Tentação ( parte XVI ) ( continuação da capítulo anterior )
Silveira estava todo molhado e tentava voltar para a Casa Grande à nado, mas a correnteza estava muito forte e ele ficou com medo de não alcançar a outra margem, porque além da correnteza e da escuridão, a água estava arrastando pedaços de madeira, cobras , pequenos animais, galhos de árvores e objetos.
- Não faça uma loucura dessa, patrãozinho!
- Meus filhos estão lá dentro...
- Lá eles estão protegidos, se o senhorzinho insistir eles vão acabar ficando órfãos, venha logo comigo!
Contra um bom argumento não existe discussão, Silveira percebeu que não tinha outra alternativa e seguiu Maria Rosa.
A lamparina se apagou e eles seguiram tateando a mureta que dividia a Casa Grande do alojamento. Daí para diante foram de mãos dadas, atolando em charcos, afundando os pés em buracos, mas mantendo a direção que haviam traçado, até encontrarem o grande pátio fronteiro às cabanas.
Entraram sorrateiramente sem fazer barulho, Maria Rosa na frente, Silveira atrás, empurraram a porta, entraram e fecharam a tramela.
Com as botas encharcadas de lama, as roupas grudadas na pele, colados pela lama e arfando pelo cansaço, os dois estavam um bagaço.
Maria Rosa acendeu o lampião e a luz bruxuleante tomou conta do ambiente. Ela fez sinal para que Silveira ficasse parado junto à porta para não espalhar a lama pelo quarto. Pegou um pano macio e um balde com água limpa, mandou Silveira se despir e limpou-o carinhosamente como ela fazia com o Manuel João. Depois ela própria se despiu e tentou repetir o ritual no seu próprio corpo, mas Silveira tomou-lhe o pano de suas mãos e limpou-a todinha. Quando terminou, apanhou o balde com a água amarelada, abriu a porta e jogou a água fora, deixando o balde debaixo de uma goteira.
Enfim, se abraçaram e se cobriram para afastar o frio. O cansaço fez com que dormissem quase de imediato.
Acordaram antes que a luz da manhã os denunciassem, Silveira beijou-a ternamente, sua mão correu pelo corpo de Maria Rosa acariciando-o, mas quando ele se virou, uma dor aguda na sua perna esquerda fez com que ele interrompesse os carinhos e examinasse o que havia ocorrido. Havia um grande hematoma que ele não conseguia se lembrar da procedência. Devia ser do momento em que lutara contra a correnteza, talvez alguma madeira arrastada tenha se chocado contra a sua perna, mas na ânsia de se afastar do perigo não tenha percebido.
Abraçou Maria Rosa, beijou-a com ternura e agradeceu:
- Devo minha vida ao seu bom senso... Muito provavelmente não teria conseguido chegar em casa, você foi providencial, muito obrigado, você é um anjo...
Aquele elogio, para ela, valeu mais do que a noite de amor que não fizeram.
Silveira colocou sua roupa de baixo, segurou as botas e as demais roupas, e já ia sair, quando Maria Rosa o interrompeu, colocando-se no seu caminho.
- Espere, vou ver se tem alguém aí fora...
Em seguida, chamou-o e ele saiu. A água já estava baixando, mas o seu pé afundava na lama, que em alguns pontos chegava na canela. Mais além, a água ainda estava lá, profunda, mas sem correnteza. Ela agora fazia o movimento contrário, dirigindo-se para o rio. Ainda chovia, mas não fortemente como antes e ele teria que atravessar a água que cercava a Casa Grande, mas agora sem correnteza, seria mais fácil. Assim mesmo fez uma enorme volta para encontrar um ponto em que o nível da água estava mais baixo. Sua perna doía, mas não era uma dor aguda, estava suportável.
Depois de grande esforço atravessou a água e tentou entrar pela cozinha, mas a porta estava fechada. Deu a volta e conseguiu chegar à varanda, quando olhou para a charrete, os cachorros estavam em cima dela, mas o perdigueiro Curió, estava estirado junto à porta, morto.
Silveira se sentiu como se fosse o Curió, querendo voltar para casa e colhido por alguma tora de madeira. Então, teve certeza, Maria Rosa salvou a sua vida.
