Folhas em Branco

Conseguiu deixar tudo mais bagunçado aqui dentro. E o pior, é que eu gostei da bagunça que ele causou. Gostei de vê-lo revirar as pilhas de livros em busca de uma página minha em branco. Uma página por ser escrita. Queria deixar um bilhete de bom dia, enquanto saia sem eu perceber. A verdade é que eu percebi a falta dele. A falta do seu calor, dos seus braços envolto nos meus pela manhã quente. Senti a falta dos seus beijos em meus lábios, do seu toque. Senti faltar algo, e esse algo era ele. É estranho, mas eu senti, embora mantivéssemos uma relação um tanto limitada. Sem muito envolvimento. Mas como não se envolver com quem quer tua paz, com quem quer o bem estar da tua alma, com quem te dar motivos pra sorrir e procura entender tuas dores, mesmo que não as compreenda? Como dizer NÃO para quem continua do teu lado independente do SIM? Me respondam, como eu poderia dizer não para aqueles olhos que transbordavam carinho e afeto, sinceros e de uma naturalidade incrível? Como poderia negar a mim essa vontade de ser feliz? Eu me julguei merecer, o merecer. Me julguei livre de qualquer culpa e peso na consciência. Não encarava aquilo da forma que muitos talvez encarassem. Estava sendo feliz, sem pretensão de ser. E isso era o ápice de minhas ideologias do que viria a ser a felicidade. Posso estar enganado, posso estar errado, mas quem nunca esteve? Quem nunca cometeu erros e enganos e por fim acabou descobrindo que na verdade eram acertos, verdades disfarçadas, razão garantida e estendida? No que diz respeito a minha vida, ele não era o que ocupava o papel principal, havia outro. Mas comportava-se como se fosse, e isso não era proposital. Era espontâneo. Ele queria me fazer feliz, mas não deixava essa verdade escancarada, não dava na cara, não era imposta na condicional. Ele estava ali por ele, mas muito mais por mim. Não tenho certeza disso, mas era o que eu sentia. Ele costumava estar sempre diante de mim, como quem me espera em cada esquina. Esbarrava com ele em meus sonhos, e em meus pensamentos vivia um encontro as escondidas. Minha sombra vivia sendo confundida com a dele. E em meu caminho encontrei seus passos confundidos propositalmente com os meus. Não era mais um destes casos de bares de esquinas, pensei que iria embora com o carnaval, mas acabou por ficar e se intensificar. Acabou por fazer parte daquela folha em branco. E sinceramente? Tô afim de deixar que continue assim, a acontecer. Sou complicado demais, ele sabe disso, mas nem essa minha bagunça faz ele ir embora e eu no fundo nem quero que vá. Na verdade torço pra que fique, fique até quando dê pra ele, pra gente e faça um pouco mais de bagunça e decida preencher todas as outras folhas em branco. Talvez eu esteja errado, não sei. Tenho estado ocupado demais tentando ser feliz do meu jeito, à minha maneira.

Reges Medeiros
Enviado por Reges Medeiros em 20/02/2013
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