Cotidiano.
Os dois estavam na frente de uma livraria olhando de forma distraída para os livros ali expostos.
— Acho que li esse livro quando era criança.
Ana falou e logo em seguida sorriu com o brilho que só uma boa lembrança traz a memória.
— É um bom livro.
Carlos respondeu olhando o exemplar de "O Pequeno Príncipe" em uma das prateleiras e depois mirou o sorriso sincero da mulher que segurava a sua mão. Já faziam alguns minutos que estavam ali.
— Acho que vai chover. — Ela disse voltando a ter a expressão vazia que carregava antes.
— Também acho.
O vento começou a bater forte contra os cabelos de Ana e ela se abrigou no corpo de Carlos.
— Vamos para casa? — Ela perguntou.
— Vamos.
Caminharam alguns passos, até que Ana parou, puxando o braço de Carlos como o de uma criança implorando um doce a uma mãe apressada.
— O que foi? — Ele perguntou sem entender muito bem.
— "Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo."
Ela disse com um tom solene.
— Han? O que?
— O Pequeno Príncipe. O livro. Você não vai comprar?
— Não era pra irmos pra casa agora?
— Depois que você comprar meu livro.
Alguns minutos depois eles saíram da loja. Um encontrando a felicidade nos olhos do outro.
A chuva os pegou no meio do caminho. Ana aninhou-se ao corpo de Carlos e segurou o livro contra o peito com toda a força que tinha.
— Você não vai me abandonar nunca, Carlos?
— Nunca — Ele disse ao ver a água da chuva se misturar com as lágrimas salgadas que desciam dos seus olhos sem que Ana visse. — Nunca. — Ele repetiu.