MEU DEFEITO: MINHA ORIGEM!
 
 
Vera Lúcia, uma jovem e meiga moça do interior, veio pra cidade grande em busca de dias melhores, afinal de contas ninguém está condenado a viver onde nasceu, mas todos podem sonhar e correr atrás dos seus sonhos. Se possíveis de realizar aí é outra história, mas pelo menos vamos tentar, fraco é aquele que diz que sonha, mas não age, fica parado esperando do céu o que nunca virá.
Chegou à cidade buscou um local simples para ficar, haja vista que não tinha lá essas posses, o dinheiro era pouco, mas dava para ficar morando e sair em busca de um emprego. Estava determinada, queria ser alguém e dar orgulho aos seus pais, um casal de operários da terra, pessoas humildes que sonhavam em ter dias melhores.
Vera Lúcia a mais velha dos três filhos, iria tentar se desse certo logo estaria mandando um dinheirinho para melhorar a vida dos que ficaram. Na cidade tudo colaborava para o sucesso, arrumou um emprego modesto, passou no vestibular de uma instituição séria para o curso de engenharia do meio ambiente, seriam cinco anos de luta, mas como já dito estava determinada, queria vencer.
Iniciou o curso, recorreu a secretaria para pedir um auxílio ao universitário, pois as despesas eram maior que as receitas, precisaria fazer um ajuste, ou passaria necessidade e talvez não conseguisse pagar a faculdade.
No segundo mês tudo já estava arrumado, fez boas amizades e sempre foi verdadeira, dizendo da sua origem pobre, humilde mas honesta. Que estava ali para poder dar dias melhores aos seus pais e irmãos que haviam ficado no interior do estado sonhando com seu sucesso e portanto, não poderia decepcionar.
Passados os dois primeiros semestre Vera Lúcia continuava firme e forte, lutava arduamente por seus ideais, os amigos faziam de tudo para ajudá-la, por alguns motivos, dentre eles por ser uma pessoa sempre sorridente e as vezes a melhor contadora de piadas na sala de aula, fazia graça com sua própria dificuldade de vida.
Sempre na segunda feira tinha mania de fazer todos rirem, dizia ela que assim a vida passaria mais rápido e ela logo se formaria. Fazia gracejos dizendo que no dia anterior havia intentado várias incursões pelas casas dos amigos em busca de filar um almoço, porém, todas frustradas, todos estavam em balneários ou nos seus sítios, e pedia que, por favor, no domingo seguinte que alguém ficasse em casa que ela o visitaria, arrancando sorrisos de todos em sala de aula.
Vera Lúcia não tinha jeito, era um doce de pessoa e sabia conquistar a todos, até os professores sempre estavam prontos a atender seus pleitos. Por todas essas brincadeiras se tornou uma líder natural, qualquer dificuldade corriam a lhe pedir ajuda para sua intervenção junto aos mestres.
Certo dia ao visitar a casa de um professor que comemorava o nascimento do seu primeiro filho, alguns colegas presentes e como não podia faltar, Vera, havia chegado cedo, prestativa, estava enturmada com a esposa do professor já fazendo comidas, os preparativos etc. foi uma confraternização, os colegas da faculdade compareceram em massa, afinal de contas o homem era o professor de cálculos, matéria difícil e sempre se precisa de uma amizade que pudesse conseguir alguns décimos para passar de semestre.
No final da festa todos estão a observar que durante o dia, Vera Lúcia não parou de conversar com um certo rapaz, de quando em vez um dos colegas por ela passava e fazia um gesto insinuando que ela estava querendo dar um golpe no rapaz. Ao que parecia não seria apenas amizade, mas namoro na certa e, Vera precisava de alguém que com ela pudesse somar quem sabe aquele fosse o príncipe.
Dias depois os colegas na sala de aula começam a perceber a mudança em Vera, claro que para melhor, ela estava namorando o rapaz da festa, com um detalhe, ele era juiz de direito, recém empossado no cargo, com um futuro brilhante pela frente. A vida estava a favor de Vera, agora quem sabe de repente poderia casar e viver uma boa vida, e certamente, poderia ajudar seus pais que ainda estavam no campo.
Durante todo o restante curso de engenharia Vera Lúcia esteve a namorar, até que certo dia, ao chegar à faculdade todos percebem sua mudança drástica, dessa vez para pior, parecia que havia chorado horas, com o rosto inchado, triste e pouco falava, quando foi interpelada pelos colegas desabou em choro, havia perdido o namorado, segundo ela porque a família do rapaz havia chegado na cidade e descobriram que ela era filha de pessoas humildes, pobres, o que causou uma rejeição por parte da família do futuro esposo.
As amigas foram unânimes em afirmarem que se ele de fato gostasse de Vera Lúcia nem ligaria para isso, e poderia dizer para a família dele e cuidar da vida deles, porque não existe em lugar nenhum escrito que para ser feliz só pode casar com quem for rico, de origem aristocrática etc. mas aos olhos dos colegas, o namorado estava arrumando uma desculpa para se livrar de Vera, talvez ele tivesse arrumado uma outra juíza e quisesse ficar com alguém do seu nível social, isso sim seria possível.
Passados algumas semanas romperam em definitivo, Vera que já era magra, com seu 1,55m quase sumiu, definhou, perdeu toda alegria e quase não era mais percebida em sala de aula. Os amigos preocupados se reuniram e deram “um gás na pobre Vera”, fizeram de tudo para ela retomar sua vida e conseguiram. Agora sozinha novamente estava apta a tomar um novo rumo. Voltou a sorrir e nem comentava mais sobre o assunto.
Seis meses depois todos se formaram, houve festa, colação de grau, brincadeiras etc. Vera Lúcia que já fazia estágio foi contratada por um organismo internacional, saiu de um simples salário de estágio e passou a ganhar vinte vezes o salário mínimo, estava feliz e radiante, quando soube que seu ex-amado havia casado com uma moça aprovada pela família, uma também juíza, parecia que Vera Já sabia das suas intenções, porém, repentinamente por telefone ele veio lhe pedir desculpas e com ela desabafar, pois estava infeliz, havia descoberto que sua recém esposa o estava traindo, que todos no meio da magistratura já comentavam seu fracasso matrimonial. Vera como que por vingança deu um estrondoso sorriso, e disse-lhe a seguinte frase: “segure o chifre que ele é seu, seja feliz, e quando for entrar em casa abaixe a cabeça para não topar”. Desligando o telefone.
Vera Lúcia lutou e brilhou na vida, estava feliz, fez uma reunião de despedida do curso com os colegas, todos estavam presentes, alguns professores, os formados e os que não conseguiram formar foram ao evento, realizado nas dependências da faculdade. Vera escreveu um verso para cada um, antes contou da sua chegada na cidade, das dificuldades, dos problemas enfrentados, chorou muito e fez todos chorarem, foi emocionante, citando Shakespeare disse: aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... posso apenas dar boas razões para que gostem de mim... e ter paciência para que a vida faça o resto...”. foi aclamada por todos, gritos de vivas à Vera, a festa foi marcante. Por fim, Vera Lúcia sobe numa pequena mesa e pedindo atenção de todos, diz: fui violentada no meu direito de amar, de ficar ao lado de quem havia escolhido para viver, pelo simples fato de não ter a origem que queriam que eu tivesse, mas eu tinha o amor, a fidelidade, a honra, a vontade de vencer e venci, hoje estou só, mas será por pouco tempo, disso eu tenho certeza, porque posso não ter origem rica, mas ainda serei nesta vida.