Meu pequeno príncipe
- É claro que eu te amo.
É assim que a Rosa se despede do príncipe. E foi assim que me despedi de você. Quando você já estava saindo pela porta, sofrimento nos olhos e malas nas mãos, eu sentada no sofá não consegui pensar em mais nada pra dizer.
Você parou, com a mão na maçaneta, cabeça baixa, quase encostava no peito e abriu a porta. Devagar, como se quisesse desistir, ou dizer alguma coisa.
Me adiantei: não gosto de guardar coisas para mim mesma e depois imaginar o que poderia ter sido:
- Meu problema foi não saber demonstrar. Mas a culpa é sua também. Nenhum de nós soube amar direito.
Acho que era exatamente isso que o príncipe deveria ter ouvido de sua rosa.
Sua obrigação era me amar. E não apontar meus defeitos. Não era me mostrar o quanto eu era chata quando acordava cedo, nem como eu era vaidosa em excesso toda vez que a gente saía, nem me dizer: por favor, não usa essa roupa. Você tinha apenas que me amar.
E eu tinha que amar de volta, assumo. Não tinha nada que te diminuir por causa desse seu cabelo que nunca fica arrumado, eu não era sua mãe pra te dizer o que fazer. Eu não deveria ser tão orgulhosa.
Mas eu precisava dizer. Dizer TUDO pra não ficar com aquele bolo gigantesco na garganta de coisas que nunca saíram.
Você virou pra me encarar, como se tentasse descobrir que parte daquilo que eu havia dito era verdade. Talvez tenha refletido as mesmas coisas que eu mesma refleti naqueles momentos tão pequenos.
Acho que sim, porque você disse:
- É impossível amar alguém incondicionalmente. Pelo menos eu não consigo. Não poderíamos viver com tantos defeitos dos dois lados.
- Viveríamos se ao menos tentássemos, mas se vamos deixar de olhar aquilo que amamos pra só olhar aquilo que odiamos... – a resposta saiu igual a um jato na sua cara.
- Eu amei mais do que odiei.
- Seus atos dizem o inverso. Se me ama por que vai? Quando descobrir que enfim quer voltar (como o príncipe, eu pensei) você não saberá se de fato eu te espero. Talvez nunca consiga voltar.
Mas você saiu e fechou a porta. Será que você volta? Com um carneiro numa caixa de presente e uma mordaça para que ele nunca me faça mal? Ou terá a Terra muito mais coisas a te oferecer que nosso pequeno mundinho particular?