Tentação (parte III) - (leia o anterior)

Silveira entrou na sede da fazenda com a escuridão da noite. Foi para o seu quarto na esperança de dormir, mas sentiu o cheiro de alfazema e se reportou imediatamente para os momentos vividos com Maria Rosa. As lembranças dos seios volumosos, dos quadris dançantes, da vulva úmida e quente, dos seus beijos e da penetração. Lembrou-se da hora em que ela segurou sua mão, com a candura de uma criança e começou a chupar seu dedo indicador... Recordou-se de quando ejaculou nela todos os seus desejos reprimidos. Tentou lembrar da paz que almejara alcançar e não a encontrou. Foi nessa hora que bateu de frente o remorso pela infidelidade cometida. Veio-lhe a figura de Ana Luiza, da brancura do giz, com seus cabelos pretos anelados, numa imagem chorosa e triste, dos seus dois filhos Manuel e Antonio João sofrendo com a irresponsabilidade do pai. Uma tristeza profunda pelo malfeito, uma dor lancinante no peito e o choro que não queria sair.
Pensou em Ana Luiza, apegada à família, deslocando-se para dar assistência à avó acidentada e à mãe que sofria de horríveis dores na coluna. Enquanto ela se dedicava à família, ele estava jogando fora os valores familiares. Foi nesse momento que decidiu que levaria Maria Rosa para a casa do sogro para que ela desse assistência à avozinha acidentada e assim traria de volta Ana Luiza e as crianças. Desse modo se resolveria a questão de uma vez, se afastaria de Maria Rosa e da sua presença sedutora e voltaria a normalidade do lar. Depois então, da longa recuperação da velhinha, ela também retornaria, mas sem seus poderes de sedução, porque o tempo é o melhor remédio para isso.

Dormiu um bom sono e quando acordou já passava das oito horas, foi para a cozinha onde o café estava quente sobre a chapa de ferro do fogão. Pulcena havia feito um bolo de milho e bolinhos de chuva, as frutas completavam o cardápio.
Chamou Machadão e pediu que preparasse a charrete e falou com Pulcena para avisar Maria Rosa que ela iria com ele para a casa do sogro e que teria que passar uns dias por lá, que preparasse suas roupas necessárias.
Era uma viagem de três horas por uma estradinha precária onde em certos pontos só dava passagem para uma charrete, em alguns trechos tinham que transpor ladeiras íngremes o que sacrificava muito ao animal.
A charrete corria ora rápida, ora devagar, havia um silêncio muito grande entre os dois.
Quando Silveira lhe comunicara que ela ficaria uns dias na Fazenda das Pedras, ela ficou decepcionada, não era aquilo que esperava. Afinal, investiu numa relação perigosa, estava gostando do jogo e aquela viagem poderia significar a perda de todo o seu investimento, o pior, gostava do Silveira, ele era um bom amante e ela confiara nele, o passo que iria dar seria um retrocesso.
Silveira notou que não era boa hora para dar explicações, sua relação teria de ser de senhor para escrava, e nada mais.
Passaram por um bosque onde bois pastavam, havia água corrente e Silveira resolveu parar para dar o que beber ao animal. Maria Rosa se refrescou, levantou a saia e entrou no regato, fazendo questão de mostrar seus dotes, pernas roliças e seios querendo sair do decote.
- Patrãozinho, não vai se refrescar?
- Não Maria Rosa, vou me refrescar quando chegarmos.
- O Senhor não vai me deixar muito tempo nessa fazenda, vai?
- Não Maria Rosa, só o tempo necessário...
- Estou com medo do Senhorzinho me abandonar... Falou com um tom de voz bem suave.
- Você não tem que ter medo de nada, Maria Rosa.

Em menos de meia hora estavam chegando na porta da Fazenda da Pedras, seus filhos Manuel e Antonio João estavam brincando com outras crianças junto da escada que dava acesso à sala.
- Que crianças lindas, exclamou Maria Rosa, e disse baixinho, puxaram ao pai...
As crianças rodearam Silveira e todos foram entrando pela casa.
Ana Luiza estava no quarto da avó e quando ouviu a algazarra das crianças, veio recebê-los.
Abraçou-se a Silveira, levou as mãos em volta do seu rosto e agradeceu a Deus pelo seu retorno são e salvo.
Maria Rosa admirava tudo em silêncio e observava a beleza de Ana Luiza, sua pele alva, seus cabelos pretos, anelados, a brancura dos seus dentes e o seu sorriso.
Percebeu de imediato que era uma mulher determinada e inteligente.
Dona Ana Luiza, disse Silveira , essa é Maria Rosa, que eu trouxe para ficar aqui e ajudar a cuidar da vovó.
- Olá, Maria Rosa, vamos para a cozinha vocês devem estar com fome, depois nós falaremos sobre isso...
Silveira percebeu que as coisas estavam diferentes do que ele imaginara, talvez o caso da vovó fosse mais grave do que parecia.
Foram almoçar, Antonio João aboletou-se no seu colo e nem durante a refeição desgrudou-se dele.
Quando terminaram de almoçar foram visitar a vovó, que já havia acordado e todos entraram no quarto.
- Quem é essa moça, perguntou a avó.
- É Maria Rosa, que agora mora lá em casa conosco, disse Silveira, acrescentando:
Ela veio ficar aqui uns dias, porque a Dona Ana Luiza deve voltar comigo...
A velha fez uma cara de reprovação e pediu:
- Deixe-me falar com minha neta...
Todos saíram ficando somente as duas no quarto.
Logo depois Ana Luiza chamou Silveira para conversarem e os dois foram para um dos quartos, Maria Rosa ficou brincando com as crianças.
Dona Ana Luiza, com um olhar de seriedade que Silveira conhecia muito bem, com a cerimônia que a caracterizava, lhe disse:
Senhor meu marido, essa noite o senhor vai dormir aqui, eu não vou voltar ainda com o senhor, porque a minha avó precisa de mim e ela não aceita ser tratada por essa estranha, você bem sabe, ela não gosta de negros, e além do mais ela não quer que eu me afaste, porque terei que levar as crianças...
- As pessoas são todas iguais, a senhora bem sabe disto, nós temos conversado tanto sobre isto, sobre discriminação...
- Bem sei, meu senhor, mas vá explicar isto para uma velha que já está beirando a morte... São as manias dela que vão morrer com ela, façamos sua vontade, não nos custa, amanhã o senhor volta, leva a moça e vem toda semana para nos visitar.
- Se assim melhor lhe parece, que seja...
No dia seguinte, depois de se despedir de seu sogro e da sogra, beijou Ana Luiza na testa, beijou as crianças e voltaram para a Fazenda da Solidão, Maria Rosa ficou radiante pelo acontecido.
                            
  (segue no próximo capítulo)
elzio
Enviado por elzio em 25/02/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4158992
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