ENTRE O ABORTO E O DESPREZO

 
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O aborto é crime e hediondo.
Homicidio contra um ser indefeso.
Cruel que não mata é o desprezo.
Um é fatal e o outro pode ser longo.

- Mãe! São poucos dias... Tem um remédio que resolve isso.
Estrela nunca sequer imaginou que um dia passaria por isso. Ficou atordoada ao ver sua filha caçula sugerindo tamanha insensatez. O tremor lhe invadiu até a alma. Olhou bem dentro dos olhos daquela menina tão inocente, mas com tamanha crueldade em suas palavras. Apegou-se ao argumento de loucura momentânea de uma criatura desesperada e devolveu-lhe com a mesma intensidade louca.
- Olha bem dentro dos meus olhos, filha. Vou falar uma vez somente... Preste bem atenção, porque estou séria e muito furiosa. Caso resolva cometer esse homicídio, nunca mais conte comigo... Não vou te apoiar em nada mais e esquece que um dia já teve uma mãe...
- Mãe, eu tenho apenas dezesseis anos... Não estou preparada.
- Filha! Farei o que tiver ao meu alcance para ajudar você, mas não pense que cometendo um erro maior você vai corrigir esse. Você me conhece o suficiente para saber o quanto abomino essa ideia terrível de abortar, qualquer que seja a situação. Você conhece minha história, sabe que jamais faria isso.
- Mas tenho os estudos... Não sei nada sobre esse assunto... Estou desesperada, mãe.
- Você é inteligente e forte; tem uma mãe presente, disposta a tudo para proteger você... Levante suas mãos e agradeça a Deus, pois pouquíssimas têm o amor de uma mãe nesses momentos tão difíceis.
A filha de Estrela expõe um sorriso tão convincente... Não havia mais olhares apavorados, lágrimas de insegurança. Abraçou Estrela transferindo-lhes códigos de confiança e muita gratidão.
Estrela aproveitou para comemorar, pois sonhava com um presente assim. Só não imaginava que sua filha caçula seria a escolhida para lhe dar esse primeiro presente da natureza.
Então em seus pensamentos lembrou-se de sua tão conturbada primeira gravidez e de uma carta que o pai do menino dizia: “Sinto muito amor, mas acho uma loucura continuar com esse projeto, não estou preparado para ser pai novamente”.
Essas palavras soaram ameaçadoras e Estrela logo entendeu que teria que continuar “o projeto”, sozinha. Nunca permitira que alguém sequer indagasse alguma possibilidade de aborto.