Tentação ( parte IX ) (continuação do capítulo anterior)


O senhor Adalberto, embora tenha demonstrado irritação por Silveira ter precipitado o retorno de Ana Luiza e as crianças, providenciou para que fosse preparada uma charrete para levá-los, de tal modo que Ana Luiza e as crianças embarcaram nela, seguindo Silveira no seu animal.
No dia seguinte Silveira providenciaria o retorna da charrete, cabendo a Machadão voltar na charrete, tendo um animal arriado e nela amarrado, para que ele retornasse à Fazenda da Solidão.
Ana Luiza, que ostensivamente estava de mau humor, aproveitou-se da distância entre os dois para não pronunciar uma palavra sequer.

Quando passaram pelo recanto do regato, Silveira lembrou-se dos momentos prazerosos que teve com Maria Rosa, da hora em que ela levantou a saia deixando à mostra o par das coxas grossas e do decote em que seus lindos seios eram vistos.
Veio-lhe a imagem da menina falante, beijando-lhe as faces, os lábios, correndo sua mão pelo seu pescoço, pelos cabelos do peito, no momento em que ousadamente ficaram nus no meio do pasto e fizeram sexo, correndo o risco de serem vistos por alguém.
E no canto dos seus lábios, poder-se-ia notar um recatado sorriso. Desde jovem não havia se permitido fazer essas pequenas loucuras que temperam e apimentam a vida.
Quando comparava a insipidez da sua vida , toda regrada, onde tudo seguia a um ritual,em que nada podia se afastar daqueles cânones traçados, e os últimos momentos em que quebrara totalmente as regras impostas pela sociedade, sentia-se mais liberto, como se fosse uma liberdade selvagem. Uma liberdade na qual ele corria riscos, mas valia a pena.

Lembrou-se da estória de vida de Maria Rosa e comparou-a com a de Ana Luiza, em que uma foi o resultado de conquistas e na outra tudo veio de mão beijada e recordou-se de que Maria Rosa lhe informara que a condessa havia lhe transmitido os conhecimentos que tinha, quando aprendeu a ler e a escrever e a trabalhar com os algarismos. Que ela poderia ser aproveitada como professora para os meninos, o que na época era muito difícil de se encontrar.
Mas isso ele deixaria para que Ana Luiza descobrisse e tomasse as providências.

As crianças foram acomodadas e dormiram no chão da charrete, protegidos por cobertores e travesseiros. Ana Luiza tinha muita perícia em conduzir o veículo, o animal obedecia ao seu comando e viajaram em segurança, chegando quase na hora de cair a noite. As crianças só acordaram com os latidos dos cães, agora estavam em casa e Silveira interiormente estava satisfeito, porque com a família em casa, o ímpeto de Maria Rosa também ficava refreado, e ele, por sua vez, menos atiçado pela tentação.

Acomodaram as crianças no quarto e Silveira convocou os escravos na cozinha, para apresentá-los à Ana Luiza.
A patroa ficou emocionada quando conheceu Pulcena, abraçou-se a ela e também chorou quando ela lhe contou da saudade que estava sentindo dos dois filhos.
Por empatia, Ana Luiza estava se colocando no lugar da outra, imaginando se fosse com ela, tendo de se separar de Manoel e Antonio João, sendo levados para a guerra...
Ubirajara, Ubiratan e Moacir observavam aquela cena em silêncio respeitoso e Ubirajara, também emocionado, agradeceu intimamente por ter encontrado aquela família e a solidariedade que receberam.

Cansados pela viagem, Silveira e Ana Luiza foram dormir.
No seu quarto, Maria Rosa custou a dormir, ficou conjecturando o que o casal estava fazendo, consciente de que dali pra a frente, tudo seria diferente.
Silveira, por seu lado queria que, com a chegada de Ana Luiza e as crianças, e com a rotina da casa intensificada, houvesse um rompimento da tentação que o atormentava, mas que ao mesmo tempo trouxera um novo alento para a sua vida, como se um vento tivesse soprado, trazendo-lhe novos ares de juventude.
Enfim, aquele dia difícil estava terminado.

                                (continua no próximo capítulo)
elzio
Enviado por elzio em 03/03/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4169277
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