A Espera
Dormia, confiado, em seu regaço. A cabeça apoiada nas coxas e o corpo alongado até ao limite do banco. Com os olhos na distância e as mãos, leves como penas, a emoldurar-lhe o rosto, ela zelava para que nem os insetos perturbassem o descanso do homem. Fazia calor. Era pouco o que sobrara da penhora e, o que havia de jeito, estava no saco de lona que desaparecera. A cidade, enorme e assustadora, fora o desafio mas nenhum dos dois sabia por onde começar a desbravar o caminho. Há muitas horas que ali estavam a tomar coragem para sair da Rodoviária. Quando ele abriu os olhos achou os dela, tranquilos. Era ali que estava a sua força e a determinação de continuar. – Não temos nada, disse ele. _ Temo-nos um ao outro respondeu ela. Vamos. Sem a bagagem vai ser mais fácil caminhar.