O Vestido Verde- Parte I
Era uma vez uma vidente, que morava em uma aldeia. Esta vidente curava as pessoas, por meio de suas poções e sortilégios e fazia o Destino dos pobres místicos aldeões, que acreditavam fielmente em cada palavra de suas logras previsões. Ela morava em um casebre pequeno e recebia bem pelas curas e previsões.
Certa vez chegou um jovem alquimista na aldeia...
***
Parte I
O alquimista, pouco a pouco, foi conquistando os aldeões e provando-lhes que meros sortilégios não têm forças contra sua ciência, e a Vidente, acuada, foi perdendo seus clientes cada vez mais.
- A cura está no meio da natureza, e não nas poções mentirosas... A diferença entre os remédios e os venenos é simplesmente a dose- disse o Alquimista em praça pública. –
Um a um, os aldeões deixaram de se consultar com a vidente; que agora não passara de uma simples mulher que só adivinhava os romances de donzelas doidas por casamentos. Ora, o jovem alquimista guardava um ódio enorme pela vidente charlatã que habitava a Aldeia, e, para ele, não só bastava vê-la ficar pobre, mas acabar de vez com sua encenação.
Era por volta das três da tarde, quando o alquimista chegou em meio a praça e começou um discurso nada carismático contra a Vidente:
- Meus caros irmãos, o destino de vocês está em vossas mãos e não nas de uma mulher... Borra de café, bola de cristal, quiromancia, cartas nada disso pode construir o vosso destino. Vocês já perderam muitas moedas de ouro com suas desleais previsões e seus falsos remédios; por isso hoje vocês podem ser livres da dominação das Trevas e da superstição. Se...
E um aldeão perguntou:
- E como poderemos nos libertar desse mal?
O jovem alquimista se encheu de orgulho e, com poucas palavras, respondeu:
- Vamos expulsa-la...
E juntos foram marchando até o velho casebre da Vidente, que nem nos seus piores pesadelos poderia supor que algo assim lhe acontecesse. Todos reunidos e liderados pelo alquimista cercaram a casa e exigiram que a pobre Vidente saísse. Ao sair e ver uma multidão enorme em volta da sua casa, ela exclama:
- Calma! Calma! Posso atender a todos, mas um de cada vez!
- Não viemos em troca de seus serviços, sua charlatã. Queremos que você vá embora de nossa aldeia e de nossas vidas- disse o Alquimista. –
- Eu não sou charlatã, e nem vou embora...
O alquimista foi para frente da vidente e gritou bem forte:
- Diga algo do meu futuro!
Ela silenciou... Os aldeões ficaram perplexos com o silêncio da mulher que muitos ainda acreditavam que teria sido agraciada por Deus com os seus dons.
- Eu não vou sair. - retorquiu a vidente. –
Os aldeões pegaram tochas e jogaram na casa da vidente, que, sem ter para onde ir e o que fazer, olhou para seu casebre em chamas e, com seus olhos cheios de lágrimas, disse soluçando ao alquimista:
- Amaldiçoo-te com um mal pior que a morte... Você não vai beber e nem comer, não vai trabalhar e nem dormir, vai viver com os laços dessa maldição, uma maldição que vai te corroer até a morte...
- Eu não acredito em maldição- retorquiu ele. -
- Pois acredite, e o seu nome, é amor...
A Vidente foi para o campo e por um tempo não voltou a ser vista. Não exatamente do jeito que ela era...
***