Tentação (parte V)           (continuação do capítulo anterior)

Silveira acordou cedo,tão logo o sol nasceu, lavou-se, trocou de roupa, e chamou Machadão, ordenou que arriassem quatro animais e convocou Ubirajara e Moacir para que fossem com eles, percorrer a propriedade.
Subiram um morro de pastagem plantado com capim braquiária e amarraram os animais num bambuzal usado como sombra para o gado.
De lá,da parte mais alta da fazenda, divisavam o rio, desde a grande curva, até a parte encachoeirada. A sede da fazenda ficava junto a um remanso numa curva do rio onde a água perdia velocidade, e por isso mesmo, um bom lugar para pescaria.
No lado do oriente, a mata era fechada, com muita madeira nobre. Silveira, apontando, ia mostrando as áreas onde havia mata, onde estavam as plantações e onde ele queria desmatar para ampliar a sua fronteira agrícola.
Pelo volume de madeira existente Moacir sugeriu que fosse montada uma serraria e Silveira respondeu que ele já havia pensado sobre isso e não tinha descartado a ideia, mas havia uma outra prioridade,ele queria aproveitar o desnível do rio e fazer uma canaleta paralela ao seu leito, para captar água para fazenda, evitando o transporte da água em lombos de burros. Dali mesmo visualizaram como tinha que ser feito o canal e quais os materiais de que precisariam.
Perguntou se algum deles tinha experiência em retirar pedras em pedreiras, porque o canal teria que ter a proteção interna com lajotas de pedras, para que não infiltrasse e desbarrancasse.
Moacir disse que se tivesse mais dois homens e um carro de bois, ele próprio retiraria as pedras, desde que tivesse as ferramentas.
Ao Ubirajara ele pediu sugestões do que plantar e Ubirajara apontando para uma determinada área sugeriu plantar um canavial, Silveira lhe disse que realmente aquela área seria a ideal para um canavial, mas que o corte da cana exigiria muita mão de obra e que via como empecilho também o transporte muito caro em carros de bois. Se por outro lado resolvesse industrializar, construindo um alambique, para produzir cachaça, ele não gostava da ideia porque onde se produzia cachaça a mão de obra virava um bando de alcoólatras e viciados o que desvalorizava a fazenda e criaria muito problema social.
Ubirajara que sempre era sério, riu muito e se fez de bêbado e todos riram também. Depois de muito discutirem, Silveira pediu que cada um pensasse no assunto para que depois ele pudesse tomar a decisão. O que estava decidido era a captação de água.

Voltaram na hora do almoço, comeram arroz, feijão e frango ao molho pardo, com angu, e Silveira foi para o seu escritório. 
Estava fazendo um esboço do canal quando Maria Rosa bateu na porta com uma jarra de limonada.
- Patrãozinho, um refresco de limão para o Senhor...
- Obrigado, Maria Rosa, pode deixar aí na mesa e por favor, chama o Moacir e o Machadão para mim.
Maria Rosa saiu e a porta foi novamente fechada.

Corria o ano de 1864, o Natal estava chegando, o calor estava insuportável e não chovia há mais de quinze dias, o que era atípico porque estavam na época das chuvas.
Silveira ouviu um tropel de muitos cavalos e foi para a varanda. Chegava um grupo de aproximadamente vinte militares. Pararam junto ao alpendre, apearam e amarraram os seus animais.
Na frente, estava um capitão, que Silveira identificou pelas insígnias, havia também um tenente, um sargento e os demais eram soldados.
 O capitão se adiantou e cumprimentou Silveira:
- Senhor, és o dono da fazenda? disse com sotaque gaúcho.
- Pois não, sou o dono da fazenda, meu nome é Silveira, vamos entrar?
- Minha estadia é breve,senhor...
- Pois não, em que posso ser útil? Aceita água,um refresco ou algo mais?
- Aceitamos água, por favor, meu nome é Capitão Valadares, e estamos numa missão. Concomitantemente o militar tirou de uma bolsa de couro um documento que mostrou a Silveira. 
Ele leu o documento com atenção e ficou lívido,mas tinha que obedecer a ordem.
No documento havia uma convocação militar para que os irmãos Mário e Marcos se apresentassem para lutar na guerra do Paraguai. Confiscavam ainda, dois animais e arreios para ficar sob a custódia do exercito brasileiro.
Silveira mandou chamar Ubirajara, Pulcena, os dois rapazes e Maria Rosa, comunicou a convocação e lamentou o ocorrido.
Os irmãos gêmeos pareceram receber a convocação com naturalidade, e Marcos perguntou ao oficial:
- Depois da guerra ficaremos livres?
-  É o que diz o documento,ele respondeu secamente.
Os dois rapazes se apresentaram, selaram seus animais e seguiram com a tropa.
                      
(continua no próximo capítulo)
elzio
Enviado por elzio em 27/02/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4162088
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