O AMOR PROIBIDO
  
Na vida devemos lutar por nossos ideais, por nossos sonhos, e porque não dizer pelo nosso amor. A todo custo tentar ser feliz ao lado da pessoa que se ama. Mas e se, somente se, não for aquela pessoa que vai te fazer feliz? Somente o futuro responderá suas dúvidas e, para saber do futuro somente vivendo o presente.
No ano de 1997, Sofia, uma linda mulher, com seus 27 anos. Pele branca, loira, cabelos longos, com seus belos atributos que a ser avistados pelo mais simples dos homens já a desejavam. Aquele padrão europeu de mulher. Sendo brasileira e filhas de italianos, vivia numa pequena cidade do sul do Brasil. Sofia, a quarta e última filha do casal era uma pessoa simples, formada em arquitetura, a responsável por quase todas as reformas dos vizinhos e amigos da família. Era simples, mas notada por todos. Sempre sorridente e por onde passava deixava sua marca, a presença da alegria e um toque de fraternidade.
Certo dia, à mesa do jantar foi cobrada pelos presentes: quando iria se casar, pois seus pais queriam ver a cara de um netinho proveniente daquela bela filha. Ela como sempre sorridente respondia que ainda não havia encontrado o seu amor, o amor da sua vida. Aquele homem que iria terminar seus dias ao lado dele. Quem sabe no próximo verão na festa da cidade poderia encontrar a pessoa, já que poucas vezes saía para se divertir - assim respondeu.
Passados alguns meses e chegado o grande evento da cidade, Sofia não perdeu tempo, juntou-se às amigas e foi aproveitar o festival da cidade. Não bebia, não fazia uso de qualquer droga, costumava sentar-se e ver o povo. Com as amigas tomavam uma espécie de ponche, uma bebida produzida pelas senhoras da cidade, era a pedida mais chique.
Lá pelas tantas da noite estrelada, boa música, os eventos acontecendo, ao fundo o som do animador da festa falava os nomes dos presentes, comentava alguns convites e havia um sistema de “recados do amor”, lembrando as festas do padroeiro da cidade. Quando inesperadamente se ouve o nome de Sofia. Alguém encantado com sua beleza estava oferecendo um diminuto verso para ela, que assim dizia: “Sofia, Deus fez as estrelas para contemplarmos o céu, e fez você para contemplarmos a terra”. Nossa, a moça ouviu e foi o comentário entre os amigos, quem seria o poeta. De sorte que ninguém conseguiu descobrir o rapaz, não se sabia se era alguma brincadeira ou se de fato alguém interessado pela bela Sofia.
Passados alguns dias do evento, Sofia sequer lembrava mais do fato, quando recebeu em seu escritório doze rosas vermelhas, e em cada uma delas uma mensagem de amor, alguém que tivesse feito tal trabalho foi bem caprichoso, cuidando para que Sofia ficasse impressionada com toda aquela dedicação.
Mas quem seria aquele homem carinhoso e que buscava impressionar Sofia. Ela não conseguia imaginar, e no pequeno cartão que acompanhou as rosas uma menção do verso declamado pelo locutor da festa.
Sofia passou a viver um sonho, queria descobrir de quem se tratava, quem seria aquele homem com gestos tão nobres? Bom, cedo ou tarde ele deveria aparecer e dizer das suas intenções. Passados alguns dias novamente recebeu algumas rosas, dessa vez amarelas e com elas uma justificativa em prosa e um verso sobre o amor, assim como a justificativa pela cor das rosas.
Desde essa época Sofia passou a viver um sonho, e a se questionar se aquela seria a sua oportunidade de casar, ter filhos e ser feliz junto com toda sua família. Certo dia ao se dirigir a um local de lavagens de veículos, deixou o carro pra lavar e foi até uma pequena praça para aguardar. Aproveitou tirou da bolsa um livro e começou a ler uma bela história de amor. Como sempre, depois que começou a receber rosas e outras correspondências, passou a ser a mulher mais interessada pelo amor, seus gestos, suas conversas, tudo girava em torno do amor.
Sentada no banco da praça quando se aproxima uma pessoa e pergunta se haveria algum problema ele sentar-se junto a ela, gentilmente ela respondeu que não, que o local era público e não estava reservado. Com um ar de riso aponta para o assento. O cavalheiro então senta-se e diz a seguinte frase: “Deus é perfeito, fez o homem à sua imagem e semelhança, mas também fez algumas mulheres tão belas que ao se ver seu pensamento vai direto para Deus, pois são a perfeição na terra criada por Ele”. Sofia sentiu um calafrio, aquela era uma das frases que havia recebido dias antes do seu gentil poeta.
