Você não podia beber água e eu não podia abrir os olhos
Acabou, em um vestido de tons azuis, os olhos vermelhos e uma vergonha desesperada. Quando saiu, sabia que não voltaria, talvez, com fé, só levaria um tempo, então com olhos de despedida fotografou cada coisinha ali, pra não esquecer.
As lembranças chegaram, primeiro como algo que você agarra faminta, depois só pra escorrer aquilo tudo ali de dentro e a medida que escorria se formavam borrões numa história que nunca mais seria contada sem querer arrancar pedaços. Os olhos permaneciam fechados, sobretudo, quando tentava continuar, tinha medo de não se importar mais, então sem enxergar era mais fácil desenhar aqueles lábios, os olhos pequenos e aquelas mãos que outrora se entrelaçavam na suas.
Quando por algum momento voltava a abrir seus olhos grandes, eram sempre de espanto que se tingiam, não havia mais sorriso fácil, nem noites tranquilas e depois não havia mais nada, como se permanecessem fechados poderiam dizer mais do que daquele modo engasgado, daquelas dores que não se pode resolver, só esperar que algum vento as leve.
Mas ele voltou, com aquele mesmo jeito que a fazia reparar em si mesma, as mesmas mãos que a segurava inabalável e a fazia desesper(t)ar, abria os olhos novamente, queria ver aquelas mãos segurando firme dois copos d'água.