(continua no próximo capítulo )
Silveira estava todo molhado e tentava voltar para a Casa Grande à nado, mas a correnteza estava muito forte e ele ficou com medo de não alcançar a outra margem, porque além da correnteza e da escuridão, a água estava arrastando pedaços de madeira, cobras , pequenos animais, galhos de árvores e objetos.
- Não faça uma loucura dessa, patrãozinho!
- Meus filhos estão lá dentro...
- Lá eles estão protegidos, se o senhorzinho insistir eles vão acabar ficando órfãos, venha logo comigo!
Contra um bom argumento não existe discussão, Silveira percebeu que não tinha outra alternativa e seguiu Maria Rosa.
A lamparina se apagou e eles seguiram tateando a mureta que dividia a Casa Grande do alojamento. Daí para diante foram de mãos dadas, atolando em charcos, afundando os pés em buracos, mas mantendo a direção que haviam traçado, até encontrarem o grande pátio fronteiro às cabanas.
Entraram sorrateiramente sem fazer barulho, Maria Rosa na frente, Silveira atrás, empurraram a porta, entraram e fecharam a tramela.
Com as botas encharcadas de lama, as roupas grudadas na pele, colados pela lama e arfando pelo cansaço, os dois estavam um bagaço.
Maria Rosa acendeu o lampião e a luz bruxuleante tomou conta do ambiente. Ela fez sinal para que Silveira ficasse parado junto à porta para não espalhar a lama pelo quarto. Pegou um pano macio e um balde com água limpa, mandou Silveira se despir e limpou-o carinhosamente como ela fazia com o Manuel João. Depois ela própria se despiu e tentou repetir o ritual no seu próprio corpo, mas Silveira tomou-lhe o pano de suas mãos e limpou-a todinha. Quando terminou, apanhou o balde com a água amarelada, abriu a porta e jogou a água fora, deixando o balde debaixo de uma goteira.
Enfim, se abraçaram e se cobriram para afastar o frio. O cansaço fez com que dormissem quase de imediato.
Acordaram antes que a luz da manhã os denunciassem, Silveira beijou-a ternamente, sua mão correu pelo corpo de Maria Rosa acariciando-o, mas quando ele se virou, uma dor aguda na sua perna esquerda fez com que ele interrompesse os carinhos e examinasse o que havia ocorrido. Havia um grande hematoma que ele não conseguia se lembrar da procedência. Devia ser do momento em que lutara contra a correnteza, talvez alguma madeira arrastada tenha se chocado contra a sua perna, mas na ânsia de se afastar do perigo não tenha percebido.
Abraçou Maria Rosa, beijou-a com ternura e agradeceu:
- Devo minha vida ao seu bom senso... Muito provavelmente não teria conseguido chegar em casa, você foi providencial, muito obrigado, você é um anjo...
Aquele elogio, para ela, valeu mais do que a noite de amor que não fizeram.
Silveira colocou sua roupa de baixo, segurou as botas e as demais roupas, e já ia sair, quando Maria Rosa o interrompeu, colocando-se no seu caminho.
- Espere, vou ver se tem alguém aí fora...
Em seguida, chamou-o e ele saiu. A água já estava baixando, mas o seu pé afundava na lama, que em alguns pontos chegava na canela. Mais além, a água ainda estava lá, profunda, mas sem correnteza. Ela agora fazia o movimento contrário, dirigindo-se para o rio. Ainda chovia, mas não fortemente como antes e ele teria que atravessar a água que cercava a Casa Grande, mas agora sem correnteza, seria mais fácil. Assim mesmo fez uma enorme volta para encontrar um ponto em que o nível da água estava mais baixo. Sua perna doía, mas não era uma dor aguda, estava suportável.
Depois de grande esforço atravessou a água e tentou entrar pela cozinha, mas a porta estava fechada. Deu a volta e conseguiu chegar à varanda, quando olhou para a charrete, os cachorros estavam em cima dela, mas o perdigueiro Curió, estava estirado junto à porta, morto.
Silveira se sentiu como se fosse o Curió, querendo voltar para casa e colhido por alguma tora de madeira. Então, teve certeza, Maria Rosa salvou a sua vida.
(continua no próximo capítulo )