William,
Como sabe estou na Grécia trazida pelas suas mãos habilidosas de piloto. Aqui vai a carta que você pediu como resposta, estou escrevendo-a um tanto apressada. Desculpe a demora, estando em viagem não tive como postar antes e você também sempre viajando não a receberia logo mesmo. Como sabe, a Grécia fascinou -me tanto que ainda estou aqui, mais tempo do que o necessário. A cidade de Atenas é maravilhosa, neste lugar não se deve procurar nada, apenas deixar-se tomar pela beleza do que se vê em cada canto, desfrutando disso tudo sem nenhuma pressa. Sempre encontramos algo que satisfaça ao coração e olhos de turista.
Mas como disse antes, não enviei a carta por deslumbramento da viagem e também depois de aqui estar pude perceber tudo claramente em meu interior, pensei muito antes de escrever-lhe. Assim respondo-lhe que não dá mesmo para levar adiante nosso mal iniciado romance. Nada temos a ver um com o outro. Sou da água e você do ar, somos muito diferentes mesmo, por isso resta-me dizer adeus, aproveitando aqui a inspiração doada por estas paisagens tão lindas, onde os ventos tocam cítaras como anjos e sei que você não as perceberia, pois é insensível a estes fatos.
Adeus!
Enquanto ela escrevia e envelopava a cartinha, numa época em que isso era comum - pois meios de comunicação não eram tantos - o avião que ele pilotava em outra de suas longas viagens internacionais sofreu uma pane e caiu causando grande comoção ao mundo todo. A carta de despedida não foi enviada.
De fato, eram diferentes - ele, do ar, em comando de grandes aeronaves- e ela, da água, mergulhada em sonhos de moça romântica.
Agora, anos depois, ela é do ar, sempre envolta em nuvens onde vagam seus pensamentos e ele é da água, onde jaz seu corpo eternamente mergulhado no oceano.
28/01/13