Rosa na rodoviária

Ele estava com a sua inseparável mochila, e nela presa uma rosa vermelha solitária, contava os segundos vendo apenas os ônibus passarem, e nada passava na sua cabeça.

Alguns metros atrás ela estava sentada, também esperando um ônibus, mas observando as pessoas, era um vai-e-vem tão desordenado e constante, aquele rapaz com uma rosa na mochila parecia destoar da multidão, e de repente não havia um detalhe naquela imagem que ela não notasse, o jeans surrado, o tênis desamarrado, a passagem apertada entre os dedos, a mochila despojada, o cabelo bagunçado...

Ele continuava impassível àquilo que era meticulosamente observado e arbitrariamente processado por ela, tudo era como uma pista do ser daquele garoto, mas não a rosa, ela hesitava em dar um motivo à existência daquela rosa e ansiava por mais informações, ele era seu quebra-cabeças.

Ao esgotar suas observações, ela foi até ele e um pouco tímida perguntou se o ônibus dele era o mesmo dela, não era, ele desatou a falar, foi primeiro seu destino e depois sobre o atraso do ônibus, sobre a viação, sobre as corporações e a política... tudo para ele era aquele atraso insuportável, enquanto isso ela estava mais interessada nos detalhes, eram tantos até que ele a interrompeu perguntando se ela o ouvia, e sim, ela o ouvia e apenas não falava nada, pois num instante ela esperava pacientemente seu ônibus como de costume toda sexta, e no outro ele, era como se ele fosse feito de areia e ela quisesse analisar cada grão.

Ele apenas estava ali com ela, mais uma personagem da rodoviária, entediante, era como se ela não se distinguisse da paisagem, não havia nada que prendesse sua atenção, apenas tinha vontade de partir.

Nisso eles ficam frente a frente, ele cansa de falar e o silêncio reina, ele não se importa se ela está a olha-lo, até que ela percebe a situação e sente um misto de vergonha e culpa, decide então e pergunta sobre a rosa, mas quando ele ia responder o ônibus chega, e diz a ela do ônibus dele, a beija no rosto e parte.

Ela volta ao lugar onde estava sentada, sentia um vazio, nunca mais saberia sobre a rosa, nem o veria, estava tão curiosa para saber tudo sobre ele que ele partiu. Depois disso ela se dá conta do que fazia na rodoviária, pelas pessoas que não estavam mais lá sabia que tinha perdido o seu ônibus, no entanto ele havia perdido a rosa, estava caída no chão exatamente onde ele estava, ela apanha a rosa e dedica a ela todo o cuidado que daria a ele, agora ele era apenas aquela rosa na rodoviária.