O amor é mudo
Eu me revelo na leitura de poesias de amor, e mesmo que os poemas terminem após algumas linhas, são palavras em estado de silêncio profundo... interior. E eu sei exatamente que preciso delas, que elas preenchem o vazio de meus dias. Acho que essa mistura de sentimentos pela poesia é o que mais me encanta em Luís quando o vejo nos saraus literários, às quintas-feiras, na Rua Benjamim Constant, no centro de Teresina.
Durante muitas noites tenho pensado nas palavras que saem da boca dele quando lê versos como os de Vinícius de Moraes:
“Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
Seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos”
Nunca falei com ele. Por quê? Também não o sei. Questiono-me e digo a mim mesma: “Seja mais ousada, aproxime-se com um brilho no olhar, deixe-o perceber que você se realiza no sabor do sentido das palavras que ele diz”. Sei, sei, eu sou um fracasso em termos de sedução.
Num tempo em que as mulheres são quase objeto sexual e o amor peça (infelizmente) descartável para muitos amigos meus, eu me acho numa mistura de medo e excitação... Como se um caminho novo surgisse diante de mim. Toda vez que Luís fala, eu me encontro como que hipnotizada por aquele jeito de ele valorizar o amor, de falar de amor.
“O que você ousou pensar?!”, pergunto-me numa ocasião dessas.
“Eu sou uma mulher romântica e bonita, o ideal para ele”, respondo-me.
“Certamente que sim!”, diz-me uma voz interior, com um tom de indagações.
“Ainda não estou pronta”, é minha resposta.
Eu sei do que sou capaz. Conheço-me tão profundamente que fico quieta e pensativa na cadeira. E eu que ultimamente tenho andado agitada, como uma adolescente, ansiosa, desejosa de me apaixonar! Meus amigos até acham que eu estou namorando... Ou que tenha um caso secreto, sei lá... algo no gênero! Mas afasto esses pensamentos e me faço novamente com os mesmos receios e me calo então.
Ahn, eu sei que é estranho uma mulher de vinte e nove anos viver com esse tipo de problemas. Porém, quando eu me encontro perto deste homem minha cabeça fica sem compreender o que faço. Segundo uma amiga, eu sou apenas uma figurinista nestes saraus. Entretanto, de todos os presentes eu sou a pessoa que mais me deleito com o prazer dos versos de amor.
Mas como superar o obstáculo para o sentir supremo da impregnação das palavras dele em minha pele? Meu medo de ser notada por Luís não vai ser superado? Ora, eu o quero, porém a simples ideia de ele vir a sabê-lo é uma tortura em meu corpo. Exige de mim uma coragem de olhá-lo, de dirigir-lhe a palavra... de ouvi-lo falar-me... aquela voz como pecado de amor... Eu, eu...
Resolvo levantar um pouco.
“Covarde!”, diz-me minha voz, “Você vai é para casa, pensando no caminho como seria estar com ele, beijá-lo... amá-lo!”
“Sim, eu sou covarde... eu sou covarde... sou covarde... covarde!”
Repito essas palavras por um bom tempo à noite antes de dormir. Mas não consigo deixar de pensar como seria estar nos braços dele. Se choro nessas ocasiões? Sim. E me condeno por não me permitir descobrir se Luís gostaria de uma mulher mais jovem. Penso e penso e durmo com a cabeça cheia de ideias. E me peço perdão, silenciosamente, por amar assim...