Virou-se para aquele homem que sentado estava ao seu lado e perguntou: é você quem me envia rosas e cartas de amor? Ele respondeu: sim, me perdoe por tais gestos, mas foi a única forma que encontrei de dizer que você é a mulher que Deus me mostrou para ser a mãe dos meus filhos! Sofia tremia dos pés a cabeça, mal conseguia balbuciar algumas palavras, presente estava aquele que a impressionou com tanta gentileza e amor, agora, ali naquele lugar ela podia olhar nos olhos de quem com palavras tão amorosas expressava seu amor. Em todas as mensagens que recebeu podia ver a verdade dos sentimentos expostos, não poderiam ser falsos, quem as escrevia se despia de toda e qualquer segundas intenções, era sincero, sem subterfúgios, demonstrava quem verdadeiramente era.
Gentilmente ele pega em suas mãos e pergunta: você quer ser minha esposa? Sou advogado, já comprei minha casa, tenho meu próprio escritório, vivo sozinho aqui, nunca me envolvi em confusões, não tenho nenhum tipo de doença e desde o dia que te vi não consigo me imaginar com outra mulher, se não for você viverei solteiro o resto da vida! Sofia com mãos trêmulas, se tivesse em pé cairia ao chão, perplexa, mas envolta por um sentimento inexplicável, sentia algo estranho, algo de bom com relação aquele homem e se questionava: será que chegou a hora? Será que é ele o meu príncipe encantado? Repentinamente meio que por impulso decidiu, iria aceitar, que mal teria em viver um grande amor, no máximo poderia desistir depois e dizer que foi um terrível engano, mas estava decidida iria arriscar.
Ali começou um lindo amor entre dois seres humanos, simples, mas que muitas vezes notado por outros que podiam presenciar a gentileza, dedicação e reciprocidade entre eles, viviam em outro mundo, o mundo do amor.
Depois de alguns meses namorando, e firme de suas vontades, decidiram então oficializar o noivado e marcar o casamento. Sofia combinou com sua mãe e marcaram um jantar para o anúncio, afinal de contas a família precisava conhecer e também avaliar o futuro esposo. Marcado o dia todos ansiosos era chegada a hora dos pais e familiares darem o seu aval a tão invejado amor.
Por volta de oito da noite todos já aguardavam, quando João chega e é levado por Sofia para conhecer seus pais. Todos à mesa conversavam informalmente esperando servir o jantar, quando Sofia entra e trazendo João pelo braço o apresenta. As falas emudeceram, todos se olhavam, o pai de Sofia ficou vermelho, depois passou a branco, os lábios secaram, enfim o homem tremia, ficou ofegante, parecia que iria morrer ali mesmo, tudo isso porque João era negro, ele não acreditava que sua linda filha havia escolhido casar-se com um negro. Com muito jogo de cintura Sofia conseguiu convencer sua mãe a realizar o jantar, mas rapidamente houve uma verdadeira dispersão dos presentes, ficando apenas João e Sofia, sofrendo pela clara discriminação dos familiares.
No dia seguinte, cedo, os pais estavam acordados e esperavam Sofia levantar-se para falar-lhe. Quando ela adentrou na sala o pai foi duro, a questionou de todas as formas, ao final já quase gritando a condenava e dizia que ela o queria humilhar, colocando a mão sobre o peito demonstrava um problema no coração, mas Sofia ouviu tudo e nada retrucou, perguntou se ele havia terminado e disse apenas a seguinte frase: eu sou livre, tenho desejos e direitos, também estou decepcionada com o senhor que diz ser religioso, serei feliz e viverei o amor da minha vida, embora o senhor não aceite.
Sofia, às lágrimas, foi em direção garagem, pegou seu carro e foi embora, nunca mais voltou, nem pra buscar suas coisas, foi viver o seu grande amor. Casou, teve dois filhos: João Jr e Maria Sofia, foi morar com seu esposo no Rio de Janeiro, em Rio das Ostras, é feliz e atualmente coordena os negócios do marido.
Passados todos esses anos, sempre que tem uma oportunidade conta sobre sua vida, seu amor, e as dificuldades que passou com a família.
Seu pai faleceu há alguns anos, sempre pedia perdão, mas Sofia não acreditava nas suas palavras. Sua mãe ainda vive, ama os netos e sempre que pode vai visitá-los, os irmãos já fizeram até uma reunião para dizer a João que nunca o discriminaram e queriam que sua irmã fosse feliz ao lado dele.
Assim aconteceu o dia que o amor proibido venceu a discriminação.