheiro de jornada estava morto!
Recompus-me e fui enterra-lo... O tempo passou, mas o amor que tinha por ele sempre existirá, tinha ele dez anos quando morreu, foi no ano de 1976, já faz 37 anos que estamos sem o saudoso pequerrucho, restaram apenas às fotos já manchadas com o tempo, sempre quando as vejo eu choro copiosamente, pois, lembro-me sempre do melhor amigo que eu tive em toda a minha vida, uma verdadeira amizade que rompeu barreiras, ainda que ela seja entre um pequeno animal e um frugal ser humano, não há diferença entre nós,todos têm os mesmos direitos de viver e de ser feliz, eu acredito que o pequerrucho foi muito feliz vivendo conosco, ele levou para onde foi, uma existência venturosa, não sei para onde vão os animais depois de suas mortes físicas, mas para onde ele foi sempre nos deixará saudades...
Em homenagem a todos que amam os animais, que os protegem, que lutam pelos seus direitos, eu sei que muitos já tiveram uma história parecida com a que eu narrei, embora seja um conto ele retrata o amor que muitos semeiam com os animais não somente com cachorros, mas com todos os tipos de animais existentes... Viva a natureza e a todos os seres que o bom D’us criou...
Por Leandro Yossef Mini Conto (4/3/2013)